Em depoimento, Walter Delgatti Neto disse que Bolsonaro lhe pediu para assumir autoria de grampo
Por Guilherme Resck
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) protocolou uma queixa-crime contra o hacker Walter Delgatti Neto por calúnia, devido a acusação feita por este em seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos de 8 de Janeiro.
"Durante a sua inquirição perante a CPMI, o Querelado [Delgatti Neto], ciente da manifesta falsidade da imputação formulada em desfavor do Querelante [Jair Bolsonaro], imputou ao Peticionário - repise-se: FALSAMENTE - o delito de realizar interceptação telefônica ou telemática sem autorização judicial, preconizado no artigo 10º da Lei Federal nº 9.296/1996", pontua a queixa-crime.
O documento ainda reproduz a declaração de Delgatti Neto. "Eu não me recordo o dia. Eu estava em Ribeirão Preto, pela manhã, quando a deputada Zambelli entrou em contato e disse que o motorista iria me encontrar para me encontrar com ela para tratar de um assunto urgente. Eu não sabia onde seria o encontro. Nisso fomos até esse posto, onde a deputada estava realizando campanha", disse o hacker aos parlamentares.
Delgatti Neto prosseguiu: "Nesse encontro, ela pegou o celular dela, um 'chip' e um celular novo, e o presidente [Bolsonaro] entrou em contato comigo. Nesse contato, segundo ele, teria um grampo do ministro [Alexandre de] Moraes. Segundo ele [Bolsonaro], teria conversas comprometedoras do ministro e eles precisavam que eu assumisse a autoria desse grampo".
Ainda de acordo com o hacker, o então chefe do Executivo federal "disse que esse grampo teria sido realizado por agentes de outro país". "Não sei se é verdade, porque não tive acesso, mas em troca me foi prometido indulto e ainda disse que se eu fosse preso, [Bolsonaro] prenderia o juiz. Usou essa frase. 'Fique tranquilo, se algum juiz te prender, eu prendo o juiz', e deu risada. Eu concordei porque era uma proposta do presidente da República".
A queixa-crime ressalta que a declaração "foi feita na presença de inúmeras pessoas e restou divulgada por meio da imprensa, rádio, televisão e internet, o que facilitou, assim, sobremaneira a sua propagação".
O documento é assinado por sete advogados, incluindo o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten.
"À luz de todo o expendido, requer seja recebida e autuada a presente queixa-crime, determinando-se a citação do Querelado para ser devidamente interrogado, regularmente processado e ao final condenado como incurso no crime insculpido no artigo 138 (calúnia) do Código Penal".
O processo está tramitando no 3º Juizado Especial Criminal de Brasília.