Marco Maciel foi o vice com que todo presidente sonha
POR AUGUSTO NUNES
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resumiu em quatro palavras a relevância do papel desempenhado por Marco Maciel nos oito anos em que foi o seu vice: “Viajei muito, sem preocupações “. Num país em que o número 2 vira titular com frequência incomum, o número 1 costuma olhar enviesado para o seu substituto constitucional já na primeira subida da rampa do Palácio do Planalto. Mas só um paranoico de carteirinha conseguiria enxergar um conspirador dissimulado no pernambucano morto nesse sábado aos 80 anos de idade. “Se me pedirem uma palavra para caracterizá-lo, diria: lealdade”, diz FHC.
Discretíssimo como político mineiro de anedota, tenaz como os faquires que seu corpo magérrimo evocava, Marco Maciel foi um negociador de primeira linha e um conciliador cinco estrelas. Integrantes dessa linhagem não costumam render grandes entrevistas. Ao fim de uma conversa de duas horas com o hábil nordestino, o entrevistador constatava que não arrancara uma única revelação, uma mísera confidência. A arte do entendimento recomenda ouvir mais do que falar. Mas interlocutores de Maciel voltavam da conversa mais sábios, menos afoitos. Mais espertos.
Quem tentava induzi-lo a especular sobre o amanhã, por exemplo, ouvia o conselho: melhor concentrar-se no presente, porque “as consequências vêm depois. “, Um repórter apresentou-lhe dois possíveis desdobramentos de um fato e perguntou-lhe qual seria o mais provável. A resposta ficou famosa: “Pode acontecer uma coisa, pode acontecer outra coisa e pode não acontecer nada". Grande Marco Maciel.