Muitos morreram e outros morrerão por conta da COVID-19. Se uma morte já é algo dramático, uma pandemia é algo muito triste. Mas esse episódio nos deixa algumas lições que podemos aprender (ou não).
Por Edson Rodrigues
1-O decrescimento, algo que parecia uma utopia para muitos, tornou-se realidade, mesmo que temporariamente. Esta é a principal lição que devemos aprender e praticar. Reduzir a poluição é possível e desejável. Por pior que seja esse corona vírus, a redução na poluição salvou mais vidas do que os falecidos. A desaceleração da produção proporcionou um respiro para toda a biosfera (incluindo o Homo sapiens).
2-A segunda grande lição que devemos aprender é a humildade. Os seres humanos são vulneráveis e a tecnologia não resolve todos os problemas. Os problemas resolvidos pela tecnologia exigem grandes quantidades de energia e materiais. Quando não tivermos acesso a eles, as soluções tecnológicas não estarão disponíveis. Agir de maneira sensata é o maior poder do ser humano, em qualquer contexto.
3-Resolver os problemas a tempo tem vantagens em relação a deixá-los para o final. Os problemas ambientais já são muito graves e temos uma ampla gama de soluções que precisamos aplicar urgentemente. O que estamos esperando?
4-Esse vírus serviu para nos conscientizar de que viajamos demais e que é muito fácil viajar menos. Milhões de voos foram cancelados e a humanidade não percebeu graves efeitos para além dos inconvenientes para as minorias. Temos que repensar o turismo e as relações profissionais. Com o vírus ou sem o vírus, é preciso evitar as viagens de carro ou avião que sejam dispensáveis. O avião é a forma de transporte mais poluente já inventada (com mais problemas ainda se for low cost).
5-A globalização tem grandes vantagens e grandes desvantagens, mas podemos minimizar os problemas. Uma doença na China se transforma em uma pandemia global. Da mesma forma, a poluição na China mata pessoas em todo o mundo, embora isso não seja tão evidente, apesar dos cientistas deixarem claro.
6-As mudanças radicais são aceitas e compreendidas pela sociedade, quando os governantes as explicam apoiadas na ciência.
7-As tecnologias nos oferecem mecanismos para trabalhar em casa, evitando desperdício de tempo e poluição. Até o governo espanhol fez videoconferências (com os presidentes das diferentes comunidades), também economizando enormes despesas com dinheiro público. A participação em congressos com dinheiro público deveria ser exclusivamente a distância.
8-Reduzir a jornada de trabalho é positivo para as pessoas e o planeta e não precisa ser necessariamente algo negativo para as empresas. O importante não é estar presente no local de trabalho por muitas horas, mas atingir os objetivos. Para não sermos qualificados como “radicais”, solicitamos ao menos que se experimente uma pequena redução da jornada de trabalho, algo fácil de implementar em quase todos os trabalhos e que certamente leva ao aumento da produtividade (como aconteceu anteriormente).
9-Nem todos os empregos são igualmente necessários. Há setores muito importantes (saúde, educação, redes elétricas, trens...), mas outros são muito dispensáveis ou diretamente prejudiciais. Devemos fazer uma transição sensata para uma economia verde, fortalecendo os setores importantes do lado público, o que nos garante uma resposta controlada e equitativa a qualquer contratempo. A transição é obrigatória. Podemos decidir se devemos fazê-la de maneira ordenada ou quando um colapso ecológico nos força de maneira pouco agradável.
10-Podem ser cancelados atos contrários à vida e à ética sem transtornos. O corona vírus cancelou eventos de touradas e jornadas de caça. Milhares de animais salvaram suas vidas e centenas foram salvas, por enquanto, de uma tortura atroz.
11-Pode-se escutar os pássaros nas cidades ou simplesmente o silêncio. Nós, humanos, não temos vergonha de sermos mais produtores de ruídos do que de música?
12-Resgatemos a solidariedade e a unidade. Em tempos convulsivos, surge o melhor (e talvez o pior) de algumas pessoas, mas a solidariedade está sempre presente. Devemos potencializá-la para que a consciência de equipe e o bem comum estejam acima dos interesses particulares. O coronavírus nos serviu para perceber a qualidade humana de muitos profissionais (médicos, enfermeiros, trabalhadores do setor de alimentação, distribuidores, centrais elétricas...). Por solidariedade e justiça, as grandes fortunas e grandes empresas têm maiores compromissos nessa transição. Os paraísos fiscais são um câncer que nos impede de seguir na direção certa.
Um possível risco associado ao confinamento da população devido ao corona vírus é que, dentro de 9 meses, haja um boom demográfico. Os cientistas concluíram que ter um filho tem um impacto ambiental descomunal (comparado com outras ações, como interromper viagens aéreas, reciclar ou usar fontes renováveis). Um dos objetivos ambientais mais difíceis de controlar é a superpopulação.
CONCLUSÕES ÓBVIAS
A emergência climática é uma emergência de saúde de maior gravidade e urgência do que a do COVID-19. Aconteça o que acontecer com o corona vírus, algumas medidas tomadas deveriam ser mantidas. E outras medidas urgentes não devem mais ser adiadas. Por exemplo, a agricultura ecológica fará parte da solução, seja qual for.
Para concluir, a primeira letra R dos ‘três erres’ é REDUZIR: reduzir a produção, reduzir o consumo, reduzir as viagens, reduzir as horas de trabalho, reduzir a taxa de natalidade... Algumas demandas ambientais “clássicas” foram implementadas de forma imediata por causa de um vírus que, por fim, é menos letal que a poluição atmosférica. Aprendemos que podemos fazer isso. E, além disso, sem o vírus é mais fácil organizar e pensar as coisas com calma e com sentido ambiental.
FINALMENTE
Ironicamente, me sinto, hoje, como quando sofri um acidente automobilístico gravíssimo em que fui o único sobrevivente entre as cinco pessoas que estavam no carro.
Passei mais de 17 dias em coma, fiz várias cirurgias para a reconstrução do meu rosto, numa recuperação que durou mais de um ano.
Pois foi justamente nessa época que descobri o real valor de ter uma família unida, quem eram, realmente, meus amigos, e o poder incontestável da fé.
Nessa pandemia, acontece da mesma forma. Os que são seus amigos permanecem contigo. Sua família se une para, mesmo sofrendo junto, aplacar o sofrimento de cada um dos seus membros. O amor, o carinho, o afeto e a amizade, se já eram joias raras, viram coisas de importância imensurável. As divergências, os acabrunhamentos, as chateações mútuas, somem de uma hora para outra e a gratidão e o afeto tomam conta do ambiente.
O luxo não está nos carros, nas propriedades, nas roupas. Está nas atitudes, nas formas com que tratamos os nossos e o que recebemos em troca.
A pandemia nos ensinou que dá para viver com pouco, contanto que esse pouco esteja cheio de amor e rodeado de familiares e amigos, e seja alicerçado na fé.
Quando tudo passar, lembre-se do que lhe deu condições de suportar os piores momentos: Deus, Família e Amigos.
Fica a dica!
A imprensa chegou ao seu extremo: apresentar hordas truculentas das torcidas organizadas como defensores da democracia e famílias de verde-amarelo como perigosos fascistas
Fábio Gonçalves
De 2013 para cá, o velho mito esquerdista de que a grande mídia seria uma instituição “de direita”, uma vez que bancada por magnatas capitalistas, foi cabalmente desmentido.
Na medida em que a massa popular conservadora ia se insurgindo e impondo pela pressão das ruas sucessivas derrotas ao estamento comunopetista, a imprensa, que até ali se travestia com o manto branco da sagrada isenção, vendo-se mafiosamente obrigada a salvar a honra dos seus chefes e a sua própria — uma vez que a cumplicidade com a bandalheira assassina do Foro de São Paulo ficava indisfarçável —, essa imprensa precisou rasgar de pouco em pouco o manto cenográfico da imparcialidade até que na corrida eleitoral de 2018, sem saber onde enfiar a cara, quedou totalmente exposta, em praça pública, só com uma regatinha baby look do PT, uma tatuagem de cadeieiro do Che Guevara, um piercing no umbigo com o tradicional punho cerrado, e uma tanga de renda vermelha estampada com a foice e o martelo.
Com sua indecência revelada, a essa meretriz xexelenta — que tanto mais era desprezada, mais estrebuchava com indignação de puta ofendida — restava justificar seu viés apelando à urgência cívica de combater o novo presidente e seus correligionários sob a alegação a um tempo cínica e histérica de que eles não eram pessoas normais lutando pela saudável alternância no poder, mas perigosos nazifascistas às portas de acabar com a ordem democrático-institucional e transformar o país num grande campo de extermínio.
Logo a grande mídia, essa quenga apaixonada por gente como o Lula, sujeito aliançado com as FARCs — portanto, com o Comando Vermelho e o PCC —, homem que fez tudo que estava ao seu alcance para comprar as instituições e instrumentalizá-las não só em benefício próprio — como querem alguns liberais —, mas para manter abastecida toda uma escória de narcoditadores, como os Castros, Evo e Maduro, de modo a formar na América Latina não só uma liga de tiranos perpétuos e abastados, mas um braço forte à serviço do imperialismo chinês, o mais bem sucedido estado fascista que jamais existiu, dos únicos lugares do mundo onde ainda funcionam campos de extermínio.
Trocando em miúdos, a grande mídia apelou, como sói aos comunistas desde 1848, à inversão diabólica da realidade.
Mas de uma coisa o diabo sabe bem: a mentira com a qual ele nos ilude e nos corrompe precisa ter, caso se pretenda eficaz, um certo núcleo de veracidade, algum aspecto do mundo real que o mentiroso possa apontar para que sua lorota, por cabeluda que seja, passe pelos critérios mínimos de verossimilhança que até mesmo o mais tolo dos homens exige para ser tapeado.
E as mentiras que a mídia contou neste domingo não cumpriram esse requisito fundamental.
Ontem, os canais mais importantes da imprensa noticiaram, nas fuças de todas as famílias brasileiras, que hordas truculentas de torcedores de futebol, homens saídos das arquiconhecidas gangues uniformizadas, marchando em trajes pretos — como os Camicie Nere do Mussolini e a Schutzstaffel do Hitler —, com porretes nas mãos e gritos ameaçadores na ponta da língua, a mídia disse que esses jagunços estavam lutando pela democracia contra os fascistas de meia-idade e camiseta da CBF incapazes de quebrar uma lata de lixo nas suas costumeiras manifestações dominicais.
Nem o nosso mais apalermado concidadão, nem o mais inocente e crédulo brasileiro, da cidade ou do campo, das praias ou dos ermos, caiu nessa conversa.
Quer dizer, em alguma medida, o evento de ontem fez com que a mídia rompesse a esfera da mentira e a obrigou a fazer uma adesão sincera, indisfarçável, de peito aberto à quebradeira geral, ao espancamento de opositores, à criminalidade política no seu estado mais selvagem.
Aliás, ainda não ainda o mais selvagem. Os Antifas — antifascistas —, como se autointitula a horda de Camisas Pretas ao dispor da elite político-jurídico-midiática, podem ser tranquilamente chamados de pré-fascistas, o grupo que prenuncia a imposição oficializada do totalitarismo fascista. Pois a intenção de quem é que tenha orquestrado essa primeira declaração aberta de violência é intimidar o conjunto de cidadãos pacatos, pais e mães de família, e desestimular pelo medo as mesmas manifestações populares, pacíficas e ordenadas, que tanto prejuízo causaram ao PT e seus cupinchas.
Dito de outro modo: como o povo conservador não se calou na base da conversa fiada dos jornalistas, que se cale na base da porrada pura e simples.
E se nada disso funcionar, os passos seguintes são: a criminalização da opinião — que já avança a passos largos —, a prisão política em larga escala, o gulag, o Paredão, o genocídio político. Ou seja: o fascismo nu e cru, sem meios-termos, sem intermediários.
(Vale ressaltar que no fascismo real — tipo o chinês — a rameira midiática, depois de muito estuprada pelos líderes-cafetões, caso se faça de orgulhosa e reclame dos maus tratos, também vai pra vala-comum, sem choro nem vela).
Carlos Alberto dos Santos Cruz* - .
Todos os militares são eleitores, do soldado/marinheiro ao general-de-exército/brigadeiro/almirante. E todos votam com total liberdade de escolha nos seus candidatos e partidos de preferência. É o exercício da cidadania, na mais absoluta liberdade. É um dos pontos altos da democracia. É quando cada cidadão, em seu voto e por seu voto, vale o mesmo, independente de qualquer consideração de classe social, credo, etnia, etc. Mas a democracia é mais que isso. É também o funcionamento harmônico das instituições. É também a liberdade de imprensa e de associação. É também um processo coletivo de construção, a partir da diversidade da nossa sociedade, de um País mais justo, próspero e tolerante.
Na cultura militar, não existe propaganda nem discussão política sobre preferência de candidatos e partidos dentro dos quartéis. Quando o cidadão coloca a farda e representa a instituição, ele tem compromisso institucional e constitucional. Seu compromisso é com a Nação.
As Forças Armadas são instituições permanentes do Estado brasileiro e não participam nem se confundem com governos, que são passageiros, com projetos de poder, com disputas partidárias, com discussões e disputas entre Poderes ou autoridades, que naturalmente buscam definir seus espaços e limites. No jogo político, muitas vezes os atores são levados por interesses de curto prazo, influenciados por emoções, limitados por suas convicções. Isso é normal no ambiente democrático.
O militar da reserva, seja qual for a função que ocupa, não representa a instituição militar. O desempenho de qualquer função, quando o militar está na reserva, é de responsabilidade pessoal. As instituições militares são representadas pelos seus comandantes, que são pessoas de longa vida militar e passaram por inúmeras avaliações durante a vida profissional, seguramente escolhidos entre os melhores do seu universo de escolha. O processo seletivo acontece em todos os níveis, desde a escolha de soldados para o Curso de Formação de Cabo até a promoção para general-de-exército. A estrutura hierárquica e a conduta disciplinar são baseadas no exemplo, no respeito, na liberdade de expressão e na união de todos. A união é que realmente faz a força. Mesmo com orçamento reduzido, basta entrar em qualquer instalação para ver a educação, a dedicação e o zelo com que o patrimônio público é mantido e administrado.
As Forças Armadas estão presentes na história do Brasil, na defesa da pátria, na pacificação do país, na educação, na ciência, na construção, no desenvolvimento, etc, e até mesmo na política, em tempos passados, com todos os riscos, responsabilidades e desgastes inerentes a isso. Não por acaso, foi justamente no regime militar que as FA decidiram, acertadamente, sair da política e ater-se ao profissionalismo de suas funções constitucionais. As FA também são responsáveis por terem contribuído para o Brasil, com todos os problemas que temos, ser um dos dez maiores países do mundo. O país evoluiu e as Forças Armadas continuam presentes na defesa da pátria, nas diversas situações em que são chamadas para auxiliar a população em emergências e em apoio a algumas políticas de governo. Suas tarefas estão estabelecidas na Constituição – defender a pátria e garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem. O prestígio e a admiração que a sociedade lhes dedica foram construídos com sacrifício, trabalho e profissionalismo.
Nesse período, a democracia brasileira evoluiu e se consolidou. Temos um governo e um Congresso legitimamente eleitos, e as instituições funcionando. Os Poderes não são perfeitos, como é normal. Nunca serão, já que são feitos de homens, não de anjos. Democracia se faz com instituições fortes, buscando permanentemente o seu aperfeiçoamento. No Brasil, existe legislação que permite o aperfeiçoamento das instituições e práticas políticas. As discordâncias e conflitos não estão impedindo o funcionamento das instituições. A busca da harmonia é obrigatória aos três Poderes. É uma obrigação constitucional. As diferenças, o jogo de pressões e as tensões são normais na democracia e as disputas precisam ocorrer em regime de liberdade, de respeito e dentro da lei. Por isso mesmo, a Constituição Federal se sobrepõe aos três Poderes da República para limitar seu emprego, para disciplinar seu exercício. É nesse processo que os três Poderes moderam sua atuação, encontram seus limites e definem as condições de emprego dos demais instrumentos do Estado, inclusive as Forças Armadas, na implementação de políticas públicas.
As Forças Armadas, por serem instituições de Estado, não devem fazer parte da dinâmica de assuntos de rotina política. A dinâmica de governo não é compatível com as características da vida militar. Os militares são unidos, os comandantes são preparados, esclarecidos e mantêm o foco na sua missão constitucional.
As FA são instituições que não participam de disputas partidárias, de assuntos de rotina de governo, de assuntos do “varejo”.
Nas últimas décadas, as FA cruzaram momentos de hiperinflação, impeachment de presidentes, escândalos de corrupção, revezamento de governos com características diversas, sempre com posicionamento profissional, auxiliando a população, atentas à sua destinação constitucional, contribuindo para o prestígio internacional do País. É um histórico de orgulho do povo brasileiro e das próprias instituições. Por isso mesmo, creio que não se deixarão tragar e atrair por disputas políticas nem por objetivos pessoais, de grupos ou partidários.
Acenos políticos não arranham esse bloco monolítico que é formado por pessoas esclarecidas e idealistas, comprometidas com o Estado e com a Nação, que integram uma das instituições mais admiradas pelo povo brasileiro.
* Ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência
A operação ilegal contra os conservadores pode ser o início da morte da liberdade no Brasil
Paulo Briguet
Na noite de 9 para 10 de novembro de 1938, unidades das SA nazistas, comandadas por Ernst Röhm, realizaram uma série de ataques simultâneos contra a comunidade judaica em toda a Alemanha. O episódio ficou conhecido como a Noite dos Cristais, em referência aos cacos de vidro espalhados pelas ruas após os atos de vandalismo nas propriedades dos judeus. Aquele foi o ponto de partida do processo que culminaria, poucos anos mais tarde, no assassinato de 6 milhões de judeus em campos de concentração.
Por que essa tragédia ocorreu? Qual é o fio condutor que une a Noite dos Cristais à Solução Final? À luz da história, podemos afirmar, com toda certeza, que o genocídio não teria ocorrido se não houvesse a omissão da maioria das pessoas, não apenas na Alemanha, mas também na comunidade internacional.
O que aconteceu na manhã deste dia 27 de maio guarda semelhanças com a Noite dos Cristais. Nos dois casos, temos forças que se julgam acima da lei e da moral — na Alemanha, o Reich; no Brasil, o STF — e um conjunto de vítimas que não cometeram crime algum e não sabem do que estão sendo acusadas — os judeus na Alemanha; os conservadores no Brasil. Nos dois casos, direitos fundamentais são feridos de morte: o direito de livre expressão, o direito de propriedade, o direito de defesa.
Em consequência da omissão, as 91 vítimas da Noite dos Cristais se transformaram em 6 milhões de mortos. Se nada for feito, as 29 vítimas do inquérito ilegal do STF se transformarão em um país inteiro censurado à força. Se a sociedade brasileira não reagir, estará permitindo que uma longa noite de silêncio e submissão envolva o Brasil a partir da manhã de hoje. Seremos todos Joseph K., o personagem de Kafka levado à tormenta e à morte por uma acusação criminal que ele não sabe qual é.
O crime sem castigo leva ao castigo sem crime. O que vimos acontecer hoje foi o sonho dourado da bandidagem: transformar aqueles que perseguem o crime em criminosos. O objetivo final da operação totalitária é reduzir todo o Código Penal a um só crime: o conservadorismo. Doravante, todo aquele que apoiar o governo ou a causa conservadora estará tipificado como inimigo da coletividade. Por meio do Supremo Soviete Federal, que tantos bandidos já colocou em liberdade, transformou-se em crime o próprio exercício da liberdade.
Só existe um Gabinete do Ódio no Brasil — o STF. Se o povo brasileiro deseja salvar o que nos resta de liberdade — aquela que ainda não foi devorada por governadores e prefeitos tirânicos —, deve exigir AGORA o impeachment do Sr. Alexandre de Moraes e do Sr. Dias Toffoli, responsáveis por esse inquérito ilegal, inconstitucional e liberticida.
Por isso, o Brasil Sem Medo faz agora um apelo às autoridades de nação.
Sr. Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República, não permita que façam isso com o nosso país!
Sr. André Mendonça, Ministro da Justiça e da Segurança Pública, não permita que façam isso com a nossa Constituição!
Srs. Senadores da República, não permitam que o STF assassine a Lei que jurou defender!
E, por fim, dirigimo-nos ao povo brasileiro. Esse povo que em sua imensa maioria professa os valores da liberdade, da justiça e da democracia: não deixe que estes 29 irmãos patriotas sejam sacrificados no altar de um tribunal vinculado às forças inimigas de nossa pátria!
Se não agora, quando?
As ameaças do presidente da República contra os demais Poderes (Legislativo e Judiciário, representado pelo STF) fazem há algum tempo parte do quotidiano da Nação. Não foram poucas as vezes que o primeiro mandatário, filhos e militares que gravitam o seu entorno proferiram ataques às instituições de Estado. Para “fechar o STF basta um cabo e um soldado” – disse um dos filhos
Por Mário Lúcio Avelar
A última sexta-feira (22) vai entrar para história. Não sabemos se por privilégio ou má sorte, foram necessários mais de 130 anos desde a proclamação da República para o Brasil assistir a dois atos num mesmo dia que bem resumem a cena política descortinada pelo menos desde 2013”.
Vamos ao primeiro deles: ainda no meio da tarde daquele dia, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, divulgou nota criticando o ato do ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), que encaminhou à PGR (Procuradoria-Geral da República) pedidos de partidos e parlamentares de oposição para que o celular do presidente fosse apreendido e periciado.
O general da reserva tinha visto na determinação do decano do Supremo - ato próprio de ministro que conduz um inquérito - algo "inconcebível" e "inacreditável". Para ele, "seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder, na privacidade do Presidente da República e na segurança institucional do país". O ato do general ganharia um dia depois apoio do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, que fala aparentemente pelo conjunto das forças armadas.
O segundo evento: se a evidência de ameaça explícita de golpe já tinha elevado a temperatura do ambiente político, o choque com a desfaçatez viria algumas horas depois. A divulgação do vídeo da reunião ministerial no mesmo dia 22 de abril por ordem do ministro do STF Celso de Melo revelaria ao país um pouco de tudo: palavras de baixo calão, agressões a governadores e a ministros do STF, ameaças de rupturas institucionais e um plano macabro do Ministro do Meio Ambiente de destruição da Amazônia.
Fanatismo, sectarismo, falta de pudor e talvez não expressem tudo o que se viu na reunião ministerial. Foram precisos mais de 130 anos de República para que o povo brasileiro pudesse ver e ouvir a mais alta da administração do país apropriar-se das instituições e tramar a proteção policial para amigos e familiares do presidente, além de para ele próprio, contra investigações criminais. O excesso de grosserias e cafajestadas somente não encontrou ressonância maior que a falta de projetos para afastar o país da grave crise econômica, social e sanitária. À mesa da reunião faltou a compaixão com o povo brasileiro. Sobraram a sabotagem do Ministro do Meio Ambiente contra a proteção da Amazônia e o oportunismo explícito de como desmonta a legislação ambiental no instante em que o país tem sua atenção voltada à crescente perda de vidas humanas para a Covid-19.
Ao conhecimento público também veio a indiferença do ministro da economia Paulo Guedes para com as pequenas e médias empresas. É grave para o conjunto de empresários e trabalhadores o fato de a pandemia destruir emprego e renda pela falta de crédito público. Do conjunto da obra nada se compara, porém, ao desejo explicitado pelo presidente da República de levar o país à guerra civil: “Por que eu tou armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! (...) É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado! Que povo armado jamais será escravizado” – disse o presidente em meio a miseráveis adjetivos.
O macabro projeto do presidente de quebrar as regras do jogo democrático e de estimular a violência nas ruas não se resumiu às palavras: “Eu peço ao Fernando (Ministro da Defesa) e ao Moro (Ministro da Justiça) que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta!” O qualificativo rastaquera tinha alvo certo: os governadores e os prefeitos que cumprem a Lei e protegem a população contra a propagação da pandemia. Já a portaria seria publicada no dia e tratava de elevar a quantidade de munição que poderia ser comprada por um civil de 200 unidades por ano para 550 por mês.
Menos pelo palavrório e mais pelas ameaças de ruptura a reunião expôs o único programa do presidente da República: o de construção de um estado miliciano e autoritário. Assim como Luiz XIV, monarca francês que viveu no século XVII, o pretenso déspota dos trópicos vê na Constituição Federal a expressão da sua personificação. “A Constituição sou eu”, disse ele.
Nada mais natural, portanto, a ideia de que o estado deve ser utilizado para proteção da família e de seus amigos; natural também a ideia de fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Por que não interferir na Polícia Federal? Por que não aparelhar o serviço de informações do Estado ou mesmo criar seu o seu próprio? O objetivo do déspota é sempre o mesmo: perseguir minorias, silenciar a oposição, atacar jornalistas, censurar a cultura, concentrar poder. Vale aqui a máxima de Alexis de Tocqueville, 1835, sobre a autoridade do déspota: “Seus filhos e seus bons amigos constituem para ele a totalidade da espécie humana”.
Em entrevista ao Le Monde de domingo (24), o Diretor Executivo do Observatório Político da América Latina e Caribe (Opalc) Gaspard Estrada, disse: o “único projeto de Bolsonaro é destruir as instituições da Nova República que saíram da Constituição de 1988”. Ele lembrou a propósito a declaração dada em março de 2019 por ninguém menos que o próprio Bolsonaro durante evento da embaixada do Brasil em Washington.
A reunião ministerial serviu também para desmistificar o que os principais analistas políticos da imprensa corporativa até há pouco martelavam: Jair Bolsonaro está longe de ser controlado pelas elites econômicas e pelas instituições que o criaram. O processo de degradação institucional segue avançando e com ele o desejo do presidente de mais poder, de armar milícias e de eliminar a oposição.
Depois da divulgação do vídeo ministerial parece que não poucos mais duvidam que está em curso no País a instituição de uma ditadura. De nada adianta dizer que o presidente foi eleito; que as instituições funcionam e quejando. Se olharmos bem a história não será difícil perceber que na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler o fascismo também ascendeu ao poder pelo voto. O ato do presidente de armar a população precisa ser levado a sério, como também suas palavras; está em andamento no país um movimento fascista de estado; está em curso um projeto de superação da deteriorada democracia por um regime de força. Os ingredientes desse movimento estão presentes: um presidente reacionário, despótico e perigoso; militares complacentes, quando não coniventes, ocupando mais de uma dezena de ministérios; uma minoria fanática, mas barulhenta, que o segue disposta a sacrificar-se pelo líder; um discurso profundamente conservador, superficialmente crítico dos problemas nacionais, mas capaz de mobilizar setores da sociedade; o culto ao militarismo e à violência.
Nunca a atuação do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal, das instituições foi tão necessária. Esperar que o projeto de Jair Bolsonaro se consolide ou que o estado autoritário seja proclamado no Diário Oficial pode não ser uma boa aposta.
Sobre o possível adiamento das eleições municipais deste ano por conta da pandemia de Covid-19, Barroso afirmou que a possibilidade é real: “acho que ainda é cedo para decidir sobre o adiamento, mas preciso reconhecer que hoje essa é uma possibilidade real. Junho será o momento de definição. A minha posição é tentar evitar ao máximo o adiamento. Mas, se não der, teremos que prorrogar os mandatos dos prefeitos e vereadores por um prazo mínimo”.