Em meio a receios fiscais, mercado brasileiro opera em completo descompasso com euforia no exterior por Fed mais brando
Por Guilherme Guilherme e Beatriz Quesada
O Ibovespa apresenta firme queda nesta quinta-feira, 10, pressionado por preocupações sobre os rumos fiscais do próximo governo. A queda, que se arrasta desde o início do dia em meio a incertezas sobre PEC da Transição, foi amplificada após discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, na sede da transição. O movimento ocorre em sentido totalmente oposto ao das bolsas de Nova York, que dispararam com apotas de um Fed mais brando em dezembro.
Ibovespa: - 3,24%, 109.906 pontos
Dólar: +3,13%, R$ 5,345
Lula criticou as pressões por responsabilidade fiscal, dizendo que "os mesmo que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social deste país". A leitura de investidores sobre o discurso é de que o novo governo irá gastar muito mais, haja o que houver.
O efeito foi sentido especialmente nas taxas de juros futuras, com investidores precificando maior dificuldade do governo conseguir empréstimos nos próximos anos devido a uma situação fiscal fragilizada.
Taxas de juros futuras chegam a subir até 7%, dependendo da data de vencimento. Juros de longo prazo são os mais afetados pela piora da perspectiva fiscal. "Não me lembro a última vez em que vi uma movimentação dessa nos juros", afirmou Nicolas Merola, analista da Inv.
O que está dando o tom é a curva de juros, que explodiu e desde o início do dia não para de subir. Isso rebate em praticamente todos os setores da bolsa", afirmou André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.
Para piorar o estresse no mercado de juros, a inflação de outubro voltou a sair acima das expectativas do mercado, encerrando a sequência de três meses de deflação . O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta manhã, ficou em 0,59% ante consenso de 0,48%.