EM 100 DIAS DE BOLSONARO NO GOVERNO, 28 CRISES SACUDIRAM O PLANALTO E POUCA AÇÃO REALIZADA

Posted On Segunda, 08 Abril 2019 07:09
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Presidente completa centésimo dia no governo sem “descer do palanque”, com a missão de contornar conflitos entre aliados para fazer prometidas políticas públicas

 

Da Redação

 

Nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro completa o centésimo dia de governo marcado por uma das mais profundas — e turbulentas — transições do mais recente período democrático no Brasil. A troca de comando no Palácio do Planalto em 1º de janeiro representou a chegada de personagens e de tentativas de guinadas de políticas públicas. Levantamento feito por analistas políticos a partir das primeiras ações do chefe da Esplanada e dos ministros — além de entrevistas com especialistas, políticos e professores — revela, porém, que as controvérsias produzidas pelos próprios aliados criaram dificuldades para o Executivo.

 

Ao todo, no período, os principais atores governistas tiveram que voltar a atenção para 28 crises que se desenrolaram por 40 dias, consumindo tempo e energia que poderiam ser direcionados a projetos mais urgentes. Na média, são duas polêmicas abertas por semana.

 

O presidente Jair Bolsonaro diz que o governo concluiu 95% das 35 metas estipuladas em janeiro deste ano para os 100 primeiros dias. Na educação, o governo se propôs a lançar o programa Alfabetização acima de tudo, para definir soluções didáticas e pedagógicas para o aprendizado da leitura e escrita. Na segurança pública, o Ministério da Justiça entregou o decreto de facilitação à posse de armas, mas apenas apresentou o pacote anticrime. Outras ações estabelecidas já dispõem de previsão legal, mas que o governo ainda estipulou como meta a ser alcançada.

 

As crises estão intimamente ligadas aos grupos dentro do governo, que se dividem entre os técnico-econômicos — encabeçados pelos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro —, os associados às Forças Armadas e os folclóricos, ligados ao conservadorismo cultural. Não por acaso, a primeira controvérsia teve como protagonista Damares Alves, da pasta das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos.

 

Três dias depois da posse de Bolsonaro, um vídeo em que Damares exalta a vitória do capitão reformado foi divulgado: “A nova era começou: agora, menino veste azul e menina veste rosa”. As imagens viralizaram nas redes sociais. Depois, Damares afirmou que se tratava de uma metáfora. No time dela, estão ainda os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez (Educação), este último prestes a entregar o chapéu e deixar a Esplanada amanhã. Em comum, eles têm como guru o escritor Olavo de Carvalho, que abriu guerra com o grupo militar.

 

Sem tutela É possível afirmar que o próprio Bolsonaro estimulou tais declarações desde os discursos no primeiro dia de governo, quando afirmou: “Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores”. Especialistas apontam que ainda é um presidente preso à própria campanha, e, ao contrário do anunciado na posse, que busca a divisão para reforçar a própria gestão. Uma questão é que, diferentemente do imaginado ao longo da campanha, nenhuma das turmas (folclórica, técnico-econômica e militar) conseguiu tutelar Bolsonaro.

 

“Há uma disputa aberta de poder entre esses grupos, mas o que se vê é que o presidente tem independência, a ponto de não parecer se incomodar com os conflitos”, afirma Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB). “Bolsonaro decide pela própria cabeça, isso parece evidente.” Onde tal coisa vai dar, ainda é cedo para avaliar, mas uma marca desses quase 100 dias de governo é a desconfiança, que amplia incertezas sobre o sucesso.

 

Uma das principais tensões dentro do governo Bolsonaro está no conflito entre os militares e os olavetes, como são chamados os discípulos do escritor Olavo de Carvalho, considerado o inspirador da ideologia do presidente. Em Washington, em meados de março, um dia antes da chegada do presidente aos Estados Unidos, o professor — pelo menos para parte da equipe da Esplanada — desancou o vice-presidente Hamilton Mourão: “Um cidadão que não tem os direitos humanos elementares está na maior impotência. E essa é a situação do nosso presidente. Ele não tem o direito de se defender na Justiça quando atribuem crimes a ele. É horrível o que estão fazendo com ele. É ditadura. É opressão. É um homem sozinho. Não pode confiar naqueles que o cercam e nem na mídia”, disse Olavo, para completar: “Essa concepção, que é a do Mourão, é uma concepção golpista. Onde isso vai dar, não sei, não estou em Brasília. Mas é grave, é claro que é grave. Estou com c... na mão pelo Brasil, não por mim”.

 

Interesses A ala militar, que não vê a menor importância em Olavo, acompanha os ataques. Mas, se há alguma razão nas palavras do professor, é a tal da desconfiança entre os grupos. “A baixa confiança e os interesses conflitantes dos grupos são problemas que se agravam com a falta de senso de urgência do próprio governo Bolsonaro”, diz Thiago Vidal, gerente de análise política da consultoria Prospectiva.

 

Em meio às crises entre os grupos da Esplanada, os filhos mais velhos de Bolsonaro — Flávio, Eduardo e Carlos — nunca funcionaram como bombeiros, mas, segundo o professor Paulo Calmon, servem como âncoras do pai em relação aos eleitores mais fiéis, aqueles que consolidaram os votos ainda no início da campanha. “Por mais que seja criticada, há uma virtude em Bolsonaro: não se afastar das bases. E os filhos têm esse papel, de manter os temas acesos”, diz Calmon. Isso não significa que tal estratégia funcione de maneira adequada sempre; afinal, boa parte das crises tem como protagonistas os filhos do presidente.

 

Bolsonaro ironiza em seu perfil do Twitter resultado da pesquisa Datafolha

 

O presidente Jair Bolsonaro ironizou resultado da pesquisa Datafolha em publicação no Twitter. O levantamento divulgado neste domingo (7.abr.2019) pela Folha de S. Paulo aponta que o militar tem a pior avaliação em 1º mandato após 3 meses de governo.

 

O presidente foi questionado sobre o levantamento por jornalistas da Folha ao sair do Palácio da Alvorada. Respondeu que não irá “perder tempo para comentar pesquisa do Datafolha”. “Tem 1 item lá de que Lula e Dilma são mais inteligentes do que eu. Valeu, Datafolha”, disse Bolsonaro.

 

O militar refere-se ao dado da pesquisa que mostra que 58% dos entrevistados consideram Bolsonaro muito inteligente, ante 39% que o consideram pouco inteligente. Há ainda uma comparação com os ex-presidentes petistas Lula e Dilma, referente ao período dos 100 dias de seus respectivos governos.

 

Jair Bolsonaro completou 3 meses no Palácio do Planalto e registra a pior avaliação nesse período de governo entre os todos os presidentes eleitos para 1º primeiro mandato desde a redemocratização: 30% dos brasileiros consideram a gestão atual ruim ou péssima.

 

O presidente completa 100 dias de mandato na próxima 4ª feira (10.abr.2019). Com o mesmo tempo de governo, antecessores de Bolsonaro tiveram melhor desempenho.

 

Fernando Collor (então no PRN) era reprovado por 19% em 1990, enquanto Fernando Henrique Cardoso (PSDB) marcava 16% de índices ruim ou péssimo em 1995.

 

Os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, alvos frequentes de críticas do atual presidente, eram mal avaliados apenas por 10% e 7% da população ao fim dos primeiros 3 meses de governo.

 

Na série histórica, Dilma é quem teve numericamente a melhor avaliação no período de mandato: 47% de ótimo ou bom em 2011.

 

 

MOURÃO NÃO QUER ÔNUS PARA OS MILITARES

O vice-presidente Hamilton Mourão disse neste domingo (7) em evento nos Estados Unidos que, se o governo Jair Bolsonaro "errar demais", a "conta" irá para as Forças Armadas.

 

Ele fez a afirmação em resposta a uma pergunta sobre a presença de militares no governo durante um painel da Brazil Conference, em Boston, evento organizado por estudantes da Universidade de Harvard e do Massachussetts Institute of Technology (MIT).

 

Neste domingo, foi divulgada pesquisa do instituto Datafolha, segundo a qual a avaliação do governo é a pior de um presidente em início de mandato desde 1990.

 

Questionado por um estudante sobre a possibilidade de a presença de vários militares em cargos e funções de governo "corroer" a “unidade” e a “legitimidade” das Forças Armadas, Mourão afirmou que o governo não pode errar demais.