Na Fiesp, Lula omite operações da PF e ignora suspeitas de corrupção em estádios da Copa

Posted On Quarta, 10 Agosto 2022 07:20
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Fiesp, Josué Gomes; petista visitou a entidade nesta terça-feira O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Fiesp, Josué Gomes; petista visitou a entidade nesta terça-feira Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) minimizou nesta terça-feira, 9, denúncias de corrupção envolvendo estádios em obras da Copa do Mundo de 2014, em sua sabatina com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O petista se utilizou de um antigo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) para dizer que não houve corrupção nos estádios.

 

Por Luiz Vassallo

 

No entanto, operações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP) deflagradas recentemente apuraram suspeitas de desvios e corrupção em pelo menos três estádios. Os casos estão sob análise da Justiça Eleitoral após entendimento de que os desvios abasteciam o caixa de 2 de campanhas de políticos.

 

“Não sei se vocês sabem, mas eu acho que uma das coisas que fizeram o País perder a Copa do Mundo da forma vergonhosa que perdeu era o clima de instabilidade que estava nesse País, que envolvia jogador, técnico, todo mundo.” afirmou o ex-presidente.

 

Lula disse ainda ter tido uma conversa com Valmir Campelo, que foi relator do processo de acompanhamento de obras e investimentos públicos nos estádios no TCU. “Eu queria saber em quantos estádios tinha havido corrupção e, para a minha surpresa, ele me entregou um relatório mostrando que nenhum estádio tinha havido corrupção.”

 

Lula ainda afirmou ter indagado o ministro. “E eu disse: como você deixou durante meses e meses se vender a ideia de que a corrupção estava imperando nos estádios. ‘Ah, porque a gente não podia falar. Se a gente falasse contra, a gente apanhava’”, disse o petista.

 

De fato, o TCU chegou a apontar atrasos e até aumento dos preços dos estádios em relação aos seus projetos originais. No entanto, não constatou má-fé do poder público. O acompanhamento se deu durante as obras, a partir de 2012, e até pouco depois desse período.

 

Operações

A fala de Lula omitiu que nos anos seguintes aos trabalhos do TCU, a PF realizou uma série de operações durante investigações de supostos desvios de dinheiro na construção dos estádios.

 

No Rio Grande do Norte, por exemplo, investigações sobre contratos da OAS para a construção da Arena das Dunas chegaram a resultar em denúncias à Justiça contra políticos. A investigação foi parar na Justiça Eleitoral e ainda não foi julgada. A suspeita do MP é a de que tenha havido superfaturamento de R$ 77 milhões, além de pagamento de propina a agentes públicos.

 

Em Brasília, o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1) recentemente enviou à Justiça Eleitoral um processo contra políticos por suspeita de esquemas de propinas e fraudes na construção do Mané Garrincha. Investigadores chegaram a apontar superfaturamento no estádio, que custou R$ 1,5 bilhão, conforme as investigações.

 

No Rio de Janeiro, o Ministério Público chegou a ajuizar ação civil pública, em 2017, pedindo que fossem devolvidos aos cofres do Estado cerca de R$ 200 milhões superfaturados nas obras do estádio do Maracanã – que foi palco da final da Copa em 2014.

 

Em São Paulo, o Ministério Público Federal chegou a investigar a cúpula do Corinthians em razão da construção da Arena Corinthians, em Itaquera, mas o inquérito, que tinha como base a delação da Odebrecht, foi arquivado.