Relatório da Operação Tempestade expõe as vísceras de esquema criminoso ligado ao poder público
Por Cristyan Costa
A Polícia Federal (PF) vê fortes indícios de que o Primeiro Comando da Capital (PCC) está envolvido no Covidão. O chamado “Banco do Crime (BdC)” teria lavado recursos desviados de hospitais de campanha para a covid-19 no Estado do Rio de Janeiro. O aparato financeiro é ligado ao PCC e responsável por movimentar o dinheiro do tráfico de drogas do crime organizado. As revelações vieram à tona através do trabalho da Operação Tempestade, deflagrada esta semana, conforme noticiou a Revista Oeste. Os agentes identificaram que cerca de R$ 700 milhões foram lavados.
Relatório da PF mostra que Wilson Decaria Junior, um dos doleiros acusados, é o elo entre o que a PF descobriu e a Sharks, ação que originou a Tempestade. De acordo com os investigadores, são dois os principais esquemas de lavagem de dinheiro do PCC. Um deles envolve uma doleira identificada pelos criminosos como “Veia”. O outro é o esquema detectado pela Tempestade, que usava pelo menos duas empresas como bancos: o Neman e a Bidu Cobranças, Investimentos, Transportes e Participações. Os ilícitos ocorreram quando Wilson Witzel (PSC) era governador do RJ.
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O branqueamento de capital se dava por meio de companhias fictícias e de laranjas, emitindo notas fiscais frias de modo a justificar a prestação de serviços inexistentes. O empresário Dalton Baptista Neman é apontado como o líder do esquema criminoso — que incluiria, ainda, seu filho. Decaria Júnior teria participado. Neman e Decaria foram identificados pela PF em 2016, em uma ação contra o contrabando de cigarros — Neman mantinha contato com outras divisões do PCC. Aqui, surgem as suspeitas da PF de ligações entre o BdC e os desvios dos recursos voltados ao combate à covid-19.
De acordo com a PF, o advogado e lobista Roberto Bertholdo seria a peça que uniria os dois esquemas. Ele é investigado por suposto envolvimento em desvio de verbas de hospitais de campanha destinados ao tratamento da covid-19 no RJ. A PF chegou a pedir à Justiça a prisão temporária de Bertholdo, mas ela foi negada pela 6.ª Vara da Justiça Federal de São Paulo. Segundo a PF, Bertholdo “ficou conhecido como o homem que grampeou o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro”. Os agentes destacaram os contatos políticos do advogado, cujo escritório fica em Brasília, no MDB e no PP.