Nos bastidores, aliados de Bolsonaro temem desgaste do ex-presidente e articulam mais vagas na comissão
Por Bruna Lima
Apesar de questionamentos quanto à distribuição de vagas na comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para apurar os atos extremistas de 8 de janeiro e das investigações mirando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a oposição no Congresso reafirma o interesse na instalação do colegiado, que deve ocorrer na próxima semana.
A previsão anterior era a instalação na semana do dia 1º. Contudo, o período foi tomado pelas articulações em torno do projeto de lei das Fake News, que acabou sendo retirado de pauta pela falta de acordo para aprová-lo. Tanto o Senado quanto a Câmara também aguardavam a decisão do presidente da Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre questões de ordem que interferiam na proporcionalidade das cadeiras na CPMI.
Pacheco foi contrário ao pedido da oposição que buscava garantir uma vaga para o Novo na Câmara e uma para o Bloco Vanguarda, formado pelo PL e o Novo no Senado. Com isso, os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perdem duas cadeiras na comissão.
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), recorreu da decisão internamente, junto à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), mas disse que não pretende judicializar o caso. A estratégia é indicar os membros para as duas cadeiras disponíveis enquanto aguarda resposta do recurso, sem a pretenção de adiar os trabalhos.
"Vamos aguardar que o Congresso decida sem que isso signifique, da nossa parte, uma tentativa de procrastinação. Queremos e conclamamos que isso não aconteça, que não sirva de desculpa para a não instalação", afirmou Marinho.
A movimentação do Novo na Câmara é mais ofensiva. O presidente da legenda, Eduardo Ribeiro, afirmou que vai entrar com mandado de segurança na Justiça contra a distribuição das vagas.
A pressão para a abertura da CPMI vem da oposição, que quer usar os trabalhos para investigar a suposta omissão do governo federal em impedir as invasões aos prédios da Praça dos Três Poderes. No entanto, parte dos parlamentares aliados a Jair Bolsonaro temem que o momento não seja propício para a instalação por causa das recentes operações da Polícia Federal envolvendo o ex-presidente.
Desde que voltou dos Estados Unidos, Bolsonaro prestou dois depoimentos à Polícia Federal — no caso das joias e dos atos de 8 de Janeiro — e deve passar por nova oitiva nas investigações sobre fraude nos certificados de vacinas.
A base do governo só intensificou o movimento para garantir o comando dos trabalhos por avaliar que a instalação seria inevitável. Isso ocorreu depois da divulgação das imagens do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias em meio aos vândalos durante a invasão ao Palácio do Planalto.
Futuro da CPMI
As lideranças se movimentam para montar uma estratégia sobre quais pessoas serão convocadas para depor no colegiado. Pelo lado dos aliados ao governo, há a expectativa da convocação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres. Já a oposição vai apostar na apresentação de documentos e no depoimento do ex-ministro do GSI Gonçalves Dias.
Já há nomes confirmados pelas lideranças partidárias e outras articulações avançadas. O governo trabalha para consolidar um pelotão experiente e midiático, com nomes como Renan Calheiros (MDB-AL), Eduardo Braga (MDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senadores que integraram a CPI da Pandemia.
A oposição também trabalha para emplacar políticos de grande visibilidade, mas para defender a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo filhos dele e ex-ministros.