EDITORIAL
“No mundo, a tirania e a injustiça começaram por uma coisa infinitamente pequena”
SAADI
Em pleno dia 31 de dezembro, data que marcou o fim de um ano de muita tristeza e muito sofrimento para a população, que teve as festas natalinas mais doloridas pela ausência de entes queridos levados pela Covid-19 e que o medo tomou conta dos festejos de fim de ano realizado nos lares de forma tímida. Data em que o palmense e o tocantinense reservaram para extravasar toda essa tristeza e colocar sua esperança em dias melhores, o governo do Estado decide colocar as polícias Civil e Militar nas ruas, em blitzen, para apreender veículos com IPVA atrasado ou em qualquer tipo de situação irregular, o que gera multas aos seus proprietários.
A ação é perfeitamente legal e necessária, a data é que foi muito mal escolhida. Imagine um pai de família que passou o ano desempregado, um profissional formado que perdeu seu emprego e passou a trabalhar como motorista de aplicativo, uma família que perdeu um ou mais membros para a Covid-19, terminando o ano com o veículo apreendido...
Alguns relatos apontaram que até os policiais estavam envergonhados, tímidos, na ação, mas precisavam cumprir as ordens recebidas.
Na verdade, faltou sensibilidade, tato e senso de humanidade ao governo do Estado.
REFLEXÃO
Que o senhor governador Mauro Carlesse faça uma reflexão profunda sobre o ato que autorizou, que certamente foi ideia de algum dos seus auxiliares, e que esta constatação do quão inoportunas foram essas blitzen, sirvam para que perceba o quão imediata é a necessidade de uma reformulação no seu quadro de auxiliares, do terceiro ao primeiro escalão, e que ele busque por pessoas competentes, capazes e que, além disso, tragam consigo um pouco de sentimento de humanidade, e que isso norteie suas decisões e seus atos.
O governo está com dinheiro em caixa, com as contas equilibradas e não precisa, em hipótese alguma, do dinheiro gerado por essas multas do dia 31 de dezembro.
“Covardia grande, não se faz isso num momento de congraçamento da humanidade nascimento de Cristo!!!! Governo não é para isso”, comentou uma autoridade do alto escalão do Poder Judiciário.
Queremos crer que a ideia das blitzen não partiu do governador Mauro Carlesse. Esse é o tipo de atitude que a população não perdoa e que a mágoa fica para sempre. Após tantas conquistas positivas em sua gestão, uma decisão desumana como essa faz o povo esquecer tudo de bom que já elogiou ou recebeu.
Mexer no bolso de família combalidas sentimental e economicamente, definitivamente, não é a melhor coisa que um governo deve, sequer, pensar em fazer.
AS “VÍTIMAS”
Uma cidade que tem 13.500 beneficiários do Bolsa Família, que mantém uma média de quase 2 mil demissões por mês, não merecia terminar o ano com seus cidadãos achacados por punições que podem ter sido causadas exatamente pela parte da máquina administrativa que vem falhando – ou apenas demorando para acertar – durante a pandemia, que é a área econômica.
Justamente um governo que teve que tomar medidas drásticas como a demissão de servidores contratados para se enquadrar na Lei de Responsabilidade Fiscal deveria ser mais maleável – e mais humano – na hora de promover ações que podem piorar a situação financeira de quem perdeu seu emprego, ou tirar-lhes, às vezes, o único bem de valor que, na maioria das vezes levaram anos pagando assiduamente as prestações.
Apreender carros e motocicletas por impostos devidos ao governo que estão em atraso, é enfatizar a face mais nefasta do relacionamento entre o Poder Público e a população, pois o próprio nome já diz: “imposto”.
“AGRAVANTES”
E as blitzen ainda trazem outros “agravantes”, se é que se pode chamar assim, que são as empresas terceirizadas, concessionárias do governo do Estado, responsáveis por guinchar e “guardar” os veículos apreendidos.
Primeiro, que esse guincho é cobrado por fora, não está incluso na multa. Segundo que os locais onde esses veículos são “guardados”, não passam de terrenos baldios aonde os mesmos são amontoados e ficam expostos ao sol e à chuva, tendo seus valores depreciados a cada dia que passam nessas condições e, o pior, os proprietários são obrigados a pagar diárias pelo tempo que os veículos ficam nesse depósito.
Pior, ainda, que as apreensões foram feitas na quinta-feira, hoje é feriado e o depósito não abre aos fins de semana para atendimento ao público, assim como os locais que recebem as multas para regularizar a situação dos veículos.
Ou seja, nada foi por acaso....