Em entrevista exclusiva a O Paralelo 13 o analista político Lutero Fonseca fala sobre o resultado das eleições no Tocantins e no Brasil e o que podemos esperar da disputa no segundo turno em nível nacional.
Por Edson Rodrigues e Luiz Pires
“AS VELHAS FAMÍLIAS QUE COMANDAM O TOCANTINS HÁ TANTOS ANOS FORAM DERROTADAS POR ELAS MESMAS, PELO SEU JEITO ANTIGO DE FAZER POLÍTICA”
O Paralelo 13 - Como você analisa o resultado das eleições no Estado do Tocantins?
Lutero – As velhas famílias que comandam o Tocantins há tantos anos foram derrotadas por elas mesmo, pelas suas ações, pelo seu jeito antigo de tocar a política. Não entenderam a mudança que estava ocorrendo no país, e no Tocantins não é diferente. Não entenderam a mudança de rumo ideológico, principalmente em nosso Estado, e continuaram discutindo querelas de fundo de quintal. Isso cansa o eleitor, que resolveu fazer um “limpa”. Tanto é que estão surgindo novas lideranças em todas as regiões, no Bico do Papagaio, em Araguaína, em Palmas... olha o exemplo de Palmas: a estrutura prefeitura, com uma senadora com mandato, perdeu para uma vereadora. O marido da prefeita teve 9.000 votos na Capital, a senadora teve 12.000 votos e a vereadora teve mais de 13.00 votos em Palmas. Isso mostrou o que está acontecendo no Estado. São novas lideranças chegando, o que é bom para o Estado. Essa renovação, que não acontecia até hoje, é necessária.
governador... porque tinha uma estrutura política grande ao redor dele, assim como Dulce Miranda virou deputada federal duas vezes. E não entenderam o recado que foi dado nas últimas eleições. Assim como a senadora Kátia Abreu, que já fez um trabalho imenso, mas a população cansa, resolve mudar de ares, querendo outra opção, outro estilo de fazer política, outro estilo de preparar o Estado para o futuro.
“A POPULAÇÃO QUER QUE VOCÊ (POLÍTICO) TENHA UM LADO. A POPULAÇÃO QUER DEFINIÇÃO. CHEGA DE MENTIRA, CHEGA DE FICAR EM CIMA DO MURO. APOIO DE GATOS, RATOS, COBRA E TATU N]AO RESOLVE. VOCÊ TEM QUE TER UM LADO DEFINIDO E DEIXAR ISSO BEM CLARO PARA O ELEITOR”
A população quer que você tenha um lado. Isso está demonstrado nacionalmente. Um candidato representa uma coisa e o outro representa outra. E a população quer definição. Chega de mentira, chega de em cima do muro. Apoio de gatos, ratos, cobra e tatu não resolve. Você tem que ter um lado definido e deixar isso claro para o eleitor.
O Paralelo 13 – Essa tentativa da senadora Kátia Abreu de demonstrar que estava acima das ideologias, acima dos partidos, pegando apoio do Lula, pegando apoio do Chefe da Casa Civil do Bolsonaro, pegando apoio do Siqueira Campos, pegando apoio do ex-presidente José Sarney, deu efeito contrário, não foi?
Lutero – Deu efeito contrário, sim. A população quer que você tenha um lado. Isso está demonstrado nacionalmente. Um candidato representa uma coisa e o outro representa outra. E a população quer definição. Chega de mentira, chega de em cima do muro. Apoio de gatos, ratos, cobra e tatu não resolve. Você tem que ter um lado definido e deixar isso claro para o eleitor. Quando você tem um lado definido e você se posiciona ideologicamente, os seus colegas te respeitam muito, os adversários respeitam muito mais e os eleitores respeitam mais ainda.
Esse movimento não estava na base. E os institutos de pesquisa, que são empresas de pesquisa, recebem dinheiro, alguém lhes paga, e quem paga é dono do negócio. Por isso que deu essa discrepância gigante. Em São Paulo, por exemplo, o Tarcísio estava quase dez pontos atrás nas pesquisas e terminou o primeiro turno com oito pontos na frente. Assim era nacionalmente, o Lula ganhando no primeiro turno e começou perdendo a apuração. As empresas de pesquisa vivem de lucro e de quem paga mais. E quem paga é o dono do produto.
essas empresas de pesquisa não terão muita influência no segundo turno?
Lutero – Já não tiveram no primeiro turno. Agora para o segundo, quando se mostrou a realidade, perderam totalmente a credibilidade.
O Paralelo 13 – O Tocantins é um dos Estados do Brasil que não pode reclamar da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Inclusive pela influência do senador Eduardo Gomes, Líder do Governo no Congresso Nacional. Nenhum Estado recebeu tantos recursos do Governo Federal, proporcionalmente à sua população, como recebeu o Tocantins. Mas no primeiro turno Bolsonaro não foi o vitorioso. Como você acha que vai ser a eleição presidencial no Tocantins no segundo turno?
Lutero – O segundo turno vai ser mais acirrado do que o primeiro (no Tocantins), principalmente pela liderança do senador Eduardo Gomes, que vai se dedicar integralmente à campanha. E, é claro, as pessoas que fizeram espontaneamente a campanha para o presidente Bolsonaro no primeiro turno vão continuar fazendo e vão gastar mais tempo com isso. Acho que o Estado do Tocantins foi o maior beneficiado pelo Governo Federal (na gestão Bolsonaro), apesar de sermos apenas 0.05% da arrecadação do país. Esse segundo turno vai chegar no dia 30 muito bem desenhado (pelo eleitor) e as empresas de pesquisa não vão dar conta de desenhar que vai ser o presidente da República, não.
O centro/direita mostrou a que veio. Como que você vota num deputado estadual da direita, num deputado federal da direita, num senador da direita, num governador da direita e não vota num presidente da direita? Essa é uma história mal contada também. Vide Minas Gerais, onde o governador que foi eleito é de direita, o senador é de direita, o deputado federal mais votado do país, de Minas Gerais, é do PL, que se tornou o maior partido dentro do Câmara Federal, com 101 deputados, o maior partido dentro do Senado, com 14 senadores. Você pega o centro/direita e junta tudo, tem maioria absoluta, tanto na Câmara quanto no Senado. Você olha para a Assembleia Legislativa aqui, e não é diferente. Esse povo, que estava cuidando da sua eleição, agora vem pra campanha presidencial.
O Paralelo 13 – O Brasil está no terceiro mês de deflação, o preço do gás de cozinha baixou, a energia baixou, os combustíveis baixaram... Qual a sua opinião para o governo do Bolsonaro nos próximos quatro anos, se agora ele conseguiu controlar, depois dessa pandemia, a economia do país?
Lutero – Se ele for eleito no segundo turno, com apoio da maioria no Congresso Nacional, com oito governadores eleitos no primeiro turno e mais oito que poderão ser eleitos no segundo turno, ele vai ter uma estrutura política com o mesmo pensamento. Tanto o pensamento liberal na economia quanto o pensamento conservador nas condições de viver na sociedade. Aí vai ter mudança, sim, e acredito que esse rumo vai agigantar o Brasil nesse momento em que o mundo entra em crise, com grande inflação na Europa, crise de energia, os Estados Unidos com inflação gigantesca, a China também em crise. Bolsonaro, com maioria no Congresso, vai fazer uma mudança muito grande nesse país e creio que para melhor.
“A PRIORIDADE É O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO. MAS NÃO É O DESENVOLVIMENTO FÍSICO, TER MAIS PRÉDIOS BONITOS... É O DESENVOLVIMENTO HUMANO”
O Paralelo 13 – O governador Wanderlei Barbosa foi eleito com esmagadora maioria. Qual a prioridade, na sua opinião, que os nossos congressistas terão em Brasília e o governador no Tocantins?
Lutero – A prioridade é o desenvolvimento do Estado. Mas não é o desenvolvimento físico, ter mais prédios bonitos... é o desenvolvimento humano. É preciso asfaltar uma estrada daqui para o Jalapão, por exemplo, mas o desenvolvimento tem que estar presente ao longo dessa estrada. Vai fazer uma PCH no Rio Sono, investir dois bilhões de reais, mas as pessoas que estão lá precisam ter o desenvolvimento humano. Aí entram o Estado e os parlamentares, tanto estaduais quanto federais. Como se promove esse desenvolvimento humano lá no Rio Sono, onde vai ter essa usina? Desenvolvimento cultural, instrução, para empregar o povo de lá nesse desenvolvimento que vai acontecer. Se não, vem tudo de fora e continua o povo da região à margem, olhando o desenvolvimento e com fome.
O Paralelo 13 –conselho que você dá para os eleitores tocantinenses que vão dia 30 votar para presidente da República para que eles possam fazer o julgamento dos dois candidatos, Lula e Bolsonaro?
Lutero – Primeira coisa, olhar o passado. O que que um já fez lá no passado e o que que o outro fez nesse passado recente. Qual o trabalho que foi feito, bem feito, para a Nação. Se tem máculas, sem tem corrupção ou se tem hombridade, se tem seriedade com o bem público. E o principal, que não divide a nação entre eu e eles, entre héteros e homos, entre pretos e brancos. Nós somos uma nação, nós falamos do Oiapoque ao Chuí a mesma língua. Essa é a percepção: olhar para o passado de todos, que já fez de errado e o que fez de certo, pra gente projetar o presente e o futuro. E o presente é hoje, e o futuro que queremos depende do passado de um dos dois. A elite dominante que está com quem, que ao longo dos últimos 40 anos comandou o pensamento nacional? Essa quebra é necessária? Isso o eleitor tem que pensar bem.