Neste primeiro fim de semana do ano de 2022, um fato político ocorrido em Gurupi, começou a abrir caminho para uma reviravolta na situação de Mauro Carlesse, afastado do governo pelo Pleno do STJ até o próximo mês de abril, e com um processe de impeachment contra si, correndo na Assembleia Legislativa.
Por Edson Rodrigues
O Diário Oficial da prefeitura de Gurupi trouxe, na sua edição do último dia sete de janeiro, a nomeação de Juliana Passarin como secretária municipal de Administração. Passarin era secretária estadual de infraestrutura no governo de Mauro Carlesse, e pediu exoneração, de forma irrevogável, uma semana após a decisão que afastou Carlesse.
Vista aérea da cidade de Gurupi
Vale ressaltar que o afastamento de Carlesse pela Corte Especial do STJ, o Superior Tribunal de Justiça foi motivado pela acusação de atrapalhar as investigações que tentam esclarecer um suposto esquema de corrupção relacionado ao plano de saúde dos servidores do estado e outros atos não republicanos que levaram ao afastamento, também pelo STJ do secretário de Segurança Pública, um delegado da própria Polícia Federal, em licença do cargo para comandar a secretaria de Segurança Pública.
Em outra instância, a Justiça Eleitoral cassou os diplomas da prefeita Josi Nunes e do vice-prefeito Gleydson Nato, ambos sentenciados por abuso de poder político durante as eleições de 2020. O juiz Nilson Afonso da Silva, da 2ª Zona Eleitoral de Gurupi, foi autor. Também na mesma oportunidade foi contemplada, além da cassação, a inelegibilidade dos gestores de Gurupi e do governador afastado do Tocantins Mauro Carlesse, todos por oito anos.
A sentença contra Josi e Gleydson só vai poder ser cumprida depois que todo processo tiver seu trânsito em julgado, ou seja, após todos os recursos serem esgotados – e isso costuma durar mais que o tempo de mandato –, mas Mauro Carlesse continua afastado do governo do Estado, e com ações de sua defesa que podem trazê-lo de volta ao governo, uma vez que, em se falando de STF, onde se concentram as atenções dos advogados de Carlesse, não se pode fazer previsões.
ACOMODAÇÃO DE FORÇAS
Segundo os bastidores políticos do Tocantins, a nomeação de Juliana Passarin na prefeitura de Gurupi pode ser avaliada como o primeiro passo para uma acomodação de forças – e recursos – do grupo político de Mauro Carlesse, que pode, inclusive, emplacar outros ex-secretários e assessores na administração de Josi Nunes (Gurupi é, nada menos, que a terceira maior cidade e o terceiro maior colégio eleitoral do Estado ).
Ao mesmo tempo, é uma demonstração de lealdade de Josi Nunes, e serve de “recado” ao Palácio Araguaia – direto ao governado em exercício, Wanderlei Barbosa, candidato á reeleição – de que não deve contar com o patrimônio político de Josi Nunes em seu palanque pela reeleição e que o relacionamento entre os dois será apenas institucional e protocolar.
Josi, inclusive, dá sinais de que deve promover, nos próximos 20 dias, uma profunda reformulação no seu quadro de auxiliares, abrindo espaço para acolher mais ex-colaboradores da gestão de Carlesse, muitos já com residências em Palmas ou buscando imóveis em Gurupi.
Há um grande suspense na cidade acerca dessa ação, mas, pelo sim e pelo não, fontes muito confiáveis já confirmaram as mudanças e que serão profundas.
Vale ressaltar que Juliana Passarin e outros ex-componentes da equipe de governo de Mauro Carlesse nada têm contra si na Justiça, e nada impede que Josi Nunes os “agasalhe” em sua administração que, ao mesmo tempo, passaria a contar com uma equipe de excelentes técnicos em suas funções, ganhando força de trabalho e experiência para realizar uma grande administração. Seria como quase todo o primeiro escalão de um governo estadual a serviço de uma administração municipal.
CARLESSE E SEU “PLANO B”
Já é considerada opinião unânime nos bastidores políticos e entre os principais analistas políticos do Tocantins que, após conversas em absoluto anonimato com deputados estaduais e federais advogados da área eleitoral, Mauro Carlesse pode estar colocando em prática seu “plano B”, com o apoio de Josi Nunes.
Com seus principais técnicos e assessores garantidos em funções de destaque em Gurupi, Mauro Carlesse renunciaria ao governo do Estado. Com essa renúncia, ele perderia o foro privilegiado, e o processo que corre contra si no STJ, “cairia” para a Justiça comum, ainda em primeira instância, no Tocantins, voltando, praticamente, á estaca zero.
Com a tramitação do processo de volta ao início e com todas as possibilidades de recursos em aberto (assim como acontece com a decisão que “cassou e afastou” Josi Nunes, Gleydson Nato e o próprio Carlesse, tomada pela Justiça Eleitoral do Tocantins) , Mauro Carlesse se candidataria livremente a deputado federal, com todos os seus direitos políticos garantidos, sem nada que impeça o registro de sua candidatura no TRE.
Por outro lado, o processo de impeachment que corre contra Carlesse na Assembleia Legislativa deixaria de ter finalidade política ou jurídica, pois ele não seria mais governador. Aliás, sobre a tramitação desse processo, com o relacionamento que Carlesse tinha com a grande maioria dos deputados estaduais, nenhum palpite será certeiro até que se apresentem as denúncias no relatório da Comissão Investigativa, assim como as peças de defesa.
Logo, de atual “pária” político, Mauro Carlesse passaria a ser uma grande força nas eleições de outubro, e abrirá uma grande cisão e uma grande dúvida junto aos deputados estaduais e federais que o apoiavam enquanto governador: quem terá a coragem de voltar a apoiá-lo, após todas as movimentações de reaproximação com o novo governo de Wanderlei Barbosa.
O certo é que a lealdade, a honestidade e o caráter de muita gente seria colocada à prova caso essa movimentação de Carlesse realmente ocorra.
Caberá ao eleitor decidir se Carlesse merece ou não retornar à vida pública e, pela opinião massiva dos analistas políticos, muito provavelmente, ele não ficaria sem mandato em caso de candidatura a deputado federal.
Após as convenções as respostas ficarão claras ao eleitorado tocantinense, quando os “santinhos” começarem a sair das gráficas, explicitando as dobradinhas para deputado estadual e federal.
Como em se tratando de política, tudo pode acontecer, principalmente quando há STF e seus membros envolvidos, é melhor e mais aconselhável que não se façam apostas, pois existem as tais “decisões monocráticas”, que são imprevisíveis. Agora, em se tratando de decisões do Pleno, as coisas são mais tradicionais.
Enquanto isso, o governador em exercício, Wanderlei Barbosa, vem destravando a máquina estatal, começando a dar a sua cara ao governo, buscando solucionar os problemas administrativos mais urgentes e tentando a liberação de empréstimos no banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, para ter obras com a sua chancela e deixar o seu legado de forma indelével.
Tomar que tudo o que vier a acontecer resulte em melhorias para o povo tocantinense.
É assim que penso!