O presidente Jair Bolsonaro e seus principais aliados no Congresso Nacional têm mantido reuniões diárias para tentar “alinhavar” uma base de sustentação ao governo no Congresso Nacional.
Por Edson Rodrigues
As reuniões ocorrem no Palácio do Planalto, com a presença de lideranças governistas. Os contatos com os parlamentares estão sendo feitos via aplicativos de mensagens e estão indo a todo vapor, incluindo as mesas-diretoras do Senado, com o presidente Davi Alcolumbre, e da Câmara Federal, com o presidente Rodrigo Maia. Os contatos iniciais têm como intenção abranger tanto os partidos de direita e de centro/direita.
Paralelamente, o Planalto vem tentando abrir um diálogo com os governadores, no sentido de apoio mútuo nesse momento de turbulência máxima. Os governadores, inclusive, aguardam o sinal verde de Brasília sobre o projeto de socorro aos Estados e Municípios, aprovado pela Câmara Federal e enviado ao Senado.
A área econômica já sinalizou que o presidente Jair Bolsonaro deve vetar o projeto, mesmo com estados e municípios ansiosos por sua aprovação, uma vez que a cada dia diminui o tempo para que haja uma recuperação financeira que possibilite o cumprimento das obrigações básicas, evitando uma falência financeira geral, sem possibilidades de pagamento das folhas salariais, que atingiria 90% dos estados e municípios.
Todos esses assuntos estão sendo tratados nas reuniões na Capital Federal como prioridade, pois esse impasse precisa ser resolvido com a rapidez necessária para que se chegue a um entendimento quanto ao apoio ás questões da União.
Uma das pessoas mais empenhadas nessas reuniões é o senador tocantinense Eduardo Gomes, líder do governo Bolsonaro no Congresso.
Eduardo Gomes vem alertando governo, estados e municípios para que mantenham como prioridade número um as medidas de contenção à pandemia de Covid-19, passando à população a segurança de que o governo primeiro irá cuidar da saúde do povo e, depois, da sua própria.
SÉRGIO MORO
Enquanto Bolsonaro articula uma base de apoio, o ex-ministro Sérgio Moro se prepara para enfrentar um exército pitoresco de opositores.
Pitoresco porque serão duas “frentes de ataque”. A primeira – e maior – a dos esquerdistas que o consideram o “inimigo número um”, por suas ações como juiz federal na Operação Lava Jato, que colocaram o ex-presidente Lula na cadeia e condenaram próceres do petismo e empresários renomados e arrestou bens e propriedades. A segunda será formada por novos opositores. Apoiadores radicais do governo Jair Bolsonaro, que não ficaram nada satisfeitos pelo fato de Moro “cair atirando”, quando, em sua coletiva de demissão, fez acusações de interferência do presidente nos trabalhos da Polícia Federal, principalmente nos processos que envolvem seus inquietos filhos.
O embate se dará nas redes sociais, território em que os filhos de Bolsonaro já mostraram ser muito ativos, e de onde há suspeitas de que já começaram a partir os primeiros ataques contra sua honra, que têm como objetivo desconstruir sua reputação e fomentar dúvidas quanto á sua ética na condução do ministério da Justiça e Segurança Pública.
Caso Moro persista na filosofia de fazer de cada entrevista concedida uma delação, os ataques contra ele serão ainda piores pois, como já afirmou o jornalista Alexandre Garcia, criou-se um sentimento entre os governistas de que Moro agiu com premeditação, e que seus ataques à Bolsonaro soam como “facada nas costas” fazendo uma alusão ao atentado contra Bolsonaro durante a campanha presidencial, em que Adélio Bispo “pelo menos”, segundo o jornalista, “deu a facada pela frente”.
A verdade é que Sérgio Moro está em uma encruzilhada, em uma situação em que é muito difícil para qualquer um sair ileso.
Se por um lado tem a simpatia da elite por conta do seu trabalho como Juiz, parte dessa elite é composta por eleitores de Bolsonaro. Moro também tem apoio da classe jurídica, mas os juristas não podem interceder em seu favor para não incorrerem em crime.
Logo, cabe a Moro, como disse o próprio Jair Bolsonaro, provar o que já disse contra o presidente, também sem incorrer em crime.
Ao povo caberá avaliar e analisar a situação, optar pela verdade que mais lhe parecer sincera e decidir se Moro é um “traidor” ou se atuou com isenção e merece ser candidato à presidência em 2022.
ACORDOS
Pelos encontros que vem mantendo com os principais líderes do chamado “centrão”, como Roberto Jéfferson, Arthur Lira, Valdemar Costa neto, entre outros, tudo indica que Bolsonaro mira em um governo de coalizão, para garantir que a qualquer proposta de impeachment passe no Congresso.
Mesmo assim, seu governo iniciará um “sangramento” público, além da óbvia necessidade de estar sempre à disposição dos interesses do “centrão”, jogando por terra uma das principais bandeiras de seu governo, que era o fim da velha política, da troca de cargos por apoio.
Jair Bolsonaro terá que fazer exatamente como fizeram alguns de seus antecessores, como Michel Temer – e que ele afirmava em campanha que faria jamais – para poder continuar como presidente terá que se dobrar às bancadas do Congresso. Collor se recusou a fazê-lo, e caiu. Dilma também se recusou, e sofreu o impeachment.
O caso de Bolsonaro é mais complexo, pois envolve um ex-ministro que é ex-jurista e conhece os meandros de cada processo que interferiu em carreiras políticas.
Ao que tudo indica, não bastarão acordos no Congresso, pois o STF também terá papel preponderante no atual contexto bélico.
O tempo, como sempre, será o senhor da razão e do futuro.
Estamos de olho!