Interlocutores de Lula que tentam uma pacificação com os fardados relatam que o ministro do Supremo é a “senha da indignação” no meio militar
Por Marcela Mattos, Daniel Pereira
Interlocutores do presidente Lula que buscam uma pacificação com os militares têm se deparado com uma especial resistência a uma figura que não faz parte do governo, mas passou a ser vista como um aliado do petista. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), costuma ser sempre lembrado por militares da ativa e da reserva como um ponto de discórdia. De acordo com uma pessoa influente do governo, o magistrado representa a “senha da indignação”.
Moraes está à frente de inquéritos que investigam o ex-presidente Jair Bolsonaro, acatou uma série de ações apresentadas por Lula na Justiça Eleitoral durante a campanha e, mais recentemente, determinou a prisão do ex-ministro e ex-secretário de segurança Anderson Torres e o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, após os atos de vandalismo protagonizados na capital federal em protesto à eleição de Lula.
Um dos militares que demonstraram insatisfação com Moraes foi o almirante Garnier Santos, ex-comandante da Marinha. Em um ato inédito, ele se recusou a participar de qualquer reunião com o ministro da Defesa, José Múcio, durante o processo de transição do governo e sequer compareceu à posse do seu sucessor, o almirante Marcos Sampaio Olsen. Em um desabafo, justificou as atitudes pela proximidade que mantém com o ex-presidente Jair Bolsonaro e logo emendou uma série de críticas ao ministro do Supremo, tratado como um dos responsáveis pela derrota do ex-capitão.
Um outro militar que acompanhou as manifestações na capital federal acusa o ministro de cometer “atrocidades” ao mandar prender Torres e o ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Vieira, e afirma que o ordenamento jurídico está sendo rasgado por Moraes.
“Estão pedindo a cabeça geral. Acho que é uma coisa muito ruim para o país. Pune os financiadores, mas ficar nessa de indiscriminadamente punir a gente entra num buraco sem fim”, afirmou um general, que não descarta a possibilidade de Moraes passar a pedir a prisão de militares.
Por outro lado, na visão petista, o ministro do STF tem sido cada vez mais celebrado. Internamente, ele é tratado como um fiador da democracia brasileira e uma pessoa que faz um “sacrifício pessoal” altíssimo em busca de manter a ordem democrática. “Não vejo nenhum exagero e, se tiver tido algum, diante da ameaça iminente, acho que foi necessário”, afirma uma liderança governista.
Moraes, além de ter acatado o pedido de antecipação para a diplomação de Lula na Justiça Eleitoral, o que validou a vitória nas urnas, é apontado como uma das pessoas que sugeriram à equipe do petista também antecipar o anúncio dos novos comandantes das Forças Armadas, o que automaticamente minaria a influência dos militares de Bolsonaro nos últimos dias de governo.
Dentro do PT, apesar de aplaudido, Moraes é visto como uma pessoa belicosa e que pode, em algum momento, acabar se voltando contra o partido. Mas isso é um problema mais para frente.