Bastidores: Aliança entre Lula e Alckmin não interrompe 'caça às bruxas' na campanha petista

Posted On Sexta, 08 Abril 2022 16:44
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 Carlos Siqueira, presidente do PSB, o ex-governador Geraldo Alckmin, o ex-presidente Lula e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, durante reunião em São Paulo Carlos Siqueira, presidente do PSB, o ex-governador Geraldo Alckmin, o ex-presidente Lula e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, durante reunião em São Paulo

O acordo que selou a aliança para o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) ser vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, nesta sexta-feira, 8, não interrompeu o processo de “caça às bruxas” instalado no PT. Nos bastidores do partido, há críticas à coordenação da campanha e preocupação com deslizes verbais de Lula, que, nos últimos dias, deram munição para adversários, principalmente aos aliados do presidente Jair Bolsonaro.

 

Por Vera Rosa

 

Lula tentou consertar afirmações em defesa do aborto e explicar a declaração na qual incentivou que sindicalistas batessem à porta das casas de deputados e de seus parentes para cobrar votações. Mas o desgaste já estava feito, tanto que o bombardeio nas redes sociais continua. Além disso, a equipe de Bolsonaro prepara um material com todas as polêmicas frases de Lula para divulgar no início da campanha oficial, em agosto.

 

Alckmin preferiu o silêncio. Ao ser indicado nesta sexta-feira, 8, pelo PSB para fazer dobradinha com Lula, o ex-tucano afirmou que a hora é de “generosidade, grandeza política e união” e disse estar disposto a somar esforços para a “reconstrução” do País. “Temos hoje um governo que atenta contra a democracia e as instituições”, destacou.

Lula, por sua vez, observou que Alckmin entrava para o time dos “companheiros”, embora uma ala do PT tenha críticas à indicação. Por uma questão de formalidade, o casamento passará pelo crivo do Diretório Nacional do partido, na próxima quarta-feira, 13, mas a chance de veto da aliança é zero.

 

Não foi à toa que, no começo de seu discurso, ao lado de Alckmin, Lula elogiou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Fez uma espécie de desagravo a ela. A deputada é alvo de “fogo amigo” até mesmo em sua própria corrente, a Construindo um Novo Brasil (CNB).

 

Em 2019, antes da pandemia de covid-19, uma ala do PT tentou encurtar o mandato de Gleisi à frente do partido. O grupo não queria que ela conduzisse a campanha deste ano. Argumentava que a deputada levava o PT para uma linha radical e de isolamento e não tinha jogo de cintura político. Lula ainda estava preso quando essas pressões começaram e não aceitou tirá-la do cargo. Tudo o que Gleisi faz tem aval do ex-presidente. É ele quem, de fato, manda no PT.

 

De lá para cá, no entanto, as queixas sobre estratégias capitaneadas por Gleisi só aumentaram. Soma-se a isso a disputa pelo comando da comunicação na campanha de Lula, como mostrou o Estadão. De um lado está Franklin Martins, que coordena a equipe; de outro, o secretário do PT, Jilmar Tatto.

 

A sucessão de declarações enviesadas de Lula expôs ainda mais as divergências. Embora o ex-presidente tenha falado de improviso em todas as ocasiões, houve cobranças internas sobre a falta de estratégia política no momento em que pesquisas indicam recuperação da popularidade de Bolsonaro. Na prática, o petista precisa ampliar o leque de apoios para sua candidatura ao Planalto - que será lançada no dia 30, em São Paulo -, e não fazer o discurso do “nós com nós mesmos”.

 

Uma das avaliações foi a de que Lula está recorrendo à mesma tática usada por Bolsonaro ao dizer apenas aquilo que seu eleitor quer ouvir. Em conversas reservadas, dirigentes do PT argumentaram que a defesa do aborto como questão de saúde pública, feita pelo ex-presidente, puxou a polêmica para a campanha numa hora inadequada. A interrupção da gravidez, atualmente, só é permitida no Brasil em casos de estupro, de anencefalia do feto e quando há risco de vida para a mulher.

 

O “conselho” para que os sindicalistas pressionassem deputados em suas casas foi dado por Lula há quatro dias, durante encontro da CUT. Não foi a primeira vez que Lula disse isso, mas a época era outra. Depois, em reunião na Fundação Perseu Abramo, na terça-feira, ele chamou a elite brasileira de “escravista” e endereçou críticas à classe média por ostentar “um padrão de vida acima do necessário”.

 

O diagnóstico de uma ala do PT é o de que, com essas manifestações fora do prumo, Lula atiçou ainda mais a divisão e o clima de acirramento existentes no País. A “culpa”, porém, não foi debitada na conta dele, mas, sim, atribuída aos desacertos da coordenação da campanha.