Jantares decisivos definem governabilidade de Lula no 'Gilmarpalooza'

Posted On Sexta, 04 Julho 2025 15:46
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O fórum se tornou um evento tradicional no calendário político brasileiro, no qual os principais atores políticos se deslocam para Portugal e participam de palestras e eventos sociais. A diferença é que em Lisboa é muito mais difícil para a imprensa presenciar e noticiar o que acontece, observa Bilenky

 

 

Por José Roberto de Toledo, Thais Bilenky - UOL

 

 

A dinâmica do evento revela uma estrutura hierárquica complexa, com diferentes níveis de exclusividade. "O Fórum de Lisboa é dividido em castas", conta Bilenky, descrevendo como existem eventos oficiais e uma programação paralela com coquetéis, jantares, almoços e eventos exclusivos. Um exemplo emblemático foi o jantar oferecido pelo BTG Pactual, banco de André Esteves, no restaurante Suba, recomendado pelo Guia Michelin.

 

A exclusividade deste jantar foi tal que nem todos os participantes da programação oficial do fórum sabiam de sua existência. Um evento "top AAA", brinca José Roberto de Toledo no podcast.

 

No centro das negociações estão figuras-chave do cenário político brasileiro. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, ex-presidentes da Câmara e do Senado, além de Hugo Motta, sucessor de Lira, participam de jantares e eventos exclusivos com Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. É nesse contexto que personagens importantes dos três poderes discutem desde emendas parlamentares até indicações para agências reguladoras e cargos de estatais.

 

O governo Lula, porém, tem representação limitada nessas conversas decisivas. "Não tem nenhum representante de primeiro time do governo", observa Toledo, destacando que apenas Jorge Messias, da Advocacia Geral da União, e o deputado Odair Cunha, representam o Palácio do Planalto. "Não está lá o ministro da Fazenda, não está lá o ministro chefe da Casa Civil, não está nem sequer a Gleisi Hoffmann", complementa.

 

As negociações em Lisboa têm impacto direto na disputa em torno do decreto que aumenta o IOF, que foi derrubado pelo Congresso através de um PDL (Projeto de Decreto Legislativo). O Congresso, no entanto, pode reagir diante da ofensiva do governo se fizer avançar o projeto de anistia, que ficou adormecido em meio aos últimos embates entre Legislativo e Executivo.

 

A estratégia do governo de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para derrubar o PDL também foi calculada. "O governo só entrou no Supremo depois que uma ação do PSOL contra esse PDL já tinha sido distribuída para o Alexandre de Moraes", explica Bilenky.

 

O que está em jogo vai além do decreto do IOF. As conversas em Lisboa buscam recuperar a governabilidade perdida, mas de forma mais tortuosa do que uma simples discussão sobre alíquotas. "A defesa da Câmara dos Deputados não vai ser feita pelo advogado da Câmara, lá no Supremo, junto ao Alexandre de Moraes, no Plenário do Tribunal. Já está sendo feita nos jantares lisboetas", analisa Toledo.

 

O presidente Lula deixou claro que considera a questão crucial, afirmando que se ele não fosse ao Supremo, perderia a governabilidade porque derrubaram um PDL. A lógica por trás da derrubada do decreto, para Toledo, foi apenas mostrar para Lula que ele não manda mais.

 

Enquanto isso, o Congresso mantém suas cartas na manga, incluindo não apenas o projeto de anistia, mas também o marco civil da internet, com projetos patrocinados pelas redes sociais para mudar o entendimento selado pelo Supremo na semana passada.

 

 

 

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