Lewandovski autoriza STJ a usar mensagens hackeadas da Lava Jato em inquérito

Posted On Sexta, 05 Março 2021 06:57
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Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski. abre precedente perigoso Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski. abre precedente perigoso

Investigação contra procuradores foi aberta pelo presidente do tribunal, Humberto Martins, que também é relator do caso

 

Com Agência O Globo

 

O ministro Ricardo Lewandowski , do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que os diálogos entre procuradores da operação Lava-Jato de Curitiba, roubados por um hacker e apreendidos na Operação Spoofing, sejam compartilhados com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que abriu uma investigação para apurar a conduta dos membros da força-tarefa. O inquérito foi aberto e é conduzido pelo presidente do STJ, Humberto Martins, com o objetivo de apurar se procuradores do MPF tentaram investigar ilegalmente membros da Corte.

 

Num dos diálogos, os procuradores Deltan Dallagnol e Diogo Castor conversam sobre a possibilidade de descobrir informações junto à Receita Federal sobre a declaração patrimonial de ministros do STJ. Os procuradores da Lava-Jato afirmam não reconhecer a autenticidade das mensagens.

 

Lewandowski estendeu a Martins uma autorização já concedida anteriormente, em fevereiro, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) . A defesa dele conquistou no STF o direito de acessar os diálogos, que também tratavam da condução de processos envolvendo o político no âmbito da Lava-Jato.

 

Críticas

O inquérito instaurado pelo STJ tem sofrido críticas desde a instauração, assim como aconteceu com dois procedimentos abertos no ano passado pelo STF para apurar o financiamento de atos antidemocráticos e a disseminação de notícias falsas e ataques contra a Corte.

 

Há semelhanças entre esses dois inquéritos e o que corre no STJ, que também foi aberto de ofício, sem que houvesse pedido do Ministério Público. Além disso, assim como ocorre com o ministro Alexandre de Moraes no Supremo, o caso no STJ é conduzido por Martins, o mesmo ministro que determinou sua abertura, sem que tenha havido sorteio automático para a causa.

Na semana passada, o procurador-geral da República Augusto Aras afirmou que a iniciativa do STJ é “extremamente grave e preocupante” e anunciou que pretende tomar medidas judiciais para impedir o prosseguimento dos trabalhos.

Para Aras, o regimento do STF , que permitiu a instauração dos dois inquéritos em questão, não pode ser utilizado por analogia em outros tribunais. O chefe da PGR também defendeu que, de acordo com a legislação brasileira, somente um membro do MP pode investigar outro membro da instituição.

 

"Não se trata somente de investigar membros do MPF no que toca à chamada força-tarefa da Lava-Jato. Se trata de um expediente que pode atingir todos os tribunais brasileiros no que toca a todos os membros do Ministério Público brasileiro", declarou Aras.

 

Sem ter especificado quais ações judiciais pretende tomar, Aras disse ainda, na mesma reunião, que pode recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos para barrar o procedimento no STJ .