Partido tenta conter a crise que se agravou após carta do ex-governador de SP, João Doria
Por: Bruna Yamaguti
Reunidos em Brasília nesta 3ª feira (17.mai), líderes e integrantes do PSDB tentaram definir a posição do partido na disputa à Presidência da República. O encontro frustrou os partidários, já que não houve acordo e a sigla deve fazer uma nova reunião, desta vez, com a presença do pré-candidato João Doria. O ex-governador de São Paulo decidiu mandar um representante.
O PSDB tem pretensões de se juntar ao MDB e ao Cidadania para formar a chamada terceira via, com isso, unindo forças e aparecendo como uma alternativa à polarização marcada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e pelo presidente Jair Bolsonaro, do PL, que vai tentar a reeleição.
A legenda está dividida entre os que defendem o nome de Doria e os que apoiam a aliança com o Cidadania e o MDB, que já tem como pré-candidata Simone Tebet. Na 2ª feira (16.mai), a senadora afirmou que está disposta a "jogar em qualquer posição".
No último fim de semana, o ex-governador de São Paulo João Doria enviou uma carta ao presidente do partido, Bruno Araújo, subindo o tom ao reafirmar que não vai desistir da candidatura, e indicando que poderá judicializar a situação, caso seja abandonado pela sigla.
Após a divulgação, Bruno Araújo convocou a reunião para debater as afirmações de Doria - que reitera que não vai abrir mão de ser candidato e que foi escolhido pela maioria dos membros do partido nas prévias feitas no ano passado, quando venceu o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.
"Solicitamos que você [Bruno Araújo] respeite o estatuto do PSDB e a vontade democraticamente manifestada pela ampla maioria dos trinta mil eleitores do nosso partido", afirma Doria. Em outro ponto, o ex-governador diz que, antes mesmo das prévias, existia uma "movimentação de parte da cúpula" do PSDB contra ele e que, depois do processo interno, "tentativas de golpe continuaram ocorrendo".
Segundo o advogado de João Doria, Arthur Rollo, se o PSDB optar por não lançar o ex-governador ao Planalto, a briga poderá parar na Justiça. "É muito mais que um desrespeito ao João Doria, é um desrespeito à democracia partidária e é um desrespeito ao estatuto do PSDB. Tanto o respeito à democracia partidária quanto ao estatuto do PSDB são passíveis de correção pela via judicial, se necessário for", afirmou ao SBT News.
Na saída do encontro, o presidente do PSDB, Bruno Araújo afirmou que "judicialização é uma antipolítica. Nós apostamos no diálogo e na política e o resultado faz bem menos ao partido, mas mais à democracia", declarou. O presidente da legenda também falou sobre a pesquisa encomendada pelo partido para saber a viabilidade dos candidatos da terceira via.
"Atingimos algo muito produtivo, de muita unidade, no sentido de ter a compreensão do momento que nós passamos e vocês já sabem que isso ensejou a aprovação de duas coisas: primeiro o reconhecimento de que os entendimentos políticos feitos com MDB e Cidadania foram devidamente ratificados na reunião de hoje (17.mai) para não deixar qualquer dúvida de interpretação em relação a carta que houve no fim de semana. Então, amanhã (18.mai) nós seguimos o diálogo e a apresentação da pesquisa", disse Araújo.
O deputado federal Aécio Neves (MG) também falou com os jornalistas: "O PSDB tem uma responsabilidade com o país. Em um momento de tanta radicalização, incompreensível o PSDB não se posicionar, não ter uma proposta para apresentar ao Brasil. Ouvimos várias manifestações, inclusive de parlamentares, de lideranças que haviam apoiado o João Doria nas prévias, dizendo das dificuldades da sua candidatura", afirmou o parlamentar.
Aécio Neves também informou que fez uma proposta ao presidente do partido, Bruno Araújo, para que seja feita uma nova reunião, desta vez com a presença de João Doria. O entendimento é de que o PSDB deve ter uma candidatura própria, mas o nome de Doria pode trazer prejuízos para a legenda em vários estados.
"Não é demérito nenhum se você não conseguir consolidar ou construir uma candidatura. Quantos não viveram esse processo? Acho que as palavras muito claras, sobretudo dos candidatos a governadores e parlamentares no sentido de que, dado esse tempo, a candidatura de João Dória não se mostrou viável, isso tem que ser dito a eles e quem sabe ele possa fazer um gesto, muitos não acreditam, mas quem sabe, não é?", concluiu Neves, que foi candidato da legenda ao Planalto em 2014.