“Numa negociação muito delicada, não se deve apresentar de uma só vez as condições ou exigências estabelecidas por cada parte”
TANCREDO NEVES
Por Edson Rodrigues
Apesar de seu comportamento explosivo, natural da sua personalidade, falando sempre o que pensa, sem meias-palavras, o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro sabia que precisaria fazer o que pudesse, ao extremo, para evitar que o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) fosse eleito presidente do Congresso, como queria o ex-presidente, Rodrigo Maia, pois a vitória de candidato “oposicionista” significaria caminho aberto para a instalação de processo de impeachment.
Rodrigo Maia e Baleia Rossi
Mais que isso, mesmo sem o impeachment, seriam mais dois anos tendo seu governo “amarrado” como foi nos dois anos com Rodrigo Maia comandando o parlamento.
E, conhecendo Jair Bolsonaro como passamos a conhecer depois de eleito presidente da República, as chances de as rusgas com o Congresso virarem uma justificativa para uma tentativa de ditadura, o que não seria bom para absolutamente ninguém no País.
CENTRÃO X CORRUPÇÃO
Para um especialista em política muito respeitado, que conhece a convivência dos poderes e acompanha diariamente os fatos políticos em Brasília, ao contrário do que muitos vêm falando, o ”renascimento” do centrão com a chegada de Arthur Lira à presidência da Câmara Federal, pode significar, até, um governo mais tranquilo para Jair Bolsonaro, mas pode ser, também, uma faca de dois gumes, uma vez que o próprio Lira não terá condições de cumprir as promessas que ele, pessoalmente, fez, para angariar os votos que necessitava, logo, se por um lado o presidente da República pode endurecer o jogo com os parlamentares do centrão em relação à voracidade por cargos e recursos, por outro, o próprio presidente da Casa, Arthur Lira vai precisar do auxílio do Planalto para manter seus compromissos.
Pensando dessa forma, não há uma relação direta entre a aproximação com o centrão e um hipotético relaxamento no combate à corrupção, aquela relação “toma-lá-dá-cá” que a grande mídia tanto alardeia ao lembrar frases do ministro Paulo Guedes, associando, claramente, o centrão à corrupção.
Neste caso, precisaremos esperar para ver como cada lado vai agir, até podermos suscitar um posicionamento ou tecer análises.
DESEJO X NECESSIDADE
Esse mesmo especialista faz uma análise precisa do que vem sendo a “era Bolsonaro”. Segundo ele, logo depois que o presidente assumiu, o Brasil vinha muito bem, obrigado, em termos de desenvolvimento, com a economia equilibrada, a corrupção sendo combatida quase que em tempo real, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES registrando lucros, estatais, com9o a Petrobras, se recuperando da era PT de governo, privatizações em curso dos aeroportos, ferrovias, empregos em crescimento, investimentos internacionais chegando a todo momento, preços dos combustíveis sob controle e, principalmente a inflação controlada, com o Real mantendo uma valorização constante, oxigenando e fazendo a economia crescer.
Era o desejo de todo brasileiro, o governo com que todos contavam.
De repente, aconteceu a pandemia, e tudo o que era desejo, virou necessidade.
Junto com a Covid-19, veio a saída conturbada do ministro Sérgio Moro, que caiu atirando para todos os lados, atiçando os poderosos no Congresso Nacional a pressionar o governo, a Justiça Federal e o STF por conta das operações e prisões da Polícia Federal, mas nada que fosse mais pesado e urgente que o avanço do coronavírus no País.
Bolsonaro não teve uma visão perfeita da situação acerca da pandemia, talvez influenciado pelas ações de seu “espelho”, o ex-presidente americano Donald Trump. Primeiro veio o negacionismo, depois, a aposta na cloroquina, os embates com o ex-ministro da Saúde que via a pandemia com olhos diferentes e apresentava bons resultados e, por isso, acabou demitido e substituído por outro, que nem chegou a “esquentar a cadeira”.
O resultado disso foi um aumento exponencial no número de mortes, a entrada no Brasil em um vergonhoso grupo de países que não tomaram medidas nem a tempo nem necessárias para o combate ao inimigo invisível, e um isolamento do País pela comunidade internacional.
A partir desse momento, a pandemia saiu do controle, a crise de saúde tomou grandes proporções, com reflexos imediatos na economia, com a necessidade do pagamento do auxílio emergencial aos que foram proibidos de sair às ruas para trabalhar, o que acabou com as reservas monetárias do País e foi iniciada uma guerra entre os que defendiam a permanência dos cidadãos em casa e os que queriam comércio e indústrias funcionando.
OPORTUNISMO NEFASTO
Os gatos com o auxílio emergencial já chegam a mais de 400 bilhões de reais, saídos dos cofres públicos sem que houvesse um fundo prévio para isso, beneficiando mais de 70 milhões de brasileiros. Mas, o dinheiro acabou, os repasses foram diminuindo, filtrando cada vez mais as pessoas que teriam direito, sofreu fraudes, deixou muita gente que precisava, legitimamente, dessa ajuda, de fora do programa de pagamentos e, com isso, a popularidade do presidente Bolsonaro que já vinha cambaleando, caiu drasticamente, colocando seus atos e ações do governo sob os holofotes mais críticos da mídia.
O dinheiro que o governo destinou, paralelamente, ao combate da pandemia, foi desviado por gestores que agiram sob um oportunismo nefasto, ignorando as milhares de vidas que se iam a cada centavo desviado. Foram mais de 200 bilhões de reais enviados a estados e municípios. Um terço disso, desapareceu nas mãos de corruptos da pior espécie, aquela que joga com vidas humanas em benefício dos próprios bolsos.
Esse descontrole quanto aos gastos das verbas federais levou os políticos a outro tipo de oportunismo perverso, que foi usar a bandidagem de seus pares, gestores, contra o governo que se via sem outra opção, senão a de enviar recursos na tentativa de salvar vidas.
Se o prefeito ou o governador desviou recursos, para esses políticos da oposição, a culpa era do presidente Bolsonaro, que lhes enviou dinheiro.
A explosão no número de mortos pela Covid chegou à casa do milhar, por dia, no Brasil. A paralização econômica gerou desemprego, falências e protestos e as eleições na Câmara Federal e no Senado estavam próximas de acontecer. Assim, o governo se viu de mãos atadas, tendo apenas um caminho a seguir: cooptar votos do chamado centrão, para garantir que as presidências do senado e da Câmara fossem, ao menos, neutras em relação ás ações da presidência da República.
Com toda essa conjectura socioeconômica e política, Jair Bolsonaro não teve alternativa, senão colocar seu time de líderes no Congresso e no Senado, e seus principais auxiliares, para mobilizar os aliados e convencer parlamentares de que ou seus candidatos venciam as eleições nas duas Casas de Lei, o seu governo estaria à mercê de um impeachment, e o Brasil à beira do caos e do retrocesso.
A tarefa foi cumprida com louvor por políticos como o senador tocantinense Eduardo Gomes, líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara Federal, pelos demais líderes e vice-líderes na Câmara Federal, ministros e os próprios candidatos, coordenados pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro, e tanto Eduardo Pacheco, no Senado e Arthur Lira, na Câmara dos Deputados, foram eleitos com sobras.
Mas, Bolsonaro sabe dos riscos que essa aproximação forçada com o centrão podem acarretar ao seu governo.
Senador Eduardo Gomes e o presidente Jair Bolsonaro
Como já foi explanado acima, essa aproximação não significa portas abertas à corrupção ou à satisfação dos desejos dos componentes do centrão. Algumas concessões terão que ser feitas, mas tudo dentro do aceitável, da constituição, da moral e da ética.
Bolsonaro se livrou do risco do impeachment, mas tomou para si o compromisso de não se deixar cair em tentação, fazendo aprovar as reformas tributária, fiscal e trabalhista, passar as privatizações, ao mesmo tempo em que terá que fazer o Brasil avançar na vacinação contra a Covid-19 de forma rápida e eficaz, o que permitirá a volta da vida normal, o aquecimento econômico e o desenvolvimento do País.
Do contrário, todo o trabalho e desgaste para vencer as eleições na Câmara e no Senado terão sido apenas um adiamento de um fim que nem Bolsonaro nem seu grupo político, muito menos a população brasileira, querem.
Por hoje é só!