Em uma das conversas, hacker disse que se não tivesse tido iniciativa de vazar supostas conversas de Moro, o Brasil iria "quebrar"
Por Estadão Conteúdo
A Polícia Federal (PF) apontou que o contato do hacker Walter Delgatti Neto, preso em julho, com a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) durou nove dias. O inquérito sigiloso, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, indica que os dois conversaram, via aplicativo de mensagens, entre os dias 12 e 20 de maio deste ano.
Ao inquérito da Operação Spoofing — que investiga a invasão de celulares de autoridades do País — foram incluídas 38 reproduções de tela de celular de conversas. A organização das mensagens foi feita pela própria defesa de Manuela.
“Quero Justiça, não quero dinheiro”, diz o hacker em uma das conversas com a ex-deputada, acrescentando ter “oito teras (bytes) de coisa errada”. Em outro trecho, Manuela afirma que o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, era a “melhor pessoa” para receber o conteúdo hackeado.
Delgatti Neto, por sua vez, diz que não havia pensado no nome do jornalista antes, mas depois afirmou que a indicação foi a “melhor saída”. “Era tudo o que eu precisava. Mas acredito que não caiu sua ficha (de Greenwald) ainda”, avaliou. Manuela, por sua vez, discorda: “Caiu, sim. Por isso pensei no jornalista mais capaz e com credibilidade mundial”.
Resumo do caso
A Operação Spoofing desarticulou uma "organização criminosa que praticava crimes cibernéticos". As investigações dizem que o grupo acessou contas de Telegram de autoridades.
Um dos presos, Walter Delgatti Neto, admitiu à PF que entrou nas contas de procuradores da Lava Jato e confirmou que repassou mensagens ao site The Intercept Brasil; ele disse não ter alterado o conteúdo e não ter recebido dinheiro por isso Delgatti afirmou que a ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) foi a intermediária entre ele e o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept.
A ex-deputada confirmou a conversa e disse que repassou ao invasor o contato de Glenn
O juiz federal Vallisney de Oliveira, que autorizou as prisões, viu indícios de que 4 pessoas se uniram para invasão da contas de Telegram do ministro Sergio Moro e outras autoridades
Investigadores dizem que os hackers tiveram acesso ao código enviado pelos servidores do aplicativo Telegram ao celular das vítimas para abrir a versão do aplicativo no navegador (veja mais detalhes abaixo)
Cerca de 1 mil diferentes números telefônicos foram alvo do mesmo modus operandi, diz a PF
Segundo o juiz, um relatório da PF diz que dois investigados movimentaram, juntos, mais de R$ 627 mil entre março e junho
A PF fez buscas em diversos endereços e apreendeu R$ 100 mil na casa de um dos presos
O DJ Gustavo Santos disse em depoimento que Walter Neto queria vender ao PT as mensagens que obteve
A defesa de Walter Neto diz que ele tem problema psiquiátrico
O que ainda não se sabe
Não se sabe o papel de cada um dos presos na suposta organização criminosa e qual a relação entre eles
Não está clara a origem dos R$ 100 mil apreendidos na casa de um dos suspeitos e não há detalhes sobre a movimentação dos R$ 627 mil
A PF não informou o que os hackers conseguiram extrair do Telegram das vítimas e o que foi feito com esse material
Também não se sabe o que os supostos criminosos fizeram com dados pessoais obtidos
A PF não informou todas as pessoas que tiveram o celular atacado
Quais autoridades foram vítimas da invasão?
Jair Bolsonaro, presidente da República
Rodrigo Maia, presidente da Câmara
Davi Alcolumbre, presidente do Senado
João Otávio de Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça
Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública
Abel Gomes, desembargador do TRF da 2ª Região
Flávio Lucas, juiz da 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro
Rafael Fernandes, delegado da Polícia Federal em São Paulo
Flávio Vieitez Reis, delegado da Polícia Federal em São Paulo
Outros nomes também podem ter sido alvo de ataques.