Perícia levou em consideração o valor de mercado do ouro e as mais de 2.200 pedras preciosas das joias; inquérito está sob sigilo
Por Natália Martins e Renata Varandas
A Polícia Federal considerou que um dos conjuntos de joias de origem saudita que o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente ao Brasil vale R$ 5,1 milhões, ao contrário da avaliação inicial da Receita Federal — R$ 16,5 milhões. A Record TV verificou que a perícia da PF levou em consideração o valor de mercado do ouro e as mais de 2.200 pedras preciosas das joias, sem ponderar a marca dos objetos. A perícia da PF é sigilosa e foi anexada ao inquérito do caso.
O conjunto, da marca Chopard, encontrava-se dentro de uma caixa de couro, revestida de veludo, e compunha-se de um colar de ouro branco com dezenas de pingentes, todos adornados com diamantes. A corporação chegou a enviar investigadores à Suíça para atestar o real valor das joias.
No retorno ao Brasil, as joias
foram identificadas dentro da bagagem de um assessor de Albuquerque. Ao checar o conteúdo de uma mochila, os fiscais se depararam com a escultura de um cavalo de aproximadamente 30 centímetros, com as patas quebradas.
Os fiscais ainda encontraram outro objeto na bagagem do ex-assessor de Albuquerque. No Brasil, é obrigatória a declaração ao Fisco de qualquer bem que entre no país cujo valor seja superior a US$ 1 mil. A retirada formal e correta das joias apreendidas pela Receita Federal, neste caso, custaria R$ 12,3 milhões.
Joias avaliadas em R$ 16,5 milhões e escultura dourada de um cavalo de aproximadamente 30 centímetros estão entre os objetos apreendidos pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos (SP), em outubro de 2021, com um assessor que trabalhou durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
As peças de luxo tinham sido dadas de presente pelo governo da Arábia Saudita à então primeira-dama Michelle Bolsonaro. No entanto, um assessor do ex-ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) tentou entrar com os itens no Brasil pelo aeroporto de Guarulhos, sem declará-los à Receita Federal, uma ação considerada ilegal.
Outras joias
Após a divulgação do caso, também foi revelado que o ex-presidente ficou com outro kit de joias dado pela Arábia Saudita. Avaliado em cerca de R$ 500 mil, o conjunto, composto de relógio Rolex, caneta, anel, abotoaduras e masbaha (um tipo de rosário), foi dado a Bolsonaro em 2021. O valor estimado do relógio é de R$ 364 mil. A defesa de Bolsonaro entregou os objetos, em março, à Caixa Econômica Federal.
O ex-presidente voltou com o conjunto de joias para o Brasil e deu ordens para que os itens fossem levados a seu acervo privado. Um formulário de encaminhamento de presentes para o presidente foi preenchido, com a especificação de cada item do conjunto de joias.
A guarda dessas joias permaneceria no acervo privado de Bolsonaro por mais de um ano e meio, até que, já no ano passado, o então presidente deu novas ordens, em 6 de junho de 2022, para ficar com as peças. Dois dias depois, conforme os registros oficiais, as joias já se encontravam "sob a guarda do presidente da República".
Em abril deste ano, Bolsonaro compareceu à sede da Polícia Federal em Brasília para prestar esclarecimentos sobre os presentes da Arábia Saudita. Na ocasião, o ex-presidente negou irregularidades e disse que soube das joias um ano depois da apreensão.