Sucessão Municipal de Palmas: uma “UTI dupla” para vários líderes

Posted On Segunda, 19 Junho 2023 05:11
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Depois do recado das urnas nas eleições majoritárias de 2022, a sucessão municipal de Palmas pode – e vai – significar muita coisa na vida de diversas lideranças que têm na Capital o ponto de partida ou de sustentação de seus projetos políticos. Aqueles que já vem colecionando derrotas nos últimos pleitos, em caso de novo insucesso, podem estar fadados ao esquecimento e à aposentadoria precoce. Por isso o termo “UTI dupla” no título. Além de Unidade de Terapia Intensiva para suas carreiras políticas, uma Última Tentativa do Indivíduo, em fugir desse futuro incerto e longe dos holofotes.

 

Por Edson Rodrigues

 

E as próximas eleições vão marcar a estreia dos políticos “São Tomé”. Aqueles que, mesmo contra todas as expectativas, avisos e prognósticos, vão querer ver para crer que suas carreiras estão próximas do fim.  Dos muitos pré-candidatos que colocaram seus nomes pra jogo, na tentativa de testar suas popularidades e calcular suas probabilidades, a maioria vai sair da eleição municipal direto para o cemitério político.

 

Esse risco é maior para os expoentes políticos que vêm de derrotas recentes nas urnas, como é o caso do ex-prefeito de Palmas, Carlos Amastha e do ex-senador Ataídes Oliveira e dos candidatos a serem apoiados pelo clã dos Abreu, leia-se ex-senadora Kátia e seu filho, o senador Irajá.

 

Senador Irajá Abreu PSD

 

Em outro patamar está o ex-prefeito de Palmas, ex-senador, ex-deputado estadual e ex-secretário de Governo, Eduardo Siqueira Campos, filho do ex-governador Siqueira Campos. Depois de anunciar sua aposentadoria política, Eduardo se viu impelido a disputar a prefeitura de Palmas, muito mais pelos convites de seus amigos, seguidores e correligionários, e pelo momento político que o Tocantins atravessa, do que por uma movimentação natural em sua carreira política. Muito bem avaliado pela população, ótimo estrategista e carismático, Eduardo recolheu o “trem de pouso” da sua pré-candidatura a prefeitura de Palmas e passou a trabalhar nos bastidores, em busca da consolidação da sua pretensão e de uma segurança política estrutural, uma vez que está filiado ao União Brasil, que tem a senadora Dorinha Seabra como presidente estadual e o deputado federal Carlos Gaguim como presidente do Diretório Metropolitano de Palmas.

 

Ex-governador Marcelo Miranda

 

Tanto Dorinha quanto Gaguim apoiam a candidatura de Jand Valcari – que lidera as pesquisas internas de intenção de voto – à prefeitura, e isso não é visto como empecilho para Eduardo Siqueira Campos, que facilmente encontrará abrigo em outra legenda, talvez até o próprio PSDB, que hoje tem a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, como presidente estadual.

 

Deputada Jand Valcari

 

É bom lembrar que, em se tratando de política e, principalmente, de Eduardo Siqueira campos, nada pode ser descartado.

 

Wanderlei e Cinthia

 

Já no caso do governador, Wanderlei Barbosa e da prefeita da Capital, Cinthia Ribeiro, a questão de ser como São Tomé acontecerá de forma diferente.  Os dois são os principais líderes políticos de Palmas, mas têm horizontes políticos distintos, embora partam da mesma premissa: não poderão disputar a reeleição nos próximos pleitos.

 

Logo, os dois precisarão de uma sobrevivência política entre 2024 e 2026, para não correr o risco que todo político sem mandato corre, que é o do esquecimento por parte tanto da própria classe política quanto dos eleitores.

 

Para Cinthia Ribeiro, a melhor estratégia é estar aliada ao próximo prefeito eleito de Palmas, de preferência, desde o primeiro momento da campanha que vai elegê-lo, além de, para manter sua influência política, eleger o máximo de vereadores da sua base de apoio que puder. Além disso, seria interessante Cinthia participar das eleições para prefeito em outros municípios, de preferência os do PSDB, criando uma rede de apoiadores que, teoricamente, lhe darão guarida em 2026, se for disputar algum cargo eletivo.

Governador Wanderlei Barbosa e da prefeita da Capital, Cinthia Ribeiro

 

Já Wanderlei Barbosa, a maior e mais influente liderança política da atualidade no Tocantins, tem na capital, Palmas, o histórico mais contundente da sua vida pública. Foi Palmas que o elegeu vereador, deputado estadual, vice-governador e governador, assim como teve seu pai, Fenelon Barbosa, prefeito, sua mãe, a saudosa Dona Maria Rosa, primeira-dama das mais influentes e lembradas por conta de suas iniciativas de ação social, seu irmão, Marilon Barbosa, vereador e presidente da Câmara Municipal e seu filho, Léo Barbosa, um dos deputados estaduais mais bem-votados desta legislatura.

 

Wanderlei sabe, mais que qualquer outra pessoa, que com todo esse histórico político em Palmas, uma derrota do seu candidato a prefeito na Capital seria um sinal desastroso e teria consequências muito abrangentes em seu futuro político.

 

Para não correr esse risco, se faz necessário que ele desça, um pouco, da nave do governo do Estado, que voa em céu de brigadeiro, e trace um novo plano de voo, em que não haja risco de ficar sem combustível no fim do trajeto, deixando para trás, também, para manter a nave equilibrada e sem sobrepeso, muitos dos que, hoje, ficam como “satélites” em volta do Palácio Araguaia, de olho nas benesses do poder e sem compromisso nenhum com o futuro político do governador curraleiro.

 

Excesso de democracia faz mal

Wanderlei Barbosa não pode cair nas armadilhas que seus antecessores criaram para si mesmos, praticando democracia em excesso, acolhendo a todos que o procuraram, sem se preocupar com o poder de letalidade que pessoas mal-intencionadas exercem sobre as administrações das quais participam. Pessoas que se preocupam apenas com seus próprios futuros políticos e na hora da luta não dão a mínima em proteger seus líderes.

 

Wanderlei deve aproveitar o conselho do ex-governador Moisés Avelino, que o felicitou por ter “unido a família política tocantinense”, mas que precisa focar em um mandato de senador em 2026 e, para não correr o risco de uma pausa na sua carreira política, uma ruptura, precisa analisar friamente os que estão ao seu redor, organizar os “tripulantes” da nave, seus principais auxiliares, para que decolagem política, após o governo do Estado, não seja abortada e tenha a certeza de que o destino traçado será o certo.

 

Para isso, o grupo do Palácio Araguaia precisa refinar suas ações, buscar um alinhamento de estratégias, para eleger o maior número possível de prefeitos, principalmente o de Palmas e dos demais maiores colégios eleitorais do Tocantins, e deixar para trás as velhas práticas de democracia excessiva dos governos anteriores, que ao fim dos mandatos, se mostraram traiçoeiras aos ocupantes do posto de comando.

 

Os exemplos estão claros e nítidos no retrovisor político. Só não vê quem não quer!