Aliados de Bolsonaro buscam abrigo no PSL para eleições estaduais em 2022

Posted On Quarta, 09 Junho 2021 06:54
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O prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB); o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE); e o governador do Tocantins, Mauro Carlesse: planos de desembarque no PSL O prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB); o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE); e o governador do Tocantins, Mauro Carlesse: planos de desembarque no PSL

Além de acesso a recursos, filiação ao partido envolve cálculo de distância segura em relação ao presidente, que recebeu convite do Patriota

 

Por Bernardo Mello

 

Apesar da aproximação da família Bolsonaro com o Patriota, aliados do presidente Jair Bolsonaro em diferentes estados buscam abrigo no PSL para disputar as eleições de 2022, de olho nos recursos do fundo eleitoral e no tempo de TV proporcionado pela sigla.

 

Em estados como Bahia, Ceará e Tocantins, as conversas sobre filiação ao PSL envolvem também a possibilidade de manter uma distância segura de Bolsonaro, a depender da popularidade do presidente no ano que vem. No Rio, com um possível desembarque de deputados da base do governo Bolsonaro para acompanhar o presidente rumo ao Patriota, o PSL entrou na mira do prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB).

 

Para o PSL, as negociações fazem parte da tentativa de atrair políticos com votação elevada em seus estados, de olho em emplacar uma bancada numerosa na Câmara em 2022. Na última eleição, o partido elegeu mais de 50 deputados federais.

 

 

Por ora, o PSL mantém postura dúbia em relação a Bolsonaro. O presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), tem sinalizado que apoia a construção de uma terceira via nas eleições presidenciais, mas parlamentares que seguem alinhados a Bolsonaro incentivaram seu retorno ao partido, do qual saiu brigado em 2019. Integrantes mais críticos a Bolsonaro, como o deputado Junior Bozzella (PSL-SP), já admitiram a possibilidade de deixar o PSL por conta da reaproximação com Bolsonaro e da abertura de espaços a aliados do presidente.

 

Um dos movimentos mais significativos ocorreu no Ceará, onde o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE) foi convidado publicamente a se filiar pelo também deputado Heitor Freire (PSL-CE), presidente estadual do PSL e integrante da "ala bivarista" do partido.

 

Para atrair Wagner, o PSL acenou com uma estrutura partidária robusta para acomodar aliados do deputado, além da possibilidade de unificar a oposição ao grupo do governador Camilo Santana (PT). Por ter feito a segunda maior bancada da Câmara em 2018, o PSL será um dos principais destinatários de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) em 2022, segundo a legislação em vigor. No ano passado, nas eleições municipais, o partido recebeu R$ 199 milhões do chamado "fundão".

 

"Capitão Wagner tem um grupo forte, muitos deputados federais e estaduais, então unindo as nossas forças, nós teremos mais condições de combater esse grupo que tem comandado o Ceará nos últimos anos", informou Freire em nota divulgada na última semana.

 

Embora tenha recebido apoio de Bolsonaro na eleição à prefeitura de Fortaleza em 2020, quando ficou em segundo lugar, Wagner evitou trazer a imagem do presidente para a campanha e fez críticas à conduta do governo federal na pandemia, numa tentativa de marcar distância do presidente. Mesmo assim, recebeu apoio público de lideranças bolsonaristas locais e também de policiais militares — em 2012, Wagner liderou um motim da PM cearense durante o governo de Cid Gomes, aliado do atual governador.

 

Na Bahia, o deputado federal Elmar Nascimento (DEM), aliado do presidente do DEM, ACM Neto, costura uma filiação ao PSL para se lançar ao Senado na mesma chapa do correligionário, que disputará o governo do estado. O movimento é estudado em comum acordo entre Elmar e ACM, já que a troca de partido facilitaria a construção da chapa e o acesso a recursos do PSL. O plano de Elmar é fazer a troca na próxima janela partidária, no início de 2022.

 

Com bom trânsito com Bolsonaro, Elmar tem procurado reaproximar ACM Neto do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Ambos se afastaram depois que Bolsonaro chamou Roma para o ministério, em fevereiro. O presidente do DEM evita se associar ao bolsonarismo por conta da alta rejeição ao presidente na Bahia, apontada em pesquisas, mas busca ocupar o espaço de candidato antipetista, já que seu principal adversário deve ser o ex-governador e atual senador Jaques Wagner (PT-BA).

 

— A mudança ao PSL seria uma condição para facilitar a construção da chapa majoritária, já que não tem como fazer aliança ocupando duas vagas com nomes do DEM. O PSL, com sua estrutura, é um aliado importante para encorpar nosso grupo. É um diálogo estritamente local. Tenho trabalho pela união de todos — disse Elmar.

Disputa por comando

 

No Rio, o PSL entrou no radar de Waguinho, reeleito em Belford Roxo no ano passado numa campanha na qual buscou associar seu nome ao do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Desde o fim de 2020, em paralelo à reaproximação entre Bolsonaro e PSL, Waguinho e aliados têm buscado a cúpula nacional do partido para assumir o diretório estadual.

 

Waguinho faz parte do grupo de prefeitos da Baixada Fluminense mais próximos ao governador Cláudio Castro (PL), e que inclui o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), cotado para disputar o Senado. Além do acesso a recursos partidários, a tomada do PSL pelo grupo de Waguinho garantiria o partido na base de Castro. Embora a defesa do apoio a Bolsonaro em 2022 seja uma bandeira comum a Castro e ao atual presidente do PSL fluminense, deputado federal Gurgel Soares, ambos vêm se desentendendo nos últimos meses e não garantem estar na mesma chapa.

 

Com uma possível filiação de Bolsonaro ao Patriota, a maioria dos 12 deputados federais e dos 10 deputados estaduais do PSL cogita seguir o presidente no novo partido. O esvaziamento do PSL facilitaria a tomada do partido pelo grupo de Waguinho, que articula candidaturas de aliados à Câmara e à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). No entanto, segundo a colunista Berenice Seara, do Extra, Gurgel vem garantindo ter o aval da cúpula do PSL para seguir no comando local.

 

 

Em estados da região Norte, a aproximação ao PSL vem sendo feita por pré-candidatos a cargos majoritários que apostam em ter Bolsonaro no palanque, ainda que o presidente esteja numa sigla diferente. No Tocantins, o governador Mauro Carlesse já se desfiliou do DEM e ingressou no PSL, mirando uma possível candidatura ao Senado — outra opção é se lançar a deputado federal. Carlesse se mantém próximo ao senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo Bolsonaro no Congresso e possível candidato ao governo de Tocantins. A depender da decisão de Gomes, Carlesse pode adotar um apoio menos explícito a Bolsonaro.

 

No Amapá, o PSL é uma das opções colocadas para o vice-governador Jaime Nunes (PROS) disputar o governo. Nunes, que tenta assumir a bandeira de candidato bolsonarista no estado, é aliado do deputado federal Acácio Favacho (PROS-AP) e também vem conversando com legendas como PTB e MDB. O diretório estadual do PSL foi dissolvido em dezembro de 2020 e segue sem comando.

 

A mudança para o partido atrairia recursos e tempo de propaganda eleitoral para encorpar a coligação de Nunes, que deve ter como adversários o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e um candidato indicado pelo grupo do também senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).