Raquel Auxiliadora, vereadora de São Carlos, no interior de São Paulo, pede que Paraná Filho seja condenado por violência política de gênero. Na sessão, vereador negou ter xingado a parlamentar; procurado pelo 'Estadão', ele não foi localizado
Por Gabriel de Sousa
A vereadora Raquel Auxiliadora (PT), do município de São Carlos, no interior de São Paulo, apresentou nesta quinta-feira, 9, notícia-crime ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) contra o também vereador Paraná Filho (PP), após ter sido chamada por ele de "cara de vaca" em sessão da Câmara Municipal.
Na última terça-feira, 7, o vereador afirmou que os parlamentares do PT na Casa eram "caras lavadas", ao criticar a suposta falta de transparência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a agenda da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. O parlamentar chamou Raquel Auxiliadora de "cara de vaca", mas se corrigiu em seguida, afirmando que ela era uma "cara de pau". Paraná Filho não foi localizado pelo Estadão para comentar o caso.
"Por que que o Lula e o PT esconderam com quem que a Janja se reúne? Por que sigilo, vereadora cara de vaca... de pau, cara lavada? A senhora não quer informação? Não é a vereadora que pede transparência?", perguntou o vereador.
Ao ser questionado por Raquel na sessão sobre a declaração, Paraná Filho negou ter chamado a vereadora de "cara de vaca" e disse que não usaria o termo "em respeito ao animal".
"Não chamei, em nenhum momento, essa senhora de cara de vaca. Jamais falaria. Chamei ela de cara lavada, que é o que ela, de fato, é e sustento aqui em qualquer lugar. Profundo respeito às vacas, jamais compararia ela com as vacas, jamais", disse.
A defesa de Raquel pede que o parlamentar seja condenado por violência política de gênero, crime com pena de reclusão de um a quatro anos e multa. Na petição, a parlamentar cita o julgamento do deputado estadual do Rio Rodrigo Amorim (União Brasil), que foi condenado a um ano e quatro meses de reclusão e multa de 70 salários mínimos por ter chamado uma vereadora de Niterói de "boizebu" e "aberração da natureza".
"Vale lembrar que os termos como 'vaca' e 'cachorra' são exemplos claros de linguagem misógina e depreciativa que são frequentemente usados para desvalorizar e diminuir as mulheres. 'Vaca', por exemplo, muitas vezes é empregado para difamar mulheres que desafiam normas de gênero ou que se recusam a se conformar com expectativas tradicionais de feminilidade", diz a representação.
Ao Estadão, Raquel disse que é alvo de outras ameaças feitas pelo parlamentar. "Em vários momentos, ele me comparou com animais. Se tivesse um bingo da violência política de gênero, ele teria a cartela cheia. A gente vê a lei e a jurisprudência e nota que ele fez todos os elementos possíveis", afirmou a vereadora do PT.
Segundo o advogado Renato Ribeiro de Almeida, que representa Raquel, a cliente não pode ser "humilhada por sua condição de mulher". "No caso, foi dito que a vereadora tinha 'cara de vaca' e, depois, o vereador disse que não a comparou a uma vaca por respeito às vacas. Além de ser absurdo, é crime", disse.