LUIZ GONZAGA: A universalidade poética do cancioneiro popular Destaque

Posted On Segunda, 21 Outubro 2013 10:35
Avalie este item
(0 votos)

No aniversário do centenário de Luiz Gonzaga, comemorado agora em 2012, o Rei do Baião foi e está sendo lembrado como divisor de águas: apresentou ao Brasil a cultura do Nordeste, juntou a sanfona gaúcha com a nordestina e sua música continua viva na identidade do migrante pobre, desvinculado de suas raízes nas periferias das grandes cidades.

Por Robson Rodrigues

Apesar de toda a alegria das músicas que Luiz Gonzaga cantava sobre o Nordeste acompanhado do acordeom, da zabumba e do triângulo, é triste saber que um século passou desde que o maior expoente da música nordestina e denunciador do flagelo do sertão nasceu, mas as duras condições de vida do sertanejo permaneceram inalteradas e que os deserdados da chuva ainda continuam desamparados.

Certamente responsável por dar voz à cultura nordestina e um dos primeiros a trazer a sonoridade da região para o eixo Rio-São Paulo, o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989) apresentou a realidade da histórica estrutura econômica e social do Nordeste para o Brasil, no contexto em que a migração para o Sudeste mais se acentuou: na década de 1950.

Ao passo que o baião de Gonzaga mostrava ao Brasil o sofrimento e também o que há de belo no Nordeste, ele falava individualmente com cada retirante marginalizado, que tem suas particularidades regionais fundidas nas grandes cidades, onde as elites insistem em chamá-lo de Paraíba ou baiano. Não é por acaso que esse gênero musical – dos acordeões aos teclados – se desenvolveu com força dentro das engrenagens da indústria cultural.

A temática de sua música trata das influências de onde veio. Carregada de regionalismo e lirismo, o sanfoneiro cantava temas locais de caráter universal ao falar de seca, migração, sertão e latifúndio. Gonzagão jogou luz sobre a triste realidade que sempre assolou a região. “Que braseiro, que fornaia / Nem um pé de prantação / Por farta d’água perdi meu gado / Morreu de sede meu alazão.”

Sua maior missão era sair pelo Brasil trovando as glórias de sua terra, incumbência imortalizada na letra de seu filho legítimo Gonzaguinha. “Minha vida é andar / Por esse país / Pra ver se um dia descanso feliz / Guardando as recordações / Das terras por onde passei / Andando pelos sertões / E dos amigos que lá deixei.”

O velho Lua fez grandes sucessores, como Dominguinhos, que trilham caminhos semelhantes. “Luiz Gonzaga foi o grande benfeitor de minha carreidera artística”, afirma o cantor que começou na vida de sanfoneiro em 1950, época de ouro do baião, em que Gonzaga era o rei e Dominguinhos era só José Domingos de Morais, um menino de oito anos que tocava com os irmãos em Garanhuns (PE).

Quatro anos depois, foi Chicão, o pai biológico de Dominguinhos, quem fez a ponte entre o pequeno músico e o rei do baião, que recebeu a família Morais dando de presente uma sanfona de 80 baixos. “Recebi das mãos dele [Luiz Gonzaga] minha segunda sanfona e nunca mais me afastei dele”, lembra Dominguinhos.

Não tardou e Dominguinhos vingou a promessa de grande sanfoneiro, dando continuidade ao legado da sanfona nordestina e hoje segue firme com o talento e a simpatia de seu mestre.
Cabra cantadô e escrivinhadô