Senador do Progressistas foi convidado a se reunir com o ex-presidente, mas recusou
Por Letícia Casado
Há cerca de um mês, o ex-presidente Lula participou da primeira de uma série de conversas políticas com caciques partidários em Brasília. Reuniu-se com o ex-presidente José Sarney (MDB), com o deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM) e com o ex-prefeito de São Paulo e presidente do PSD Gilberto Kassab. A agenda lulista, que tem como objetivo principal construir apoios para sua candidatura à Presidência em 2022, quando enfrentará o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, ficou parcialmente desfalcada. O motivo: próceres do PT não conseguiram convencer o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas e expoente do Centrão, a participar de uma reunião privada com o petista.
Pilar da base de sustentação de Jair Bolsonaro no Congresso, Ciro usou uma piada para justificar a aliados a recusa de sentar-se à mesa com o ex-presidente: “ele é tão irresistível que eu não posso encontrar”. O real motivo, porém, inclui um importante cálculo político. Pré-candidato ao governo do Piauí, o eventual desembarque precoce do senador e da numerosa bancada do partido – são 40 deputados e sete senadores – do leque de apoio do bolsonarismo interromperia o principal motivo que mantém Ciro e companhia alinhados ao presidente: a distribuição de cargos e verbas. Correligionário de Nogueira, o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) tem como grande força política o fato de decidir ele a quais congressistas emendas parlamentares serão enviadas e encaminhar ao Executivo a planilha dos futuros contemplados com verbas públicas.
Mais: um possível aceno ao petista desde já, quase um ano e meio antes das eleições presidenciais, também colocaria em risco o controle do bilionário cofre do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), hoje nas mãos do senador. O presidente do órgão é Marcelo Lopes da Ponte, que já foi chefe de gabinete do parlamentar. Embarcar prematuramente no arco de alianças do PT abriria caminho para que Bolsonaro retirasse o FNDE do Progressistas e o ofertasse a outra legenda, como o PL do notório Valdemar Costa Neto, dono do partido e condenado no escândalo do mensalão.
Como a legenda de Ciro foi amplamente agraciada com cargos e emendas durante os anos do governo petista, a orientação de aliados lulistas é tentar conseguir possíveis defecções dentro da sigla, lembrando, por exemplo, dos tempos áureos em que o PP comandava a diretoria de Abastecimento da Petrobras, depois transformada em estopim do escândalo da Lava-Jato, e o caixa do Ministério das Cidades, com Aguinaldo Ribeiro, no governo Dilma.
A relação entre Bolsonaro e o Centrão – o presidente foi filiado ao atual Progressistas por onze anos – estreitou-se de forma mais contundente quando o presidente viu aumentarem as turbulências institucionais com os demais poderes e detectou o risco de paralisia de suas pautas no Congresso. Se na eleição de 2018 Bolsonaro se valeu do discurso da antipolítica, hoje o presidente tem no consórcio de partidos de centro que não têm uma pauta programática pré-definida seu esteio de governabilidade.
Para Bolsonaro, a aliança com o Progressistas é estratégica porque abre uma porta na eleição de 2022, com palanques, tempo de exposição em TV e rádio e dinheiro do fundo partidário para investir nas campanhas locais. Levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que o partido foi a segunda legenda que mais elegeu prefeitos, vice-prefeitos e vereadores no primeiro turno das eleições de 2020: foram 7.523 eleitos (11,02%), sendo 680 prefeitos, 551 vice-prefeitos e 6.292 vereadores. Apenas no Nordeste, cujos eleitores historicamente optam por candidatos a presidente do PT, a sigla elegeu 2.934 candidatos (13,05%) no último pleito.