Um único doador de órgãos e tecidos pode beneficiar pelo menos cinco pessoas que aguardam por um transplante
Por Ellayne Czuryto
A doação de órgãos e tecidos é um ato que pode salvar inúmeras vidas. No Brasil, existem atualmente cerca de 40 mil pessoas na fila de espera por um órgão e, para muitos que estão gravemente doentes, o transplante significa uma nova vida e a esperança de dias melhores. Em todos 27 de setembro é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. A data, instituída pela Lei nº 11.584/2007, visa conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e, ao mesmo tempo, fazer com que as pessoas conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto.
No Tocantins, este ano foram realizadas sete captações de múltiplos órgãos, sendo a última na última sexta-feira, 22, graças à autorização da família de um paciente de 62 anos, vítima de AVC hemorrágico com diagnóstico de morte encefálica. Ao todo foram captados em 2023, dois corações, sete fígados, 14 rins e 60 córneas. Um único doador de órgãos e tecidos pode beneficiar pelo menos cinco pessoas que aguardam por um transplante.
A coordenadora do Banco de Olhos do Tocantins (BOTO), Ana Beatriz Dias, explica que a maioria das captações de córneas no Tocantins, são de óbito com o coração parado. “A captação de córnea não acontece somente quando o paciente evolui para morte encefálica, como nos casos da captação de múltiplos órgãos, as córneas podem ser captadas até 6h após o óbito por uma parada cardíaca e com o tempo máximo de preservação extracorpórea de até sete dias”.
Ela acrescenta que a princípio pessoas entre dois e 80 anos podem ser doadoras. “Nossa equipe faz uma avaliação do paciente e não havendo contraindicação é feita a entrevista familiar para autorização. Infelizmente nós ainda temos um índice de recusa de 70% dos casos. Muitas famílias ainda acham que a retirada da córnea vai deixa o familiar desfigurado, por não entenderem como funciona o processo, então nosso objetivo é educar e sensibilizar mais pessoas para que aumente o número de doações e diminua a fila de espera, além de trazer alegria para outras famílias como o caso da dona Geovana que aos 78 anos voltou a enxergar”.
A moradora de Luzimangues, Geovana Pereira, de 78 anos, passou por um transplante de córnea recentemente. “Eu fiquei esperando essa córnea por dois anos e oito meses, e dentro desse período eu fiquei completamente sem enxergar, só via vultos. No dia que a doutora me ligou para fazer o transplante eu fiquei muito feliz e nervosa também, mas graças a Deus minha cirurgia foi tranquila e dias depois que tirei o tampão eu já estava enxergando, foi a maior alegria da minha vida voltar a enxergar. Gostaria de agradecer a essa família que autorizou a doação da córnea, e à equipe que faz esse trabalho”.
Dados
No Tocantins a captação teve início em 2018, e até o momento já foram feitas 42 captações de múltiplos órgãos, sendo sete em 2023.
Além dos órgãos, no Estado também é realizada a captação de tecidos oculares. Segundo dados do BOTO, foram captados em 2023 um total de 60 córneas, lembrando que na maioria das vezes são captadas duas córneas de cada paciente. Foram realizados 41 transplantes e 177 pessoas aguardam na fila de transplante até o momento.
Programação
A responsável pela Central de Transplante do Tocantins (CETTO), Suziane Aguiar Crateús Vilela, explica que como parte da programação do Dia Nacional da Doação de Órgãos, nesta quarta-feira 27, ocorre o I Fórum de Doação de Órgãos do Hospital Regional de Gurupi-HRG. “O HRG contará com o serviço de captação e encaminhamento de córneas para a Central Estadual de Transplantes. O objetivo do Fórum é apresentar o serviço da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante-CIHDOTT, e poder esclarecer sobre a importância da doação de órgãos e de se tornar um doador”.
Como funciona a doação?
Para que aconteça a doação, é necessário que a família tenha conhecimento do desejo de ser doador, uma vez que parte dela a autorização para captação dos órgãos. A autorização deve ser concomitante ao quadro de morte encefálica, quando ocorre uma perda definitiva das funções do cérebro e, por isso, a recuperação não é possível. Neste tipo de quadro, os órgãos permanecem ativos por um curto período de tempo, o que permite então a captação para que sejam remetidos aos receptores.