Governador consolida base em Goiás e alimenta o projeto de tentar a Presidência, em 2026, com apoio de parte do bolsonarismo
Por Júlia Portela
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), segue investindo suas cartas em uma possível campanha à Presidência em 2026. Com um olho no futuro e outro nas eleições deste ano, ele vem fazendo campanha por todo o país para candidatos de direita e pavimentando o caminho como pré-candidato ao Palácio do Planalto. A expectativa é de que ele concorra com os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Junior (PSD) na disputa para o campo da direita em 2026.
Em Goiânia, principal reduto de Caiado, a disputa escancara um desafio extra para o governador. Jair Bolsonaro apoia outro candidato à prefeitura da capital. Enquanto o governador apostou suas fichas em Sandro Mabel (União Brasil), o ex-presidente está ao lado de Fred Rodrigues (PL). Segundo a última pesquisa Quaest, de 17 de setembro, Mabel estava na liderança, empatado tecnicamente com Adriana Accorsi (PT).
Isso demonstra que, para chegar a ser a cara da direita em 2026, Caiado terá que enfrentar o desafio de angariar apoio no segmento. O governador, inclusive, fez um aceno recente a Bolsonaro, ao comparecer ao ato do Sete de Setembro na Avenida Paulista. A manifestação teve como principal alvo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e a presença de Caiado é um indicativo de que pautas caras à direita estão na agenda do governador.
Entrevero
Desde bem antes da campanha, Caiado é alvo de críticas de Bolsonaro, com quem teve um entrevero, em 2020, pela implementação de lockdown durante a pandemia. Ortopedista, Caiado não afrouxou as regras de distanciamento social.
"Fui contra governadores que falavam: fiquem em casa, a economia a gente vê depois. Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir", criticou Bolsonaro, em um comício, sem citar Caiado.
O governador, entretanto, tem uma base sólida em Goiás. Oitenta e seis por cento da população aprovam sua gestão, de acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada em julho. Além disso, 38% dos eleitores goianienses afirmam votar em um candidato apoiado pelo governador, mesmo sem conhecê-lo. Já Bolsonaro só consegue transferir 29% dos votos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apenas 15%.
Esse apoio, no entanto, não se traduziu em intenção de voto em outro importante reduto de Caiado: Anápolis. No município, o candidato do governador está atrás nas pesquisas. Segundo a sondagem mais recente do Instituto Real Time Big Data, o candidato de Bolsonaro, Marcio Correa (PL), lidera em todos os cenários. Erizania Freitas (União Brasil), apoiada por Caiado, está em terceiro lugar, a 21 pontos de distância do segundo colocado, Antônio Gomide (PT).
Em Aparecida de Goiânia, outra cidade importante para Caiado, seu candidato, Leandro Vilela (MDB), tem 40% das intenções de voto, segundo o mais recente levantamento do instituto Paraná Pesquisas. Mas está empatado tecnicamente, dentro da margem de erro — de 3,7 pontos percentuais — com Professor Alcides (PL), apoiado por Bolsonaro, com 38,2%.
Divisão da direita é problema
Na ditadura militar, circulava entre os intelectuais um mote que sintetizava a histórica divergência entre os esquerdistas: "A esquerda só se une na cadeia", diziam os militantes, numa mistura de conformismo e constatação. Era essa incapacidade de se unir em nome de um objetivo maior que, segundo os integrantes da corrente ideológica, impedia a esquerda de chegar ao poder. O problema, porém, parece ter se transferido para a direita, fragmentando-a e causando danos, sobretudo, ao bolsonarismo.
"O que sair do resultado do primeiro e do segundo turno (das eleições municipais) vai ser um novo mapa político. É o bolsonarismo tentando se reposicionar. Só o fato de o Bolsonaro estar inelegível já complica", aponta o cientista político André César, para quem Tarcísio e Ratinho Júnior são os nomes mais consistentes no espectro da direita para 2026.
O pesquisador Robson Carvalho, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, destaca que, apesar de ainda ser um ativo importante, Bolsonaro vem sendo, aos poucos, ultrapassado por setores da política. "Há uma tentativa de desintoxicar a direita da extrema direita. Uma tentativa de se descolar, sem perder os votos dos extremistas", observa.
Carvalho, porém, tem dúvidas sobre a capacidade de Caiado tornar-se competitivo para a Presidência. "Precisa tornar-se viável eleitoralmente. Quantas vezes ele percorreu o Brasil para se apresentar como possível candidato? Ele é conhecido o bastante? Há capilaridade do União Brasil, pelo país, como partido estruturado? Ele pertence a um colégio eleitoral muito pequeno, que é Goiás. Por mais que articule e consiga apoio do partido, creio que não há viabilidade em uma candidatura à Presidência", frisa.