Ex-presidente sugere que Centrão pode abandonar Bolsonaro em nome de palanques estaduais
POR YALA SENA E JOÃO PEDRO PITOMBO
TERESINA, PI, E SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) minimizou a aliança entre o PP e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e disse acreditar em um rompimento próximo entre o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP e ministro da Casa Civil, e o chefe do Executivo.
"Eu não sei por quanto tempo o Ciro [Nogueira] ficará com Bolsonaro. Não tenho nenhuma certeza. Acredito que esse casamento será mais curto do que se imagina", disse o ex-presidente em Teresina (PI), segunda parada na viagem por seis estados do Nordeste.
Presidente nacional licenciado do PP, Ciro Nogueira foi nomeado oficialmente ministro da Casa Civil no final de julho com a missão de melhorar a articulação com o Congresso Nacional, onde tem bom trânsito por ter passado 16 anos na Câmara e outros 10 anos no Senado.
Em entrevista à imprensa, Lula afirmou que Ciro Nogueira deve perder força e disse acreditar que o senador piauiense representa para Bolsonaro o mesmo que ex-senador Jorge Bornhausen foi para o ex-presidente Fernando Collor.
Bornhausen foi nomeado para a Secretaria de Governo de Collor em 1992 com a missão de assumir a articulação política e debelar a crise política que terminou desaguando no impeachment do então presidente.
"O Bolsonaro levou Ciro [Nogueira] para o governo como se fosse um deus para salvar a articulação política dele. Eu quero dizer que um governo que se comporta como o presidente Bolsonaro não terá sustentação no processo eleitoral ", disse.
Ex-presidente Lula e o ministro Ciro Nogueira
Ciro Nogueira, que foi aliado político de Lula e Dilma Rousseff (PT), tem reafirmado seu apoio a Bolsonaro e descartou conversas com petistas. No Piauí, ele é adversário do governador Wellington Dias (PT), com quem rompeu no ano passado, e é pré-candidato ao governo em 2022.
Na entrevista em Teresina, Lula ainda indicou que trabalhará para trazer membros do PP para o seu palanque em 2022. Disse que tem mantido conversas com líderes dos partidos em vários estados, citando como exemplo São Paulo e Pernambuco.
Nesta semana, Lula já conversou com líderes do PP em Pernambuco. O deputado federal Dudu da Fonte é aliado do governador Paulo Câmara (PSB) e tenta se cacifar para disputar o Senado em 2022 com o apoio de Lula.
Na próxima semana, ele vai participar de um jantar na Bahia com a presença do vice-governador João Leão, presidente estadual do PP na Bahia e aliado do governador Rui Costa (PT).
No Nordeste, o PP também é aliado do governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e do governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD).
Também há um movimento de aproximação do partido com o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), que articula para ter o apoio de Lula em sua tentativa de reeleição no próximo ano.
À reportagem a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffman (PR), afirmou que o PT ainda não começou as articulações para as eleições, mas disse que Lula tem aproveitado a agenda no Nordeste para retomar o contato com líderes partidários.
Também disse que, mesmo que não tenha o apoio formal de siglas de centro e da centro-direita, o partido trabalhará para costurar alianças regionalmente.
Na mesma linha, Lula afirmou que os partidos do chamado centrão, bloco parlamentar que apoia Bolsonaro e inclui siglas como PP, PL e o Republicanos, não devem definir em conjunto as estratégias para 2022.
"O centrão não vai agir enquanto partido político no processo eleitoral. Quando chegar a campanha de 2022, quando chegar no mês de março, abril, junho, cada partido irá pensar como está sua tribo no seu estado. Estou cansado de ver presidente da República serem rifados", afirmou o petista.
De Teresina, Lula seguiu nesta quarta-feira (18) para São Luís, no Maranhão, onde será recepcionado pelo governador Flávio Dino. O ex-presidente ainda passará por Fortaleza, Natal e Salvador, onde encerra a viagem na próxima semana.
Lula sugere que Centrão pode abandonar Bolsonaro em nome de palanques estaduais
Em mais um dia de compromissos no Nordeste, seguindo um cronograma de viagens para costurar alianças em torno de sua candidatura ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu nesta quarta-feira, 18, que o Centrão pode deixar o presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2022 de olho nas articulações políticas estaduais.
"O Centrão não é um partido político. Eles não agem em bloco na campanha. Quando chega perto da eleição, eles vão olhar a situação no seu estado. Bolsonaro já perdeu o voto impresso, perdeu o distritão e passou a federação. Ele não terá a sustentação que ele pensa na campanha", declarou Lula, em coletiva de imprensa em Teresina, Piauí.
Nos últimos dias, o petista tem reforçado acenos a figuras do chamado Centrão e, assim, pode desmobilizar parte do apoio a Bolsonaro. Na agenda do "tour" na região do País em que é mais popular, Lula esteve, na última segunda-feira, com os deputados federais Eduardo da Fonte, presidente do Progressistas em Pernambuco, e Silvio da Costa Filho, filiado ao Republicanos.
Em termos nacionais, porém, as duas legendas são da base de apoio do presidente - o Progressistas, inclusive, já chegou ao "coração do governo", desde que Ciro Nogueira (Progressistas) tornou-se ministro da Casa Civil. O presidente nacional do partido, André Fufuca (MA), já declarou que dará autonomia aos diretórios estaduais em 2022.
Ainda na coletiva em Teresina, Lula defendeu que o PT e outras siglas "democráticas" lancem o maior número de candidatos nas próximas eleições. "Não é possível governar se não tiver uma maioria de deputados", declarou o ex-presidente, um dia depois de a Câmara chancelar a volta das coligações proporcionais, dispositivo que amplia o leque de alianças dos partidos. O texto aguarda apreciação do Senado.
Lula também se reuniu ao longo da semana com figuras da esquerda nordestina, como a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos. Ao Broadcast Político, ela ressalta que Lula "está convencido" de que é preciso dialogar com muitos interlocutores e lideranças. "É preciso formar essa frente contra Bolsonaro", afirma. Luciana, que também é vice-governadora de Pernambuco, pode assumir o comando do Estado no ano que vem, caso o governador Paulo Câmara escolha concorrer a uma vaga no Senado.
O prefeito de Recife, João Campos (PSB), que venceu a prima Marília Arraes (PT) em uma campanha "sangrenta" em 2020, e o deputado federal Túlio Gadelha (PDT-CE), correligionário de Ciro Gomes, também estiveram com o petista.