Facada em Bolsonaro e defesa de ditadura da Nicarágua provocaram pico de menções negativas ao partido de Lula na rede social. Corrupção também mancha imagem
Por Rafael Moraes Moura
Um levantamento feito pela empresa de consultoria Quaest, a pedido de VEJA, apontou que um tuíte do vereador Carlos Bolsonaro, (Republicanos-RJ), sobre a facada no presidente Jair Bolsonaro e a divulgação pelo Partido dos Trabalhadores de uma nota em defesa da ditadura da Nicarágua foram os dois episódios que provocaram mais estrago à legenda do ex-presidente Lula , no Twitter, no final do ano passado. Os dois casos lançaram luz sobre a rejeição ao PT, também identificada em pesquisas encomendadas por adversários na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Aliados de Bolsonaro trabalham com o reforço da polarização e o sentimento antipetista para minar a candidatura lulista, que lidera com folga a corrida presidencial, com chances de vencer o pleito já no primeiro turno.
“Quem mandou matar Jair Bolsonaro? Até hoje sofre as consequências da facada que levou de antigo filiado do PSOL, braço do PT”, escreveu o filho “zero dois” do presidente no Twitter, em novembro. Adélio Bispo de Oliveira, o auxiliar de pedreiro desempregado que esfaqueou Bolsonaro em Juiz de Fora, foi filiado ao PSOL de 2007 a 2014. O chefe do Executivo pretende resgatar o atentado e explorá-lo eleitoralmente nesta campanha. Apesar da menção sem fundamento ao PT, o estrago à imagem do partido de Lula foi sentido nas redes.
Outro pico negativo no Twitter veio quando o PT considerou uma “grande manifestação popular e democrática” a eleição que manteve o ditador Daniel Ortega no controle do país da América Central. O pleito foi marcado pela prisão de jornalistas, empresários e opositores, entre eles sete candidatos. Após o desgaste, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann , alegou que o texto não havia sido submetido à direção partidária e que a posição da sigla é a “defesa da autodeterminação dos povos”. No fundo, Lula e a legenda mantêm acesa a admiração por ditaduras de esquerda, como os muy amigos regimes nicaraguense e o cubano.
“O PT pode ser seu maior inimigo em 2022 se apostar em agendas que claramente geram rejeição no eleitorado não-petista, como a defesa de governos considerados não democráticos”, aponta o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest. O último levantamento da Quaest, divulgado na quarta-feira, 13, mostrou que a rejeição à figura de Lula saltou de 39% a 43% de novembro para janeiro, ainda que permaneça bem inferior à de Bolsonaro, que está hoje na casa de 66%. “A rejeição ao Lula se confunde com a rejeição ao PT, como se o PT fosse o Lula. Mas o amor ao Lula é bem maior que o amor ao PT”, compara o professor de estatística Paulo Guimarães, da Unicamp.
O ressentimento contra o PT também ecoa nas ruas. Uma pesquisa do DEM, feita no ano passado, identificou uma forte rejeição à classe política, e ao PT em particular, principalmente entre eleitores de capitais brasileiras, para quem segue viva a memória dos escândalos de corrupção envolvendo a compra de votos de parlamentares e desvios de bilhões de reais em estatais. Ao entrevistar pessoas na faixa de 30 a 55 anos, os pesquisadores ouviram queixas sobre a “roubalheira” nas eras Lula e Dilma. O PT também é acusado de promover o “comunismo” e defender uma “agenda contra a família” – a base bolsonarista pretende trazer de volta ao ringue eleitoral a chamada pauta de costumes, em um esforço para afastar Lula do eleitorado conservador, avesso ao avanço de agendas como a descriminalização do aborto e das drogas.
Com a alta inflação e os efeitos persistentes da pandemia de Covid-19, questões de economia e de saúde passaram a dominar as preocupações do brasileiro – mas a corrupção segue entre os principais temas na cabeça do eleitor. Mesmo assim, aliados de Lula demonstram otimismo com o retorno do partido ao Palácio do Planalto. “A gente sofreu muito. Eu digo brincando que o pecado do pecador ninguém liga, mas o do pregador assusta. A Lava-Jato é uma página virada, principalmente em relação ao Lula, que teve as sentenças anuladas. Isso pegou em 2018, mas não vai pegar de novo”, minimiza o senador Jaques Wagner (PT-BA). Em nota enviada a VEJA, a legenda de Lula afirmou que terá de “enfrentar o preconceito e as mentiras lançadas contra o PT desde a sua fundação” e que todos os esforços “estão concentrados na reconstrução do Brasil”.