Conhecido por suas bravatas nacionalistas e atitudes intempestivas, o então deputado federal Jair Bolsonaro valeu-se exatamente dessas características para se posicionar como opção “nacionalista”, direitista e anti-petista para eleger-se presidente da República.
Por Edson Rodrigues
Seu partido de então, o pequeno PSL, virou um gigante no Congresso Nacional e o principal fornecedor de secretários, assistentes e ministros para o governo do seu principal expoente. A questão é que, assim como os institutos de pesquisa à época, pouca gente do PSL achou que Bolsonaro seria realmente eleito e, quando o partido chegou à presidência, trouxe junto muita gente enrolada com a Justiça.
Contrariado com a falta de caráter e pela falsidade dos quadros que omitiram suas situações adversas com a Justiça, Bolsonaro começou uma “fritura geral” na legenda, numa tentativa de separar o joio do trigo. O problema é que tinha muito mais joio que trigo e o presidente achou melhor fundar um novo partido, o “Aliança Pelo Brasil” para separar sua imagem da imagem manchada do PSL.
Bolsonaro só esqueceu que muita gente foi para o PSL e se elegeu pela legenda, justamente por sua causa e, se saírem do partido como o presidente da República o fez, perderão seus cargos.
Ou seja, Bolsonaro “abandonou” alguns companheiros fiéis, ganhou centenas de adversários e esvaziou seu grupo político, reduzindo-o a poucos nomes de expressão e, o pior, vai acabar de fora das eleições municipais, pois nem poderá apoiar os candidatos do PSL, por razões óbvias, nem os de outros partidos, para não estremecer seu relacionamento já “cambaleante” com partidos dos quais dependerá para aprovar suas reformas pretendidas.
A prosseguir assim, teremos um presidente da República “refém” dos partidos de força intermediária, o conhecido “centrão”, e totalmente dependente da boa vontade dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre e da Câmara Federal, Rodrigo Maia.
AS “ENCRENCAS” DO PRESIDENTE
A nove meses das eleições municipais e cada vez mais convicto de que a Aliança pelo Brasil não sairá do papel a tempo de entrar na disputa, o presidente Jair Bolsonaro tem indicado uma guinada na estratégia que adotará na corrida deste ano.
As consequências negativas para uma eventual reeleição em 2022 levaram Bolsonaro a acatar —ao menos oficialmente —a orientação de auxiliares de não subir em palanques de candidatos a prefeitos. "Se meu partido não tiver candidato, não vou me meter em política municipal no corrente ano, ponto final", disse Bolsonaro em entrevista.
Em conversas reservadas na semana passada, Bolsonaro teria admitido em tom mais enfático que são remotas as chances de conseguir viabilizar a legenda a tempo de participar da disputa deste ano. Para que a Aliança obtenha seu registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e possa entrar na corrida, é preciso reunir 492 mil assinaturas até o início de abril.
A avaliação que tem sido repetida é a de que, hoje, a presença de Bolsonaro em palanques pelo país traria mais prejuízo do que benefícios ao governo e à imagem do presidente. De acordo com relatos, Bolsonaro tem demonstrado especial incômodo com o quadro eleitoral no Rio de Janeiro.
Embora tenha feito gestos ao deputado federal Otoni de Paula (PSC), o presidente admite dificuldade de não estar no palanque do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) —sobrinho de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus. A saia-justa, dizem pessoas próximas a Bolsonaro, seria a impossibilidade de dizer não ao pastor aliado e, consequentemente, defender uma gestão mal avaliada. Hoje, o diagnóstico do grupo ligado ao presidente é o de que o desempenho de Crivella na capital fluminense pode beneficiar candidatos de esquerda, como Marcelo Freixo (PSOL).
Ter o carimbo de uma eventual derrota para um dos principais líderes da oposição ao governo não está nos planos de Bolsonaro, dizem aliados do presidente.
Tanto Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) como Onyx Lorenzoni (Casa Civil), responsáveis pela interlocução do Executivo com o Legislativo, sugeriram ao presidente que ele se mantenha isento na eleição deste ano. Além de eventuais derrotas de candidatos alçados pelo bolsonarismo serem consideradas fracasso do presidente como cabo eleitoral, o próprio Bolsonaro já teria ponderado que qualquer deslize na administração de um prefeito apadrinhado por ele pode vir a ser debitada em sua conta na próxima eleição presidencial.
"Às vezes você elege um cara em uma capital aí, se o cara fizer besteira, você vai apanhar na campanha de 2022 todinha", disse Bolsonaro em dezembro, quando recebeu jornalistas no Palácio do Alvorada.
Ficar nas mãos do “centrão” e dos presidentes do Senado e do Congresso pode ser um erro fatal para Bolsonaro.
EXEMPLO PARA CARLESSE
É mais que óbvio que o resultado das eleições de outubro próximo definirão um novo panorama político no Brasil e em todos os estados da Federação, principalmente no Tocantins que guarda suas peculiaridades internas.
Mauro Carlesse não pode ficar refém dentro do seu próprio partido, muito menos entrar em um processo sucessório municipal sem poder subir em palanques de municípios onde os prefeitos são seus adversários declarados, como são os casos de Araguaína, Gurupi, Porto Nacional e Palmas, maiores colégios eleitorais do Tocantins onde Ronaldo Dimas, Laurez Moreira, Joaquim Maia e Cinthia Ribeiro, respectivamente simplesmente não rezam pela cartilha do Palácio Araguaia.
Essa fila de municípios onde Carlesse pode não ter influência nenhuma pode crescer até as convenções, no início de junho, lembrando que abril será o prazo final para quem quiser disputar as eleições estar filiado a um partido político, assim como a “janela” para os vereadores mudarem de legenda sem o risco de perder o cargo.
Ou seja, Carlesse precisa resolver rapidamente sua situação interna no DEM e passar de “ilustre filiado ignorado pela presidente estadual” para “filiado com poder de comando e de decisões”. O partido é comandado no Estado pela deputada federal Dorinha Seabra que, desde que Carlesse demonstrou intenção de se filiar à legenda, já demonstrou insatisfação e procurou se cercar de todos os artifícios para não perder o comando do DEM.
O também deputado federal Carlos Gaguim é outro que, por enquanto, apenas “está” no DEM, servindo, apesar de sua importância e do seu patrimônio políticos, de “quadro decorativo” e precisa, justamente por ser aliado de Carlesse, iniciar os trabalhos para que os dois comecem a assumir as rédeas da legenda.
Bolsonaro caiu em uma armadilha criada por ele mesmo, achando que poderia esperar o momento certo, que as coisas aconteceriam por si só, naturalmente. Carlesse não pode incorrer no mesmo erro.
O governador do Tocantins precisa utilizar toda a sua já comprovada habilidade e agilidade ao agir politicamente para recolocar o Tocantins no eixo econômico, reenquadrando o Estado na Lei de Responsabilidade Fiscal, para tratar de fazer articulação política e se fortalecer nas bases municipais e recuperar o tempo que separou para cuidar da economia.
Carlesse precisa urgentemente de um articulador hábil e com credibilidade para fazer seu nome junto às lideranças políticas estado afora.
CARLOS GAGUIM
O nome para essa função pode ser o do deputado federal Carlos Gaguim, que com seu histórico de bom trato com os políticos do Tocantins e do Brasil e a credibilidade que lhe proporcionou a fama de “homem de palavra”, pode resgatar os companheiros desgarrados nos 139 municípios, principalmente em Palmas, onde construiu sua história política.
Caso Gaguim seja confirmado como articulador de Mauro Carlesse, os dois podem “matar dois coelhos com uma cajadada só”, fortalecendo suas posições dentro do DEM e recompondo uma frente política para ser trabalhada tanto para outubro próximo quanto para as eleições majoritárias de 2022, oxigenando os ares do Palácio Araguaia e evitando que Carlesse entre em “vôo cego” nas eleições municipais.
NA PRESSÃO
Outros políticos tocantinenses que estão “sob pressão” dos prazos da Justiça Eleitoral são a senadora Kátia Abreu, que articula silenciosamente sua filiação em uma legenda que tenha uma bancada no Senado para que ela possa ser indicada para as comissões – pois senador sem comissão é como “jacaré sem dente” ou Sansão careca. Traduzindo, um senador sem força política.
Outro que está como “barata tonta” é o vice-governador Wanderlei Barbosa, que está com um pé no PP e outro no DEM. Até abril, caso confirme sua pré-candidatura à prefeitura da Capital, Wanderlei terá, também que ter uma decisão tomada.
Já a prefeita da Capital, Cinthia Ribeiro tem uma missão menos – ou mais – complicada, que é conseguir o comando do PSDB em Palmas e no Estado, pois quanto mais demorar sendo apenas “filiada”, mais complicada ficará sua vida política.
Apesar de ter milhões em caixa para encerrar sua primeira administração, Cinthia precisa, no mínimo, dar um ultimato à cúpula nacional do PSDB, e, se não der certo, partir para o tudo ou nada, buscar um partido que dê segurança política e Jurídica a ela e aos seus candidatos a vereador.
Caso permaneça imóvel, Cinthia iniciará um processo de desgaste político, levando junto seus companheiros.
Agora, é tudo ou nada!
Até breve!