Deixar a resolução dos problemas do Estado para participar do pleito eleitoral deste ano não será boa idéia para Marcelo Miranda
Por Edson Rodrigues
O governo do Estado enfrentará dias de muita turbulência a partir de agora, com a ameaça de deflagração de uma greve geral pelos sindicatos representativos dos servidores públicos estaduais. Esses dias coincidirão com o início da campanha eleitoral nos 139 municípios tocantinenses e, enquanto esse problema estiver em andamento, haverá questões mais importantes em jogo do que quem vai ser prefeito de qual cidade.
Na Saúde, quantas vidas serão levadas em vão, quantas famílias ficarão órfãs? Na Educação ficarão centenas de alunos sem aulas, que sonham em formar-se, entrar na faculdade. O Estado vai parar de exportar, arrecadar, fiscalizar; não haverá como pagar o funcionalismo porque não haverá arrecadação; haverá calotes nos comércios e será inevitável a escuridão, assim como a seca nas torneiras das residências, pois as tarifas de água e energia não vão esperar pelo pagamento das contas de cada cidadão. Também será inevitável aos donos de supermercados, mercadinhos, quitandas, pagar suas contas com fornecedores. Se algum deles conseguir abrir, não será para vender fiado, assim como os postos de gasolina e todo e qualquer tipo de comércio.
Se os cidadãos já reclamam do aumento da violência, com uma greve geral o problema de segurança pública vai se agravar mais ainda, um fato que levará a população a ficar desguarnecida, insegura, aflita, em pânico. Por sua vez, não haverá condições do comércio ficar com as portas abertas, muito menos os bancos, as casas lotéricas. Será impossível aos cidadãos andar nas ruas de suas cidades, pois os criminosos estarão à espreita. Já vivemos em perigo constante sem greve, testemunhando centenas de assaltos, roubos, furtos, sequestros relâmpagos, explosão de caixas eletrônicos sendo praticados todos os dias, assassinatos, mesmo com os policiais militares e civis estarem em ação 24 horas por dia combatendo, prendendo marginais, criminosos, traficantes, muitos já vindos de estados vizinhos, mesmo com nossos valorosos policias passando por problemas estruturais como falta de armas, munições, combustível, viaturas, coletes a prova de balas, entre outros. A única coisa que não falta a estes homens é a vontade de trabalhar, de proteger a população e o patrimônio público.
O PAPEL DO GOVERNADOR
Se optar por se envolver com a campanha eleitoral municipal, sob o nosso ponto de vista, o governador Marcelo Miranda estará escolhendo um caminho errado, assumindo o risco de deixar de comandar as rédeas do Tocantins, principalmente se “subir em palanques” não recomendáveis.
O mais acertado será delegar aos seus assessores mais próximos ou até mesmo ao seu fiel guerreiro e escudeiro, Dr. Brito Miranda, seu pai, e experiente articulador político, a tarefa de acompanhar as eleições municipais de perto e defender os interesses do Estado onde for necessário.
É certo que, nos próximos 45 dias, Marcelo Miranda será alvo de inúmeros ataques, vindos de todos os lados, inclusive de “fogo amigo” quando seus correligionários acharem que seja mais interessante, em seus municípios, mostrar certo distanciamento do governo estadual.
Recomendamos que Marcelo Miranda cuide do institucional, que não se exponha, pois a maré não estará para peixe, pelo menos, até abril do ano que vem, quando o governo federal e os estados estiverem com suas economias mais estabilizadas e em condições de pensar em novos investimentos e parcerias, com um relacionamento mais estreitado e azeitado.
Traduzindo em miúdos, é melhor que Marcelo Miranda seja governador, na essência da palavra, e que deixe os meandros políticos para seus homens de confiança, pois a hora é de cuidar do que necessita ser cuidado e deixar os salamaleques da política para outra hora.
RELACIONAMENTO A PERIGO
Apesar do secretário da pasta de Articulação Política, Lyvio Luciano Carneiro de Queiroz, ser um profissional da área, o que pesa, no momento, é o fato de que ele veio para o Tocantins “de helicóptero” e pouco sabe das nuances da política tocantinense. Sendo assim, é natural que o governo do Estado esteja um tanto quanto desfalcado nesse setor, pois, sabe-se que ele é o alvo das maiores “sapecadas” e “descidas de mutamba” por parte dos companheiros de governo e, principalmente, dos aliados da “base governista” na Assembleia Legislativa.
Lyvio ainda é pouco conhecido das lideranças do interior e, juntando-se isso à instabilidade na Assembleia, é bem possível que o governador encontre um parlamento bem diferente após a reabertura dos trabalhos legislativos em agosto, com características nada favoráveis ao Palácio Araguaia, o que colocaria o ano de 2017 em um patamar de pura especulação sobre como será a condução do Estado e o relacionamento entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
RESSACA PÓS-ELEITORAL
É certo que, após as eleições de outubro o Brasil inteiro vai ver um longo período de ressaca, pois, com a instalação do 2º turno jurídico, o RECED vai “comer solto”, com a impugnação de vários eleitos e grandes embates judiciais pelo comando das cidades. No Tocantins não será diferente, mas um ingrediente vai apimentar essa situação: 90% das prefeituras do Tocantins estão quebradas, muitas inadimplentes com o funcionalismo, enfrentando greves, com estradas intransitáveis e serviços básicos falhos.
Aí, sim, será chegada a hora de o governo estadual voltar a ser a tábua de salvação, o porto seguro de dezenas e dezenas de prefeitos. Então, o Palácio Araguaia poderá optar por oferecer um atendimento “especial” aos que se mantiveram ao seu lado e fiéis à filosofia do esforço por dias melhores.
É certo, também, que após as eleições será a hora do ajuste dos governos estaduais em relação às suas equipes de governo, fazendo os ajustes necessários para se adequar à nova realidade.
O fim deste ano marcará o início da recuperação da imagem do governador Marcelo Miranda junto ao povo e ao eleitorado. Os planos políticos e de governo estarão mais fáceis de ser aplicados, com um orçamento “virgem” e uma nova realidade econômica.
Ou seja, é mais recomendável que o governador Marcelo Miranda aguarde o processo eleitoral terminar para colocar em prática as mudanças que a situação exige e de avaliar quem são seus reais aliados e companheiros. O fim do ano marcará o fim das eleições e o início, praticamente, de um novo governo.
Novas estratégias e novas formas de agir.