O governo conseguiu reverter nesta quarta-feira (17) a derrota que havia sofrido há quase cinco meses pela presidência do Sebrae Nacional
Com Agências
O conselho da entidade, uma das que compõem o chamado Sistema S, aprovou a destituição do então presidente, João Henrique Sousa e elegeu o ex-deputado Carlos Melles.
A troca foi patrocinada pelo ministro Paulo Guedes (Economia), que trava uma disputa com líderes das principais entidades do Sistema S para assumir o comando de um orçamento de quase R$ 18 bilhões.
Por meio de mecanismos de controle, o governo pretende usar esse dinheiro no custeio de projetos que tenham a chancela do governo.
Melles obteve 14 votos do conselho, dos quais 11 membros são de órgãos ligados ao governo federal, como Banco do Brasil, BNDES e Caixa.
O ex-parlamentar já tinha um cargo no Sebrae, como diretor de administração e finanças, e contava com o apoio da bancada da micro e pequena empresa, do Congresso.
Guedes apoiou seu nome e as entidades do Sistema S que fazem parte do conselho decidiram seguir o governo para evitar a derrota.
CNI, CNA e CNC - confederações da indústria, da agropecuária e do comércio, respectivamente - têm assentos no conselho, que controla a administração dos recursos do Sebrae, cerca de R$ 3,3 bilhões por ano.
A disputa pela presidência do Sebrae foi um dos motivos que despertaram a insatisfação de Guedes com o Sistema S.
O então presidente do Sebrae, João Henrique Sousa, foi eleito em novembro, logo após a vitória de Bolsonaro. Mas isso ocorreu à revelia do agora ministro, que havia indicado o nome de Antônio Alvarenga para o posto.
João Henrique recebeu o apoio do ex-presidente Michel Temer e de Robson Andrade, presidente afastado da CNI (Confederação Nacional da Indústria), para chegar ao comando do Sebrae.
Pessoas que acompanham o caso afirmam que o intuito era alocar o aliado no posto antes da chegada da equipe de Bolsonaro ao poder.
João Henrique foi presidente dos Correios em 2003 e 2004 e, com a saída do Sebrae nacional, está cotado para assumir a direção do Sebrae do Distrito Federal, que por sua vez é governado por Ibaneis Rocha (MDB).
Guedes não aceitou a derrota e trabalhava, nos últimos meses, para destituir o presidente e indicar um nome.
O governo considera que o Sistema S é uma caixa-preta, sem transparência na prestação de contas. Também vê desvio de finalidade no uso desses recursos, que deveriam ser mais bem empregados em educação profissional.
Por isso, a equipe de Guedes cogita reduzir entre 30% e 50% as contribuições ao Sistema S.
As entidades, que administram as redes Sesc, Sesi, Senai e Senac, são abastecidas com recursos recolhidos pelo governo, de maneira compulsória, de acordo com o tamanho da folha de pagamentos de cada empresa.
As micro e pequenas são isentas da cobrança e, por isso, o Sebrae é abastecido com uma parte dos recursos que são divididos com as demais entidades.
Por isso, a administração do Sebrae tem uma composição própria, tradicionalmente sob maior influência do governo e do Congresso.
Melles tomou posse, junto com a nova diretoria, no fim da tarde desta quarta-feira. O novo diretor técnico é Bruno Quick e o novo diretor de administração e finanças, Eduardo Diogo.