Os efeitos colaterais do tsunami político no Tocantins

Posted On Quinta, 04 Setembro 2025 05:21
Avalie este item
(0 votos)

Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues

 

 

As nuvens da política, como bem alertavam Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, mudam de forma e lugar a todo instante. No Tocantins, a nuvem carregada que pairava sobre o Palácio Araguaia transformou-se em um verdadeiro tsunami. O afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), detentor de uma popularidade de quase 80%, por uma decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça (STJ), redesenha de forma abrupta o cenário político e acelera a corrida para 2026.

 

 Mauro Campbell,  ministro do STJ

 

Em abril, este Observatório Político foi taxativo: o então vice-governador Laurez Moreira (PDT) só teria chances reais de chegar ao segundo turno se estivesse no comando da máquina governamental. O que parecia um exercício de futurologia tornou-se, nesta quarta-feira, a mais pura realidade. O ministro Mauro Campbell, relator da Operação Fames-19, determinou o afastamento de Barbosa por 180 dias, e veio pessoalmente a Palmas para empossar Laurez, reeditando o mesmo gesto de 2021, quando empossou Wanderlei após a queda de Mauro Carlesse. A história, por vezes, é irônica em suas repetições.

 

O xadrez sucessório em xeque

 

Este terremoto político gera efeitos colaterais imediatos. A pré-candidatura de Amélio Cayres, presidente da Assembleia Legislativa, que se consolidava sob as bênçãos e a estrutura do Palácio Araguaia, sofre um golpe severo. Embora mantenha o apoio do governador afastado e de um robusto grupo de deputados, incluindo Eduardo Mantoan, cuja esposa, a ex-prefeita de Palmas Cinthia Ribeiro, é cotada para vice, a locomotiva de Cayres perdeu seu principal combustível: a caneta do poder. Wanderlei Barbosa, agora, está proibido de entrar em prédios públicos e de manter contato com seu próprio candidato e demais investigados, uma restrição que transforma seu apoio em um abraço à distância, de eficácia questionável.

 

Senado

Vicentinho júnio e Amélio Cyres em cavalgada

 

Do outro lado, o cenário para o Senado, que já era complexo, torna-se ainda mais nebuloso. O deputado federal Vicentinho Júnior, presidente do Progressistas, vinha costurando uma aproximação com o grupo de Wanderlei e Amélio. A articulação previa uma chapa onde uma das vagas senatoriais poderia ser sua. Com a queda do governador, essa ponte ruiu. A federação União Brasil-PP, presidida no estado pela senadora Dorinha Seabra, pré-candidata a governadora que lidera as pesquisas, já deixou claro que o espaço é restrito, com as vagas sendo disputadas por nomes como o deputado Carlos Gaguim e o senador Eduardo Gomes, que busca a reeleição. O tsunami deixou Vicentinho Júnior à deriva, forçando-o a recalcular sua rota.

 

No entanto, vale ressaltar que Laurez Moreira, hoje governador do Tocantins, foi um dos políticos que prestigiou o lançamento da pré-candidatura do parlamentar ao Senado Federal. O evento aconteceu no último mês em Natividade, durante as festividades do Senhor do Bonfim.

 

Assembleia Legislativa

Deputados estaduais alvos de busca e apreensão da PF 

 

As investigações também atingem alguns parlamentares da Assembleia Legislativa (Aleto). Parte dos deputados foi alvo de busca e apreensão em seus gabinetes, enquanto outros foram chamados a depor na Superintendência da Polícia Federal em Palmas. A PF chegou a pedir o afastamento de parlamentares suspeitos de desviar recursos das emendas impositivas destinadas à compra de cestas básicas na pandemia. O ministro Mauro Campbell, porém, negou a solicitação, determinando apenas medidas cautelares e a continuidade das apurações pelos próximos seis meses.

 

Em nota, a Assembleia Legislativa informou que prestou, “colaboração total e irrestrita” ao STJ e à Polícia Federal no cumprimento de dez mandados de busca e apreensão, disponibilizando documentos, equipamentos e informações solicitadas. A Casa ressaltou ainda que sua Procuradoria Geral não teve acesso aos autos e, portanto, desconhece os motivos que levaram à expedição dos mandados. Informou também que não foi intimada de nenhuma decisão judicial relacionada ao caso.

 

Laurez assume

 

O agora governador Laurez Moreira durante coletiva ontem

 

Empossado como governador interino, Laurez Moreira subiu o tom. Exonerou todo o primeiro escalão e prometeu colocar o Tocantins entre os estados mais transparentes do Brasil. Na coletiva, negou ter qualquer relação com a ex-senadora Kátia Abreu e rebateu acusações de Wanderlei, que o acusara de tramar sua queda: “Quem sou eu para tramar contra alguém? Isso é problema dele com a Justiça”, disparou.

 

O paralelo necessário

 

O tsunami que varreu o Palácio Araguaia não é apenas uma disputa de poder. É reflexo de um sistema político fragilizado por supostas práticas de corrupção, que se repetem como um ciclo vicioso. O Observatório Político de O Paralelo 13 reafirma: a sucessão de 2026 está em aberto, mas será inevitavelmente influenciada pelos desdobramentos da Operação Fames-19. O Tocantins, mais uma vez, terá de decidir entre perpetuar as práticas que levaram a esta crise ou buscar um novo caminho de transparência e credibilidade.

 

 

 

{loadposition compartilhar} {loadmoduleid 252}