Condenado ou não, julgamento colocará em contraposição militantes e oposicionistas, e pode influenciar nas coligações
Por Edson Rodrigues
Independente de se condenado ou absolvido pelo TRF 4 (Tribunal Regional da 4ª Região, em Porto Alegre, RS), a simples presença do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no tribunal do júri trará para as ruas a militância do PT e, fatalmente, os que não querem mais ver Lula como cidadão com legitimidade para concorrer a qualquer eleição.
O ex-ministro José Dirceu, por exemplo, disse que o julgamento de Lula noTribunal de 2ª instância será o “dia da revolta”.Através de mensagens, ele afirmou “éhora de agir e não de falar”.
Dirceu também sugeriu que os petistas transformemsuas energias “em fúria, revolta, indignação e ódio”echamou o julgamento de Lula de “fraude jurídica”.
Em 2016, Dirceu foi condenado (por Sérgio Moro) porlavagem de dinheiro, corrupção passiva e organizaçãocriminosa.Em setembro do mesmo ano, a pena dele foi aumentada(pelo TRF-4 – 2ª instância) para 30 anos e nove mesesde prisão, mas ele permanece solto.
Esse clima sugerido pelo PT coloca todo o Brasil em um clima de grande tensão no próximo dia 24.
Se Lula for absolvido, o Ministério Público Federal ainda pode recorrer às instâncias superiores. Se Lula for condenado por dois votos a um, a defesa terá dois dias para apresentar embargos infringentes e pedir para o voto que beneficia o réu prevaleça sobre os demais e haverá um novo julgamento, desta vez, por sete juízes federais, incluindo os três da Turma do TRF 4.
Mas, se Lula for condenado por unanimidade, a defesa terá dois dias para apresentar embargos declaratórios, que são recursos que questionam omissões ou dúvidas em um processo judicial.
Portanto, tanto a condenação quanto a absolvição do ex-presidente terá consequências diretas no processo sucessório, uma vez que Lula lidera todas as pesquisas de intenção de voto com o dobro do segundo colocado, seja em qual panorama tenha sido feita a pesquisa, o que significa que a decisão do próximo dia 24 vai trazer efeitos nas decisões de milhões de eleitores brasileiros em todos os estados do País, principalmente porque terá a maior e mais completa cobertura política da história da mídia brasileira, com a participação ativa das mídias sociais.
TOCANTINS
No Tocantins a incógnitas permanecem, principalmente em relação ao resultado do julgamento do ex-presidente Lula, pois qualquer que seja o resultado, como já falamos, haverá uma grande movimentação política a partir dessa decisão.
O Prefeito da Capital, Carlos Amastha, que costuma dar um banho de marketing pessoal sobre os demais pré-candidatos, vive sob o peso de ter chamado os políticos tocantinenses de “vagabundos, incompetentes e corruptos” e ter, ele próprio, Amastha, sido indiciado pela Polícia Federal.
Como suas críticas são sempre direcionadas aos congressistas e parlamentares, Amastha mudou de alvo, mirando, agora na própria Polícia Federal que, segundo ele, “deveria lhe pedir desculpas por tê-lo acusado sem provas”. Essa declaração, na visa da maioria da sociedade, não passa de mais uma jogada de marketing, numa tentativa de ludibriar os eleitores.
Amastha ainda aparece muito bem colocado nas pesquisas internas dos partidos, baseado apenas em seu marketing pessoal e no fato de ter sido considerado o terceiro melhor prefeito de capitais brasileiras em uma pesquisa, m as, infelizmente, para ele, isso não vem bastando para que nomes de peso da política tocantinense se coloquem à disposição de “vestir a carapuça” de “vagabundo, incompetente e corrupto”, tornando uma possível candidatura de Amastha uma questão ainda indefinida.
Já a senadora Kátia Abreu, recém eleita presidente da Federação de Agricultura do Tocantins, tem sua pré-candidatura mais que confirmada, porém, com o empecilho de estar sem partido e de ter que conseguir uma legenda que a aceite, de cara, como líder e mandatária incontestável, com a prerrogativa de indicar os nomes e coligações para a chapa majoritária, o que, venhamos e convenhamos, seria, no mínimo, humilhante.
É certo, porém, que Kátia Abreu não se filiará a nenhum partido ligado ao presidente Temer ou à sua base de apoio, tendendo a optar em alguma coisa mais próxima do PTB e do próprio PT, pois conta com o apoio irrestrito do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff.
O prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, se afastará, esta semana, do seu cargo para fazer uma série de visitas a municípios em algumas regiões do Estado para fazer contato com lideranças políticas, empresariais e classistas, em mais um esforço concentrado para dar mais visibilidade ao seu nome.
E o nome que pode desequilibrar, de forma positiva, o processo sucessório, que é o governador Marcelo Miranda, começa a dar sinais de que será, mesmo, candidato à reeleição, lembrando que, caso opte por se reeleger, entra na disputa com a vantagem de o Estado estar com os cofres abarrotados de recursos para obras, advindos de emendas impositivas, convênios com o governo federal e dos empréstimos levantados junto à Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Mundial.
Com essa verba em mãos, Marcelo Miranda deve assinar ordens de serviço em todos os 139 municípios do Estado, que será transformado em um verdadeiro canteiro de obras, aquecendo a economia, gerando empregos e resgatando compromissos de campanha, o que, todos sabem, são grandes “cabos eleitorais” em qualquer parte do mundo.
ELEIÇÃO “TEMPERADA”
Logo, não será por falta de “tempero” que as eleições de outubro próximo passarão para a história do Tocantins - e do Brasil – como uma das mais acirradas.
Um concorrente falastrão que quer “desculpas” da polícia Federal, uma concorrente com prestígio, mas sem partido, um concorrente admirado pela capacidade administrativa, mas que precisa ser conhecido pelo resto do Estado, um concorrente vindo do mundo jurídico – Dr. Márlon Reis – que criou o nacionalmente conhecido bordão “ficha limpa”, um governador que enfrentou inúmeros desafios, mas soube ter a verba para obras necessárias no momento certo e, para dar o toque final, um ex-presidente sob julgamento, cujo resultado vai interferir diretamente no “gosto final” do processo sucessório.
Sem contar que ainda falta um ingrediente crucial nesse “caldeirão”, que são as operações da Polícia Federal no Tocantins, que podem “dar azia” em muitos pretensos candidatos, inclusive o que espera “desculpas” da PF, mas que pode receber uma “garrafa” de malagueta pra engolir à seco...
Realmente temos um caldeirão repleto de temperos e essa “fervura” ainda vai dar muito o que falar....