Candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes foi questionado sobre o apoio a Carlos Lupi, presidente do seu partido acusado de corrupção
Com iG São Paulo
Primeiro presidenciável a conceder entrevista ao Jornal Nacional na cobertura das eleições 2018, Ciro Gomes (PDT) respondeu a questões dos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos sobre sua relação com Lula e o PT, sua promessa de tirar o nome dos brasileiros inadimplentes do SPC, seu apoio e críticas à operação Lava Jato e, por fim, sobre a escolha de Kátia Abreu (PDT) como vice em sua chapa presidencial.
Seguindo o tradicional tom incisivo das entrevistas dos presidenciáveis ao Jornal Nacional, Bonner buscou pressionar Ciro Gomes já de início, questionando-o sobre as críticas que faz ao juiz Sergio Moro, um dos responsáveis pela Lava Jato.
Ciro argumentou que, por ter “ficha limpa” e não responder a inquéritos criminais, seus adversários frequentemente o criticam a partir de suas falas polêmicas. Assim, quando disse que “receberia Moro à bala” ou que “colocaria o Ministério Público de volta à sua caixinha”, estaria, na verdade, buscando traduzir em linguagem popular críticas pertinentes à operação.
“A operação Lava Jato tem desequilíbrios. Não há, por exemplo, nenhum quadro do PSDB na cadeia, embora abundem provas de corrupção contra os tucanos”, apontou o pedetista.
“Há muitos abusos, destruição de reputações, os prefeitos das pequenas cidades tem sofrido com a atuação do Ministério Público. Quando os promotores fogem de suas atribuições, eles perdem a legitimidade. O presidente tem o poder de colocá-los de volta na sua caixinha, isto é, fazê-los cumprir suas determinações”, completou.
Bonner, então, insistiu na questão, questionando o candidato se cabe mesmo ao presidente interferir no funcionamento de outros poderes – no caso, o judiciário.
“Basicamente, hoje, temos um quarto poder que é o Ministério Público – que não foi eleito pelo povo, bem como os juízes. E eles estão exercendo a política. O que o Brasil precisa é de segurança jurídica e paz”, disse o candidato.
Ainda no tema do combate à corrupção, a entrevista contou com um momento inusitado: Bonner questionou Ciro quanto ao presidente do PDT, Carlos Lupi , acusado de corrupção por supostamente haver comprado apoio político para a então presidenta Dilma Rousseff (PT). Ciro, contudo, rebateu Bonner, e afirmou que Lupi não é réu em nenhum processo, ao que Bonner insistiu que sim, ele é réu.
Ex-ministro de Dilma, Lupi responde a um inquérito por improbidade administrativa. Ainda assim, Ciro sustentou sua posição, afirmando “confiar cegamente” no pedetista.
Perguntado se sua defesa de Lupi não seria contraditória, já que Gomes é um notório crítico de Michel Temer (MDB), o candidato novamente discordou dos entrevistadores.
“O Temer é uma desgraça para o nosso país, já foi acusado duas vezes formalmente por corrupção, e o Congresso barrou as acusações. Temer tem ao ser redor Eduardo Cunha e Geddel, já presos, e Padilha e Moreira Franco, usufruindo do foro privilegiado, todos notórios corruptos” disparou.
Seguindo no tema da corrupção, que foi predominante nos 27 minutos de entrevista, Bonner lembrou da ocasião em que Ciro afirmou que teria avisado Lula sobre possíveis casos de corrupção na Petrobrás, ao que o petista nada fez. Os jornalistas perguntaram a Ciro se não seria o caso de ele apresentar uma denúncia ao Ministério Público.
“Vocês imaginam que cabe a um ministro reportar ao seu chefe casos de corrupção ou fazer o papel de denunciador no ministério publico?” questiona Ciro, ao que Bonner e Vasconcellos concordaram que ele havia procedido bem em levar a questão à Lula.
Aproveitando a deixa, Renata Vasconcellos quis saber sobre a relação de Ciro com Lula e o PT. O pedetista elogiou o governo do ex-presidente petista e lamentou sua prisão.
“O Lula não é um satanás como parte da imprensa pensa, nem um santo como pensa o PT. Ele fez muita coisa boa para muita gente no Brasil. Faço essa menção a ele em respeito ao povo brasileiro. A população mais pobre sentiu na pele as consequências do bom governo dele. Não devemos comemorar o fato de ter o maior líder popular do país preso”, defendeu o candidato.
Ciro Gomes e o SPC
Deixando de lado o tema da corrupção, Bonner e Vasconcellos quiseram saber sobre a viabilidade da proposta de Ciro de retirar o nome dos brasileiros inadimplentes do SPC. Para os jornalistas, a formulação da proposta do candidato pode soar simplista e clientelista ao eleitor.
O candidato pedetista, então, presenteou os jornalista com um manual detalhando a proposta. “Não tem nenhuma coerência com a minha prática essa ilação de meus adversários. Se você não me levar a mal, trouxe um manual explicando como fazer”, brincou.
“Estudei o assunto. A dívida média das pessoas no SPC é de 4 mil, fazendo um refinanciamento, baixando o juros, o banco também ganha dinheiro. Não farei isso porque sou bonzinho, mas por tenho um projeto de desenvolvimento cujo grande motor é o consumo das famílias. Se temos 63 milhões de pessoas humilhadas com o nome no SPC, como girar a economia?”, disse.
Quando a conversa chegou à segurança pública, Bonner e Vasconcellos apontaram que o Ceará, governado por Cid Gomes, irmão do candidato, é um dos que ostenta os piores índices de violência no Brasil. Para o pedetista, contudo, a marca deve-se à atuação de facções criminosas do Rio de Janeiro e de São Paulo – cabendo à presidência da República combatê-las, não ao governo do estado, que não teria recursos para tanto.
O último tópico da entrevista foram as alianças políticas traçadas por Ciro, que tem como vice Kátia Abreu, tradicionalmente alinhada ao agronegócio e repudiada por grande parte dos eleitores de esquerda. Seria possível, tendo a senadora como vice, unir a centro-esquerda brasileira?
“Meu objetivo não é unir a centro-esquerda”, respondeu. “É, sim, implmentar um projeto de desenvolvimento. Unir os interesses de quem produz e quem trabalha, tendo como grande rival a especulação financeira. Restaurar investimentos, descartelizar o sistema financeiro, retomar a industrialização”, disse.
“A Kátia Abreu não vem para a chapa por ser igual a mim, mas por ser diferente. Ela conhece a economia rural brasileira, votou contra o golpe do impeachment, contra a reforma trabalhista. Não parece o Lula com o José Alencar?” questionou.
Dando fim à entrevista ao Jornal Nacional, Ciro Gomes , para quem “é preciso acabar com a rivalidade entre ‘coxinhas’ e ‘mortadelas’” no país, afirmou que, se eleito, irá propor de saída as principais reformas que planeja para o país. Ele disse, ainda, que plebiscitos e referendos, consultando a população sobre os principais temas, será prática usual em sua possível gestão.