No Senado Lula comparou a importância de Sarney durante a Constituinte ao trabalho de Ulysses Guimarães
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou, em discurso no Senado nesta terça-feira, o trabalho do senador José Sarney (PMDB-AP) na presidência da República durante a elaboração da Constituinte de 1988. Lula - ao dizer que Sarney nunca levantou "um único dedo" para atrapalhar os trabalhos do Congresso Nacional - afirmou em seu pronunciamento que a imprensa "avacalha" a política brasileira.
"Ulysses (Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte) certamente coordenou com maestria, numa situação muito difícil, porque o PMDB tinha 23 governadores de Estado e 306 constituintes. Sozinho, podia fazer o que queria e tenho consciência que o senhor (José Sarney) não teve facilidade,e muito menos moleza. E quero colocar sua presença na Presidência no momento da constituição em igualdade de forças com o companheiro Ulysses. Porque em nenhum momento, mesmo quando o senhor era afrontado no Congresso, o senhor não levantou um único dedo para colocar qualquer dificuldade aos trabalhos da Constituinte, e certamente foi o trabalho mais extraordinário que esse Congresso já viveu", disse o ex-presidente, opositor de Sarney na época da elaboração da Carta Magna.
Lula e Sarney receberam nesta terça-feira a medalha Ulysses Guimarães, criada pelo Senado para homenagear pessoas que contribuíram com a Constituição de 1988, que completou 25 anos no início do mês. O petista era deputado constituinte por São Paulo, enquanto o peemedebista assumiu a Presidência do Brasil após a morte de Tancredo Neves.
Afirmando ter sido um deputado constituinte "impetuoso", Lula elogiou a postura de Sarney frente aos "desaforos" da oposição que ele integrava. "Eu quero lhe dizer claramente que o senhor merece minha homenagem por seu comportamento digno como presidente, de permitir que nós disséssemos todos os desaforos que pensávamos que tínhamos o direito de dizer ao senhor e o senhor não se sentiu afrontado por isso. Ao chegar à Presidência da República, as pessoas precisam estar preparadas para saber que não são donos do Brasil, são apenas donos de um mandato com data de chegada e de saída", disse Lula.
Repetindo o discurso que tem adotado desde as manifestações de junho, o petista disse que a negação da política pode levar o País a regimes autoritários. "Na história desse País, se a juventude lesse a biografia do Getúlio Vargas, do Juscelino Kubitscheck e outras biografias, provavelmente as pessoas não iam desprezar a política e muito menos a imprensa ia avacalhar a política como avacalha hoje. Não há nenhum momento da história em nenhum lugar do mundo que a negação da política tenha trazido algo melhor que a política. O que aparece sempre quando se nega a política é um grupo praticando, na verdade, ditadura", afirmou.