O SUCATEAMENTO DOS PARTIDOS. E DAS LIDERANÇAS POLITICAS: PÉROLAS DE JOSE SARNEY

Posted On Quarta, 29 Mai 2019 07:15
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O quê esperar de uma classe política em que, após o período militar e a redemocratização do País, com eleição direta para presidente da República, apenas três dos set presidente eleitos não foram presos ou cassados – José Sarney, o saudoso Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

 

Por Edson Rodrigues

 

Temos um ex-presidente condenado e preso, um que entra e sai da prisão, um ex-presidente da Câmara dos Deputados condenado e preso, ex-ministros presos e outros em liberdade vigiada pela vexatória tornozeleira eletrônica.

 

Nos estados, governadores cassados, processados, com bens bloqueados ou confiscados, prefeitos presos, outros cassados, ex-presidentes de Assembleias legislativas e câmara Municipais, presos, condenados e outros respondo a processos, deputados estaduais que saem da cadeia para legislar e, depois, voltam para dormir no xilindró.

 

Trocando em miúdos, 92% da classe política são formados por corruptos, homens que usam de seus cargos públicos eletivos para prevaricar, corromper, deixar-se corromper, traficar influências e enriquecer a custa de vidas de cidadãos de bem.

 

Em entrevista ao Correio Braziliense, o ex-presidente José Sarney, que também andou tendo suas rusgas com a Justiça, fez um rara e lúcida análise dos tempos atuais por que passa a política brasileira, com pérolas de extrema coragem e sobriedade política.

 

PARTIDOS INSIGNIFICANTES, INSTITUIÇÕES TRINCADAS

“O Brasil vive uma crise sem partidos, porque quando temos 60 partidos, entramos na lei do Montesquieu, que diz que quando temos muitos partidos, não se tem nenhum. Nós, também, estamos com uma classe política vivendo a crise da democracia representativa, isso é no mundo inteiro, os políticos estão demonizados. Quando se fala em presidencialismo de coalizão, é melhor dizer presidencialismo sem partido. Vamos citar uma frase do Clinton, que é muito apropriada: “Os partidos no mundo atual não são importantes para a eleição, mas sem eles é impossível governar”. Ou seja, eles precisam estar estruturados, e se governa por meio de partidos, senão é uma situação anárquica e niilista que vamos viver.” afirmou Sarney, ao falar da crise política que afeta diretamente a credibilidade dos partidos políticos junto à opinião pública.

 

Para o ex-presidente, a Constituição de 1988, criou um sistema frágil e híbrido de governo, em que se confundem formas de administrar do parlamentarismo e do presidencialismo.

 

“As perspectivas que temos e que estão sendo construídas nos levam a esperar, lá na frente, um impasse grande, que pode ser a pequeno, a médio ou a longo prazo, mas a verdade é que ele vai ocorrer. Por quê? Porque a Constituição de 1988 criou todas as condições para levarmos o Brasil a essa situação que estamos vivendo. Ela (a Constituição) é híbrida, é parlamentarista e presidencialista, deu ao Parlamento poderes executivos e deu ao Executivo poderes parlamentares, com as medidas provisórias que fez. E o Parlamento precisa aprovar todas as medidas que o Executivo tem que tomar”.

 

Sarney vê os Três Poderes com abalos estruturais, sem perspectivas de melhora e cita, inclusive, um quarto poder que afeta negativamente os três primeiros.

 

Ex-presidente Fernando Collor

 

“Pela primeira vez, estamos em um momento que é imprevisível, é preciso buscarmos e tirarmos uma medida mágica para resolver isso. Porque as coisas acontecem não porque vão acontecer, mas porque são levadas por um conjunto de fatores, que levam tempo para acontecer e chegam a essa situação, que nós vivemos atualmente, com a fratura no Poder Judiciário, no Poder Legislativo e no Poder Executivo. Todas essas estruturas estão em um momento de abalo. Como os cristais, estão trincadas. Outra coisa é a crise da democracia que está se vivendo no mundo inteiro. Crise da democracia liberal. Os ingleses levaram 700 anos para construir esse sistema atual em que vivemos, da democracia representativa, dos Três Poderes, cada um controlando o outro. O Brasil acrescentou mais um poder, destruindo e desestabilizando todos os três: o Ministério Público”.

 

O GOVERNO BOLSONARO E A APOSTA NO CAOS

 

Sobre o atual presidente, Jair Bolsonaro, Sarney não fala nem mal nem bem, mas não o considera um líder, o acha ingênuo e vê seu governo como uma nau sem rumo, que aposta em apenas na reforma da Previdência para a solução de todos os problemas, quando seria preciso fazer todas as reformas de forma conjunta.

 

“A política é a arte do possível. Eu acho que tem que se lidar com realidades, e a realidade atual é que o presidente não tem maioria consolidada dentro do Congresso, nem nós temos hoje partidos, nem lideranças políticas, e vivemos uma crise muito grande. O presidente Bolsonaro está no meio de um furacão. A crise internacional de recessão catalisou a crise brasileira. Estamos em um momento da história mundial em que presenciamos não um mundo de transformação, mas um mundo transformado. Temos que compreender que estamos, no Brasil, muito atrasados para enfrentar essa crise que o mundo está vivendo. Então, o presidente Bolsonaro está tendo que enfrentar esses problemas, todos mundiais. Era o momento de nós termos um presidente que tivesse uma visão de todas essas modificações que vive o mundo, para poder enfrentá-las.

 

Ele (Bolsonaro) está colocando todas as cartas na ameaça do caos. E isso, na realidade, aumenta os problemas que nós vivemos, porque desapareceram as utopias e nós não podemos matar a esperança. O que se vê é que todo dia se dá uma solução, uma visão escatológica do fim do mundo, em face da reforma da Previdência, sem se oferecer outras perspectivas de esperança. Quando se mata as utopias, é difícil que se sustentem as expectativas do país somente com uma reforma. A reforma da Previdência é extremamente necessária, mas está também ao lado da reforma administrativa, da política, da tributária, da fiscal. Todas as cartas estão jogadas em um único objetivo.

 

Eu acho que o Bolsonaro está sendo vítima de uma leitura errada que ele fez. Ele achou que, quando ganhasse a eleição, superando essa visão internacional de que o Brasil era um país de esquerdista, porque estava alinhado com a Venezuela, Cuba e outros países socialistas, iria receber dos americanos e da economia internacional um apoio muito grande, que imediatamente atrairia para o Brasil investimentos e nós iríamos crescer. Na realidade, de certo modo, acho que não tem ninguém mais decepcionado com isso do que ele, porque foi logo visitar o Trump mostrando essa visão. E, na realidade,o Trump não deu nada. A visão do Trump é nacionalista, América acima de tudo.

 

Eu acho que Bolsonaro foi ingênuo. Na realidade, hoje, o que nós vemos é que o primeiro importador do Brasil é a China. E que a China está marchando para ser, dentro de 10 anos, o primeiro país do mundo. Inclusive, o general Mourão com uma prova de lucidez, está indo para lá. Ele sempre foi tido no Exército como um homem de grande capacidade, sempre teve grandes missões, sobretudo, na área internacional”.

 

NOSSA OPINIÃO

A entrevista de Sarney deveria virar uma espécie de “livro de cabeceira” para os políticos atuais.  Ninguém passa 52 anos na vida pública sem aprender com seus erros e acertos.  E Sarney mostra que aprendeu – e muito!

 

Ex-presidente Dilama

 

Aos expor as feridas dos Três Poderes e os problemas de falta de um plano concreto de governo por parte de Bolsonaro, ele está, na verdade, fazendo um alerta para que o País não ande para trás e não volte a viver problemas que ele próprio, Sarney, enfrentou, como o desemprego e a hiperinflação.

 

O Brasil e seus políticos deveriam ter aprendido com isso e evitar que a situação chegasse ao nível em que está, hoje.

 

Com as palavras que proferiu, Sarney dá um presente para a classe política e partidária do País.

 

Tive o privilégio de ler, reler, interpretar e discutir essa entrevista com amigos, membros de vários poderes.  Todos foram unânimes em afirma que, dificilmente, outro ex-presidente da república terá a coragem de Sarney em “abrir o verbo” e expor as feridas da política nacional.

 

COMO MUDAR ESTE QUADRO CAÓTICO?

O único caminho para mudar esse quadro caótico que atormenta a vida dos brasileiros passa exatamente por quem mais sofre com essa situação, que é o cidadão, principalmente, o menos favorecido.  Há que se criar mecanismos para que o voto seja, realmente, a maior arma de transformação, pois é o povo quem vota nos políticos.

 

Esclarecer ao povo quem realmente é capaz de legislar ou governar, que está interessado apenas no bem público e não nos bens públicos, é o papel nosso, da imprensa. agora, de nada vale cumprirmos com o nosso dever se os cidadãos continuarem a trocar seus votos por caixas de cerveja, botijões de gás, cargos apadrinhados e contas de luz pagas.

 

Ex-presidente Fernando Henrique

 

Ainda temos operações como a Lava Jato para ajudar na depuração política, mas o eleitor também precisa fazer a sua parte, afinal, mesmo com todos os avanços da comunicação, das mídias sociais, da liberdade de imprensa, ainda vemos, eleitos e reeleitos, muitos “corruptos de carteirinha” que se valem dos votos e de bons advogados para continuar sua saga de sugar o dinheiro público.

 

Que a entrevista de Sarney sirva de lição para as futuras gerações de eleitores e para os políticos e os pretensos políticos de todo esse Brasil varonil!

 

O TOCANTINS TAMBÉM PRECISA APRENDER

Infelizmente, o Tocantins, ironicamente criado pela criticada – por Sarney - Constituição de 1988, o Estado-caçula do Brasil, é o atual campeão em operações de combate à corrupção dos órgãos investigativos federais.  Internamente, a própria Polícia Civil do Estado também tem muito trabalho, com prisões de vereadores que teimam em tentar fazer o povo de bobo e metem a mão no erário público sem nenhum pudor, certos de que a impunidade que ocorre lá em cima também serve pra eles, que estão cá embaixo.

 

São inúmeros os processos referentes às operações da Polícia Federal em andamento na Justiça Estadual e na Federal.  E novas operações ainda estão por vir no território tocantinense, segundo fontes em Brasília.

 

Já nem se pode mais falar em “surpresa” em relação ao que está por vir para os maus políticos tocantinenses, oriundo dos poderes Judiciais federais, das Cortes de Contas, da Justiça Eleitoral, do Ministério Público – estadual e federal.

 

As eleições municipais de outubro de 2020 podem ser o pontapé inicial para que, inspirados no alerta de Sarney, os eleitores tocantinenses iniciem o seu próprio ciclo de depuração dos políticos locais, elegendo apenas pessoas capazes, honradas e sábias, deixando os fichas-sujas para se relacionarem apenas com os votos dos tribunais.

 

Que nossas autoridades, membros dos poderes Judiciários, Eleitoral e dos Tribunais de Contas, deem celeridades aos processos em andamento par que, já em 2020, sejam poucas as chances dos eleitores tocantinenses terem candidatos duvidosos a competir pelos seus votos.

 

Amém!