Mercadores de ilusões e fabricantes de pesquisas eleitorais travestidos de marqueteiros, entregam tudo na hora do aperto
Por Edson Rodrigues
Não é à toa que nas faculdades de Publicidade e Marketing os professores corrigem os alunos que dizem ter o sonho de ser “marqueteiros”, explicando que essa profissão não existe. Pois, agora, confirma-se que, de acordo com Nelson Rodrigues, dramaturgo famoso por suas frases ácidas, marqueteiro é pior que mineiro, pois, segundo Nélson Rodrigues, o mineiro só é solidário no câncer.
O caso é que a corrupção é o maior “câncer” do cotidiano brasileiro e, no meio das investigações, os marqueteiros se especializaram em entregar de bandeja a cabeça de quem lhes encheu os bolsos.
Os dois maiores expoentes das campanhas eleitorais nos últimos tempos, no Brasil, Duda Mendonça e João Santana, mostraram que, realmente, a verdadeira definição desse tipo de profissional é “alcaguete”, “dedo-duro”, “traíra” e “Judas”, pois à menor pressão da Justiça soltaram a língua com gosto, entregando, levianamente, a tudo e a todos, como se fossem meros coadjuvantes nas histórias de corrupção e não tivessem, eles, também, amealhado e lavado milhões e milhões de reais.
Talvez essa postura venha das penas consideradas leves imputadas a Duda e a Santana, após serem pilhados com a mão na massa e contas no exterior.
Ou, talvez, a atitude seja, mesmo, inerente a esse tipo de profissional, em que alguns não têm o menor escrúpulo em alterar resultados de pesquisas eleitorais, em montar prestações de contas fraudulentas para as campanhas que comandam, ou em cobrar milhões por um serviço de eficiência incerta e, em caso de vitória dos seus “produtos”, ainda montam empresas de fachada para continuar a encher os bolsos de dinheiro.
Agora, ficou claro que marqueteiro não é amigo de ninguém, apenas do seu bolso. Chegam aos estados capitais de salto alto, não aceitam profissionais locais em suas equipes para não repassar o know-how de como corrompem as empresas para superfaturar valores de material eleitoral. Basta ver o que João Santana acaba de fazer com a ex-presidente Dilma Rousseff, ao entregar para a Justiça que ela o avisou da prisão dele e de sua esposa, ou seja, o cara ganhou milhões, montou empresas para trabalhar durante o governo de Dilma e a entrega depois que ela tentou ajudar a ele e à sua família.
É premente que a Justiça passe a julgar os marqueteiros com a mesma voracidade cm que julga os políticos corruptos, pois os crimes são os mesmos, apenas um contrata e o outro planeja e executa e, quando dá certo, a farra continua.
OS “EXEMPLOS”
É óbvio que não podemos generalizar. De cada 100 grandes marqueteiros, pode-se tirar um para fazer o papel de honesto. Mas depois das revelações feitas pela revista VEJA desta semana, em que Duda Mendonça e João Santana entregam os esquemas de corrupção até em governos internacionais aos quais foram indicados, fica difícil encontrar esses honestos, nem mesmo com uma lanterna, como fez o filósofo grego Diógenes de Sinope, há 2.000 anos.
As revelações de Duda e Santana, publicadas por VEJA, ganharam destaque no noticiário da Colômbia e do Chile. Em proposta de delação premiada feita à Procuradoria-Geral da República, os dois publicitários se colocaram à disposição dos investigadores da Operação Lava-Jato para revelar detalhes de como as construtoras OAS e Odebrecht financiaram clandestinamente as campanhas presidenciais no Brasil e no exterior.
Na Colômbia, a rede de televisão Caracol, a revista A Semana e o jornal El Tiempo, entre outros veículos, destacaram as revelações de Duda Mendonça. De acordo com a proposta de delação do marqueteiro, a Odebrecht bancou as despesas da campanha presidencial de Óscar Zuluaga, candidato do ex-presidente Álvaro Uribe em 2014. A reportagem de VEJA conflagrou um debate no país. Colocado sob suspeita, Zuluaga marcou uma entrevista coletiva para esclarecer que, embora tenha contratado Duda Mendonça e se reunido com um representante da Odebrecht em São Paulo, não teve conhecimento de qualquer pagamento extraoficial feito pela empreiteira brasileira.
No Chile, as revelações de Duda Mendonça, segundo as quais a construtora OAS financiou as campanhas presidenciais tanto de Michelle Bachelet como de Enríquez-Ominami em 2013, repercutiram nos principais veículos do país como CNN, Canal 9 Bio-bio Televisión, Tele13, La Nacion, La Tercera, El Libero, entre outros. Após VEJA trazer à tona detalhes da proposta de delação do marqueteiro, parlamentares chilenos disseram que irão solicitar a ampliação das investigações relacionadas à campanha de Ominami para a de Bachelet. “Queremos pedir que a investigação se estenda à presidente da República”, disse Paulina Núñes, do partido RN (Renovação Nacional).
Em seu site, VEJA ainda revelou que Duda Mendonça não é o único a mencionar Bachelet em sua proposta de delação. O ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, também reservou um capítulo de colaboração para contar detalhes dos bastidores das campanhas no Chile. “As revelações de Léo Pinheiro não ficam bem para a Bachelet”, disse um dos investigadores da Lava-Jato.
No Brasil, mesmo após vir à tona as revelações de Duda Mendonça e João Santana, responsáveis pelas campanhas de Lula e Dilma Rousseff, não houve qualquer manifestação dos ex-presidentes petistas. Dilma, que é acusada por Santana de ter vazado informações sigilosas da Lava-Jato, preferiu não se manifestar. De acordo com a proposta de delação do publicitário, que coordenou a eleição e reeleição de Dilma, a ex-presidente o avisou que ele e sua mulher, Mônica Moura, seriam presos pela Polícia Federal em Curitiba. Santana, condenado pelo juiz Sergio Moro nesta quinta-feira a oito anos e quatro meses de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro, também confirma que a campanha da petista foi financiada com caixa dois da Odebrecht.
O BIG BROTHER ELEITORAL
Depois de tantos escândalos, é certo que o Tribunal Superior Eleitoral, os TREs e a Justiça Eleitoral vão transformar as eleições de 2018 em um verdadeiro Big Brother, com fiscalização 24 horas por dia, com um grupo de fiscais altamente treinados e já sabedores dos métodos e “tradições” de políticos e marqueteiros corruptos e ainda contarão com a ajuda dos próprios políticos, que estarão fiscalizando uns aos outros, ligados em todas as possibilidades de ganhar as eleições, seja no voto, seja na denúncia de irregularidades cometidas por seus adversários.
Ai daqueles que ainda arriscarem fazer caixa dois ou fraudar contas eleitorais.
Quem avisa, amigo é!