Por Julia Duailibi do G1
Num momento de embate do presidente Jair Bolsonaro com o Judiciário, em razão das urnas eletrônicas, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, se encontrou com o Alto Comando da Aeronáutica e fez uma defesa do sistema eleitoral brasileiro.
O encontro, revelado pelo jornal "Folha de S. Paulo" e confirmado pelo blog, aconteceu na terça-feira (3), na Aeronáutica, em Brasília. O comandante Carlos Baptista Júnior se encontrou em privado, durante alguns minutos, com Gilmar Mendes e depois o levou para o almoço com integrantes do Alto Comando da Força.
No almoço, os militares afastaram qualquer possibilidade de ruptura. E o ministro fez uma defesa das urnas, falando que elas já são passíveis de auditoria e que o sistema passa por várias provas, entre as quais a submissão a hackers, que têm como objetivo tentar alterar o código-fonte do aparelho. Os dois lados comentaram, inclusive, que a Aeronáutica atua nas eleições ao ajudar na distribuição das urnas pelo país.
A reunião dos dois ocorre num momento em que Bolsonaro ataca o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, por ver no ministro uma resistência a sua proposta de impressão do voto - proposta que, no meio político e jurídico, é cortina de fumaça para o verdadeiro objetivo do presidente, que é questionar a credibilidade do resultado da eleição presidencial do ano que vem.
Também ocorre num momento em que o Ministério da Defesa, por meio do ministro Braga Netto, defendeu em nota a proposta de Bolsonaro de impressão do voto e fez ameaças veladas ao Congresso ao criticar declarações do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), que dissera haver uma "banda podre" nas Forças Armadas.
Baptista Júnior é visto como o comandante mais alinhado à pauta ideológica de Bolsonaro e, depois da edição da nota de Braga Netto, que trazia a sua assinatura e a dos outros dois comandantes das Forças Armadas, chegou a dizer em entrevista ao jornal "O Globo" que o texto era "um alerta" ao Congresso. A declaração foi considerada por parlamentares como uma ameaça ao livre funcionamento dos poderes e uma afronta à Constituição.