O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), disse nesta quinta-feira (9) que a quebra do sigilo de delações da Odebrecht pode prejudicar as investigações, mas ressaltou que "se houver excesso de vazamentos, talvez seja melhor abrir o sigilo”.
Da Redação
No último dia 30, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, homologou as delações de 77 executivos da empresa, nas quais detalham o esquema de corrupção na Petrobras. Mais de 800 depoimentos passaram a ser utilizados como prova.
“Se os fatos vêm à tona antes da hora, muitas provas são destruídas. Muitas pessoas são instruídas na maneira de prestar o seu depoimento. É lógico que, para uma investigação mais eficiente, o sigilo é necessário”, disse após palestra na Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), na capital paulista.
O procurador também falou sobre os vazamentos das delações: "o que nos incomoda na Lava Jato são as acusações fáceis de que os vazamentos têm origem no Ministério Público. Para nós, é sempre um prejuízo qualquer tipo de vazamento”.
ACORDOS DE LENIÊNCIA
Segundo o procurador, os acordos de leniência na Operação Lava Jato passarão a ser cada vez mais raros. “Não posso dizer que não haja possibilidade de um acordo ou outro, dependendo do que for revelado. O que é importante para nós é a matéria revelada e no que aquilo vai nos ajudar na investigação”, explicou.
Santos Lima comentou ainda a indicação, pelo presidente Michel Temer, de Alexandre de Moraes para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal e disse que outros ministros da Corte também vieram do meio político.
“Historicamente, tivemos grandes ministros do Supremo com origem na esfera política. Eu creio que as pessoas vão se revelar mais ou menos merecedoras do cargo que vão ocupar”, disse ele, ao emendar: “Diante do fenômeno da Lava Jato, seria quase impossível termos uma pessoa que não tenha ligação com partidos políticos envolvidos no fato”.
COMBATE À CORRUPÇÃO
Para o procurador, o projeto de lei de iniciativa popular que estabelece dez medidas de combate à corrupção deveria “renascer”. De iniciativa popular, o documento recebeu mais de 2 milhões de assinaturas, mas foi aprovado com diversas modificações na Câmara dos Deputados, em novembro do ano passado, por meio de emendas votadas em plenário durante a madrugada. A proposta está em tramitação no Senado.
Santos Lima comparou o projeto a uma planta: “você não arranca uma planta dessas da sociedade. Ela vai renascer, pode demorar”, disse. “Às vezes, é bom podar uma planta, para que ela renasça mais forte”, completou. Segundo ele, as 10 medidas contra a corrupção, na forma como se apresentam, são insuficientes para exterminar o problema no país. “Temos um sistema político corrompido, que se financia através da corrupção”.