No primeiro debate do 2º turno, candidatos chamam um ao outro de mentirosos; Bolsonaro assume o compromisso de não mudar a composição do STF e ex-presidente não responde quem será seu ministro da Economia
Por: Ricardo Brandt e Fernando Jordão
A 13 dias da votação, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se enfrentaram na noite deste domingo (16.out), no primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República do segundo turno das eleições de 2022. Com ataques e trocas de acusações, no olho a olho, os adversários prometeram ampliar as políticas de auxílio, melhorar a economia, aumentar os empregos, e discutiram, principalmente, o enfrentamento à pandemia da covid-19, corrupção, segurança e Nordeste.
O debate da TV Band -- promovido em pool com o Uol, Folha de S. Paulo e TV Cultura -- começou às 20h. Sem os demais adversários do primeiro turno, os temas de campanha ganharam mais espaço no enfrentamento de ideias dos candidatos ao Planalto. Mesmo assim, as propostas foram coadjuvantes na cena, que teve ataques e troca de olhares e gestos.
"Cara de pau", "mentiroso", "rei das fake news", "ditadorzinho" foram alguns dos adjetivos distribuídos entre eles. O modelo permitiu ver os dois adversários lado a lado, em pé, debatendo e trocando provocações, com olhares enviesados, pisadas emotivas e muito gestual. Bolsonaro chegou a colocar a mão no ombro de Lula em um momento de ironia tensa entre os dois.
Apesar da tensão do debate, não houve excesso de pedidos de direitos de respostas. Nas trocas de ironias, Lula interrompeu Bolsonaro mais de uma vez no primeiro bloco do debate e foi advertido pelo mediador
Na primeira vez em que ficaram frente a frente em um embate direto, sem a presença de coadjuvantes, os adversários protagonizaram uma série de trocas de farpas, discussões e acusações mútuas de corrupção.
O atual chefe do Executivo, por exemplo, iniciou sua primeira fala acusando parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) de terem votado contra a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 400 mensais – o que foi desmentido pelo petista.
“Só de auxílio emergencial gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. Eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes, especialmente no interior do Nordeste, começando a receber R$ 42. Se podia dar algo melhor, por que não deu lá atrás”, questionou o presidente, em claro aceno ao eleitorado nordestino, que majoritariamente votou em Lula no primeiro turno.
Em outros pontos, o presidente também falou sobre a visita do petista ao Complexo do Alemão, afirmando que “não tinha um policial acompanhando, apenas traficantes”, e questionou Lula sobre Petrolão, falando em “maior escândalo da história da humidade”. “Lula, você tem muito a falar sobre corrupção. A responsabilidade pela corrupção no Brasil foi sua”, disse Bolsonaro.
Em busca dos votos dos indecisos, Bolsonaro adotou estilo mais controlado, mas sem deixar de lado o tom acusatório. Lembrou dos casos de corrupção, dos desvios na compra de respiradores, do controle da mídia, da corrupção na Petrobras, da prisão na Lava Jato, do Mensalão, e voltou a sugerir ligação do PT com o PCC.
No segundo bloco, foi Bolsonaro que trouxe ao debate um assunto que dominou a campanha nos últimos dois dias: as falas do presidente sobre meninas venezuelanas, que o PT passou a usar vinculando a uma suposta ligação à pedofilia. O presidente acusou o petista pela divulgação do material. "Me acusou no que mais me é sagrado."
Os vídeos e mensagens divulgados pela campanha petista foram tirados do ar por ordem do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste domingo (16.out), atendendo a pedido da defesa da campanha de reeleição. O ministro Alexandre de Moraes considerou ilegal e falsa a informação propagada. Após a polêmica, Lula foi ao debate com um broche no casaco da campanha Faça Bonito, que promove mobilizações nacionais de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes.
Bolsonaro depois pediu direito de resposta quando Lula tocou no assunto e ironizou a live feita pelo presidente na manhã deste domingo para rebater as insinuações do PT sobre as falas das meninas venezuelanas.
Lula quer atrair o eleitorado dos apoiadores que conquistou nessa segunda etapa, como os do ex-presidente FHC e de João Amoêdo, do Novo. Explorou temas como rachadinhas, orçamento secreto e desmatamento da Amazônia para atacar Bolsonaro. O petista subiu o tom em alguns momentos. "Você é o rei das fake news, rei da estupidez, de mentir para a sociedade brasileira."
Bolsonaro também falou: "Não continue mentindo, pega mal até pra sua idade. Pelo seu passado não vou dizer, porque o seu passado é lamentável".
O ex-presidente chamou Bolsonaro de "pequeno ditadorzinho" nas suas alegações finais.
Propostas
A gestão da pandemia de covid-19 pautou o início do debate. O assunto foi introduzido pelo petista, que questionou: "O Brasil tem 3% da população mundial e o Brasil teve 11% das mortes da pandemia no mundo. Por que houve tanta demora para comprar vacina?".
"É uma vergonha, na verdade, você carregar nas costas 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas se tivesse comprado vacina no tempo certo. A ciência fala isso todo dia, o senhor recebeu proposta de compra de vacina muito cedo e não quis comprar porque não acreditava", atacou Lula.
Bolsonaro respondeu dizendo que nenhum país do mundo começou a vacinar em 2020. "Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina e todos aqueles que quiseram tomar vacina tomaram, e o Brasil foi um dos países que mais vacinou no mundo e em tempo mais rápido." Bolsonaro afirma ter sido contra o protocolo do ex-ministro Henrique Mandetta, de que os doentes deveriam esperar em casa até sentir falta de ar.
Bolsonaro se comprometeu a não ampliar número de cadeiras no Supremo Tribunal Federal (STF), ao ser questionado. Disse que atualmente o PT tem sete ministros na Corte que foram indicados em seus governos e que ele indicou dois. Se reeleito vai indicar mais dois, passará a ter quatro nomes indicados e o PT terá cinco. "Um equilíbrio."
Lula afirmou que "tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo é um atraso, um retrocesso que a República brasiliera já conhece muito bem e eu sou contra". Bolsonaro disse que a proposta de ampliação de cadeiras foi apresentada pela deputada Luiza Erundina "e tem 40 deputados do PT que deram o devido apoiamento". Mas acrescentou: "Da minha parte, está feito o compromisso. Não terá nenhuma proposta, como nunca estudei isso com profundidade".
De olho na desvantagem no primeiro turno no Nordeste, Bolsonaro fez acenos aos eleitores locais. Logo no início do debate, falou sobre o Auxílio Brasil e o comparou ao Bolsa Família. "O Bolsa Família pagava muito pouco. Eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes, em especial do Nordeste, do interior do Nordeste, algumas famílias começando a receber R$ 42 por mês", afirmou.
Em resposta, o ex-presidente disse que seu governo tinha outros programas sociais além do Bolsa Família e que promovia reajustes no salário mínimo. Bolsonaro seguiu usando expressões como "irmãos nordestinos" e "quero falar agora com o pessoal do Nordeste".
Na pauta de economia, Bolsonaro defendeu a gestão do ministro Paulo Guedes e suas medidas de controle. "O Congresso votou e eu sancionei a redução do teto do ICMS para 17% no máximo. E eu, como presidente da República, abri mão de todos os impostos federais dos combustíveis. Isso puxou o preço das coisas lá para baixo." Depois do debate, Bolsonaro disse que quer viver uma "lua de mel" com o Congresso.
Lula disse que a "privatização da Petrobras é uma loucura". "Eu sou contra privatização." Nas suas falas finais, o petista aproveitou para um último ataque. "É um ditadorzinho, que quer ocupar a Suprema Corte."