Decreto que flexibiliza abertura de comércios pode colocar Tocantins em perigo
Por Edson Rodrigues
Quando o saudoso técnico de futebol Oswaldo Brandão disse a frase “em time que está ganhando, não se mexe”, referia-se a uma partida em que sua equipe vencia por 4 x 0 um de seus mais empedernidos adversários. A partida terminou 5 x 2 para o time de Brandão e a frase virou quase que um ditado popular.
Mas, se “em time que está ganhando, não se mexe”, o que teria levado o governador Mauro Carlesse ao decretar a flexibilização do funcionamento do comércio no Tocantins, justamente quando o placar é tão favorável ao Estado?
O governador do Tocantins, Mauro Carlesse (DEM), liberou o funcionamento dos estabelecimentos comerciais que realizam atividades e serviços não essenciais na tarde desta segunda-feira. A medida engloba todo o comércio que estava fechado por causa da pandemia do novo coronavírus. A decisão foi tomada em uma videoconferência com os integrantes do Comitê de Crise, 30 dias após ser decretado estado de emergência e de calamidade pública e exatamente um dia antes do governo federal publicar o reconhecimento do Decreto nº 6.072, editado pelo governo do estado no dia 21 de março.
Ou seja, no mesmo dia em que foi reconhecido, o decreto deixou de valer.
PERIGO
No decreto reconhecido pelo governo federal está a autorização para a dispensa de licitações para a compra de bens, serviços e insumos de saúde, de forma a reabilitar o estado contra a doença.
Ora, se não há mais a necessidade de auto-confinamento e do fechamento do comércio, fica fácil as mesmas autoridades que reconheceram o estado de calamidade pública entenderem que esse reconhecimento não é mais necessário.
É justamente aí onde mora o perigo.
O Tocantins está com uma das mãos nos documentos que liberam os empréstimos junto à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil, a ser aplicados em obras nos 139 municípios do Estado, em um movimento que teve como “indutor” dessa facilitação, justamente, o estado de calamidade pública e, se por acaso, o governo federal retirar esse reconhecimento, corre o risco de ter que começar tudo do zero, novamente.
kits de EPIs, como máscaras, luvas e outros itens de proteção para dos servidores da saúde
O governo do Estado está em plena distribuição de mais de 310 mil cestas básicas e kits de higiene para famílias carentes e para os estudantes da rede estadual de ensino, uma ação elogiada por todos, de todos os partidos. O Estado está recebendo uma grande monta de equipamentos e insumos médicos, resultante de uma ação do senador Eduardo Gomes e, o principal, é o único Estado da federação em que não houve mortes por Covid-19.
A HORA DE FAZER A DIFERENÇA
O Tocantins, após a flexibilização das ações de contenção ao Covid-19, está se colocando numa situação em que corre o risco de tudo dar certo ou tudo dar errado.
Todos os estudos apontam os meses de abril e maio como os picos da doença no Brasil. Com as medidas que tomou, “antes mesmo dos demais estados”, como disse o governador Mauro Carlesse, o Tocantins conquistou muitas vitórias internas e na luta, em si, contra o Coronavírus, mas está deixando de perceber que agora é a “hora de fazer a diferença”, ou seja, de mostrar que tem um governo correto e capaz de, em meio a tantas hipóteses e sugestões, adotar medidas que livraram a população de um mal que acometeu o mundo todo e ainda usou as ações paliativas para melhorar as condições de vida da população.
Afrouxando as regras, o Tocantins corre o risco de expor sua população justamente na pior fase da crise e inverter o atual cenário, vendo o número de casos em seu território aumentar enquanto os demais estados vão estar diminuindo sua curva de infectados.
IRRECUPERÁVEL
Se, Deus nos livre, essa situação vier a se confirmar, o governador Mauro Carlesse será lembrado pelo maior erro da história política do Tocantins, caso não reverta esse ato de flexibilização das medidas de contenção ao Covid-19.
Será um erro que poderá custar vidas, e vidas são irrecuperáveis. O mundo está cheio de exemplos de países que agiram com assertividade e outros que pecaram por medidas demoradas ou liberais demais.
A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, anunciou, na noite desta terça-feira, a primeira morte por Covid-19 na Capital. A vítima seria uma servidora da saúde Municipal, de 47 anos, que teve contato com pacientes contaminados e morreu em uma unidade particular de saúde.
O Tocantins vai muito bem, obrigado, até agora. Não pode colocar tudo a perder justamente quando o “placar” está a seu favor. De nada adiantam empresas abertas se, Deus nos livre, não houver mais pessoas para comprar.
Ainda há tempo para voltar a fazer o que é certo e está salvando vidas no mundo inteiro!