O ex-presidente Lula (PT) vai viajar o país para tentar se apresentar como uma alternativa a Jair Bolsonaro. A ideia, segundo a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, é que o partido espere o petista receber a vacina contra a covid-19 e depois disso percorra o Brasil. Gleisi e Fernando Haddad, candidato presidencial petista em 2018, também vão compor a comitiva.
Por Lauriberto Pompeu
A dirigente partidária afirmou que a programação de reuniões e visitas a estados ainda não está definida e vai começar a ser desenhada a partir da próxima segunda-feira (15). Gleisi declarou que a prioridade é conversar com os partidos de esquerda, mas disse que também estão no radar diálogos com partidos de centro e centro-direita, como MDB e PSD.
Lula voltou ao cenário político nesta semana após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin de anular as condenações dele na Lava Jato no Paraná. A anulação permitiu ao petista a possibilidade de ser candidato em 2022, algo que antes estava barrado por conta da Lei da Ficha Limpa.
"Queremos que Lula vá viajar também. Estamos só esperando ele tomar a vacina, ele vai tomar a primeira dose na semana que vem, acho que na segunda, depois tem os dias para a segunda dose e assim que tivermos a autorização do médico dele queremos fazer a viagem. Sem prejuízo das viagens com Haddad, que vamos continuar. Vamos fazer essas conversas para viajar o Brasil, conversar com lideranças, não só da política, sociais, artísticas, conversar com todos aqueles que estejam na posição de enfrentar a desconstrução do Estado brasileiro, enfrentar o Bolsonaro", explicou a dirigente partidária.
A eleição para presidente da Câmara em fevereiro permitiu uma reaproximação do PT com partidos fora da esquerda. Os petistas resolveram apoiar Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da legenda, contra Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro que venceu e hoje coordena a Casa Legislativa. PT e MDB estavam totalmente rompidos desde 2016, quando Dilma Rousseff (PT) foi afastada da Presidência da República em um processo que teve como protagonistas o seu vice Michel Temer (MDB) e o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).
"Com o Baleia a gente tem falado sempre, até pela relação construída em razão da chapa, a gente tem conversado com ele, conversado sobre legislação eleitoral, projetos, mas nada sobre projeto maior, de eleição, isso aí, não temos conversado", afirmou Gleisi.
A presidente do PT admite que Lula deve procurar integrantes do MDB que são próximos a ele como o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR). "De conversar com esses setores tem o Requião, o Renan, algumas personalidades do MDB que têm maior proximidade na relação política. Vamos procurar conversar também".
Renan Calheiros elogiou o discurso que Lula fez nessa quarta-feira (10) em São Bernardo do Campo (SP) e relatou que conversou nesta quinta-feira (11) com o ex-presidente por telefone. "Ele hoje ligou para mim, nós combinamos uma conversa quando ele vacinar e eu vacinar também".
"O Lula fez ontem um pronunciamento competente, contactou o centro, desfez as ameaças ao mercado e permitiu uma comparação impossível, que é com Bolsonaro. Acho que ele foi muito bem", afirmou o ex-presidente do Senado ao Congresso em Foco.
No entanto, o alagoano prega cautela e afirma que é cedo para avaliar uma posição sobre 2022. "Eu acho que tem que aguardar um pouco, deixar essas coisas decantarem, o MDB é um partido grande, complexo, plural, é preciso ter muita calma."
No final de fevereiro, a presidente da PT e Haddad foram a Minas Gerais. Uma das agendas foi uma reunião com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PSD.
"Não foi uma conversa sobre questão eleitoral, foi uma conversa sobre o momento político do Brasil, a gente entregou para ele nosso projeto de reconstrução e transformação do Brasil, falamos sobre esse momento crítico, a necessidade de todos aqueles que têm críticas com Bolsonaro estarem juntos para fazer um enfrentamento e garantir que a gente possa ter saídas para a crise, os prefeitos, governadores, foi nesse sentido", declarou a paranaense.
Apesar da busca pela aliança com partidos distantes ideologicamente, a petista reconhece que uma aproximação com PSD é difícil e lembra que o partido apoia Jair Bolsonaro na Câmara. "O PSD hoje está na base de apoio de Bolsonaro. Não vamos nos recusar a conversar com ninguém, se o PSD quiser conversar com a gente, não tem problema, vamos conversar, sentar à mesa e ver o que estão pensando, mas nós não procuramos, não marcamos nada ainda."
A presidente do PT já começou a procurar colegas presidentes de outros partidos de esquerda. Gleisi já conversou com Carlos Siqueira, que coordena nacionalmente o PSB, e deve se reunir nos próximos dias com o presidente do PDT, Carlos Lupi. O PDT é o partido de Ciro Gomes, que quer ser candidato em 2022 e tem feito fortes críticas ao Lula e ao PT. "Com o Lupi fiquei de conversar na semana que vem se ele vier a Brasília, ele não confirmou ainda", disse Gleisi.
"Eu conversei com Siqueira na semana passada, foi uma boa conversa, mas também avaliamos que entrar agora nessa questão eleitoral, definição de nomes, é muito ruim. O que a gente tem que fazer com esses partidos é discutir um projeto que unifique para colocar como alternativa ao que está aí. Achamos que uma mesa tem que ser nesse sentido. Estamos construindo essa possibilidade".