Como todo mundo já sabe, na política o mais importante é a sobrevivência a qualquer custo, principalmente, mantendo perspectivas de chegar ao poder.
Por Edson Rodrigues
A senadora Kátia Abreu, que está – ou estava – aguardando seu nome ser indicado para o Tribunal de Contas da União (já que, em Brasília, 2 + 2 nem sempre é igual a 4) tratou de colocar em prática seu projeto de reeleição para o Senado, com muita perspicácia e com os olhos sempre voltados para o futuro.
Quando se filiou ao PP, a senadora ficou com o poder de decisão da legenda no Tocantins e, ato contínuo, entregou o partido para um fiel aliado, Jairo Mariano, então prefeito de Pedro Afonso e presidente da Associação Tocantinense dos Municípios. Eis que Mariano, hoje, é um dos homens mais fortes no governo interino de Wanderlei Barbosa, que, inclusive, já deu sinais de que vai se filiar ao partido comandado por Jairo Mariano.
Senador Irajá Abreu, o governador Wanderlei Barbosa e Kátia Abreu
Durante uma cerimônia no Palácio Araguaia, na sexta-feira, Kátia Abreu fez um discurso longo, em que explanou sua intenção de se aproximar do governo de Wanderlei Barbosa, elogiando e dirigindo palavras que pregavam a harmonia e o trabalho conjunto entre os dois. Ficou claro que a possibilidade de um “casamento político” entre os dois é bem palpável, mesmo sabendo-se que será uma união “sem amor”, tendo como foco de atração a sobrevivência política mútua, deixando a “paixão esquentar” de acordo com a aproximação das eleições de outubro de 2022.
BEM ME QUE, MAL ME QUER
Enquanto Wanderlei Barbosa recebia todas as palavras “doces”, Kátia Abreu guardou um “dicionário” de adjetivos nada elogiosos para o governador afastado Mauro Carlesse, desde a forma de tratar com os prefeitos até uma “seletividade” de benefícios, segundo ela, guiada pelo posicionamento político dos prefeitos: “só quem era aliado e filiado ao partido dele, recebia”, disse a senadora, acrescentando denúncias de falcatruas e corrupção, mas sem especificar do que falava.
Essa atitude significativa de Kátia Abreu em direção a uma provável união de forças com o Palácio Araguaia passa a ser um “pedido de noivado”, com a data do casamento marcada para dois de novembro de 2022. Se o pedido for aceito por Wanderlei Barbosa, estará em formação uma chapa forte e competitiva, a ser levada em conta nos prognósticos e análises políticas.
ASSOMBRAÇÃO
Mas, essa relação entre Kátia e Wanderlei que pode terminar em casamento político, já surge, também, assombrada por um fantasma que tem nome e sobrenome: Mauro Carlesse.
Dizem que, no Palácio Araguaia, escuta-se uma voz, nos corredores escuros, que faz ecoar na mente de todos apenas três palavras: “Carlesse vai voltar”.
Esse clima “assombrado” vai perdurar no Palácio Araguaia, pelo menos, até abril de 2022, quando termina o prazo de 180 dias de afastamento de Mauro Carlesse, determinado pela Justiça Federal, e essa incerteza se traduz em instabilidade política sobre o próprio Wanderlei Barbosa, que já anunciou seu rompimento com Carlesse, sobre sua equipe de assessores, mas, principalmente, sobre os deputados estaduais que se aliaram a Wanderlei na primeira hora de seu governo interino.
Todos estão sobressaltados com o pedido de liminar que ainda está para ser julgado, para que Mauro Carlesse possa responder às acusações no exercício do mandato outorgado pela maioria dos tocantinenses. Esse clima só passará após o julgamento desse pedido de liminar, que deve ser encaminhada ao Pleno do STF, para uma decisão em colegiado, logo após o término das férias forenses.
Dessa forma, o “noivado político” entre Kátia e Wanderlei pode ficar sem um “altar”, caso Mauro Carlesse volte e, talvez, até, sem “noiva”, caso o noivo não tenha um “dote” tão significativo quanto a “caneta do Palácio Araguaia” e as benesses que ela pode proporcionar. E quem vai decidir sobre esse noivado será um ministro do STF que, por acaso, estiver de plantão, em uma data não sabida.
NOIVA COM “RESERVA DE MERCADO”
Porém, a senadora Kátia Abreu, raposa política que é, guarda um “ás na manga”, uma espécie de “reserva de mercado”, caso o “casamento” com Wanderlei Barbosa não se concretize ou Mauro Carlesse volte ao governo, que seria lançar seu filho, o senador Irajá Abreu, como candidato ao governo do Estado ou ela própria se filiar ao PT, de Lula, e se candidatar à reeleição com uma estrutura partidária mais “forte”.
O certo é que, sem o “dote” da máquina governamental, Kátia Abreu perde o interesse pelo casamento com Wanderlei Barbosa.
Já no caso do casamento se confirmar, serão dois senadores – Kátia e Irajá – turbinando o governo de Wanderlei Barbosa, com a influência de dois partidos de médio porte, PP e PSD, com o auxílio do PDT, formando uma chapa respeitável.
Caso Mauro Carlesse volte ao governo, essa “chapa respeitável” fica à deriva, com grandes possibilidades de uma debandada apressada em busca de “portos” mais seguros, no limite do prazo permitido por Lei.
LIGANDO OS PONTOS
Pela dinâmica política, que nunca muda, o Observatório Político de O Paralelo 13 vem “ligando os pontos” dessa movimentação provocada pelo afastamento de Mauro Carlesse e a interinidade de Wanderlei Barbosa.
Kátia Abreu e o empresário Edson Tabocão
Há algumas semanas, antes do afastamento de Carlesse, Wanderlei Barbosa, em viagem com a coletiva palaciana à Talismã, para o lançamento do programa Tocantins Tocando em Frente, declarou que “estaria com Carlesse até o fim”. Dias antes desse fato, em Lagoa da Confusão, também em um evento, tanto Carlesse quanto Wanderlei eram só afagos mútuos em seus discursos.
Por sua vez, a senador Kátia Abreu, acompanhada do senador Irajá Abreu, do empresário Edson Tabocão e do presidente estadual do Podemos, o ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, eram só carinhos, afagos e palavras amistosas, presenciados pelos prefeitos e vereadores de 23 municípios, em eventos e encontros na região do Bico do Papagaio.
Hoje, Ronaldo Dimas foi “largado na campina” pelo clã dos Abreu. Um “noivo abandonado a caminho do altar”.
Essa é a mais pura tradução do ambiente político instalado no Tocantins: intenções disfarçadas, ações e declarações dúbias e muita desconfiança entre os atores políticos.
Logo, só há um caminho para os cidadãos e eleitores, que é aguardar a acomodação de forças antes de “comemorar” qualquer anúncio de casamento, pois Kátia Abreu já “noivou” com muitos e também desfez noivados com tantos outros. O último, foi com o ex-governador Marcelo Miranda.
Temos que dar tempo ao tempo...