O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, disse que o objetivo agora é controlar a pandemia e tentar mitigar o dano econômico.
Por: Vivian Oswald
Sob o impacto da pandemia do novo coronavírus, a Organização Mundial de Comércio (OMC) prevê um cenário sombrio para o comércio global este ano. A expectativa é de uma queda vertiginosa que pode chegar a 12,9% na melhor das hipóteses, e a 31,9% na pior delas. E a recuperação vai depender da duração do surto e do resultado das políticas adotadas mundialmente.
Da correspondente da RFI em Londres
”Esta crise é antes de tudo uma crise de saúde pública que forçou governos a tomarem medidas sem precedentes para proteger as vidas de suas populações. As perdas inevitáveis no comércio e na produção mundial terão consequências dolorosas nos lares e nos negócios, além do sofrimento causado pela própria doença, disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo”.
Para montar os seus cenários, o modelo da OMC considera um conjunto de projeções para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e por regiões. Neste contexto, trabalha com uma queda da economia global de 2,5% a 8,8% do PIB este ano.
América do Sul duramente atingida
A América do Sul e Caribe é quem mais vai sentir na pele o efeito da crise, com uma recessão estimada entre 4,3% a 11%. E a recuperação, a partir do ano que vem, por mais seja positiva, está longe de compensar o tombo. No melhor cenário vai a 6,5% e, no pior, 4,8%.
A América do Norte deve ser a região mais afetada pela perda no volume de comércio. Se confirmada a projeção mais pessimista do último balanço feito pelo organismo, a queda será de até 40,9%. O cenário otimista prevê uma redução de 17,1%. A Ásia, por sua vez, pode registrar uma queda no volume de comércio de 13,5% a 36,2% este ano.
Os países da América do Sul e Caribe devem registrar perdas de 31,3% no pior cenário traçado pela OMC, e de 12,9% no melhor. A região já havia tido queda no volume de comércio no ano passado, o que significa que já vinha de uma situação menos favorável.
Brasil, um dos países que mais vão sentir
Maior economia da região, o Brasil deve ser um dos que mais vão sentir. Em 2019, o Brasil respondeu por 1,2% das exportações mundiais de mercadorias (27ª posição global). O valor já foi 7% menor do que no ano anterior. Para importações, o Brasil ficou em 28º lugar no ano passado (com 1% do total mundial) e registrou uma queda de 3% em relação a 2018.
Em todo o mundo, o comércio de mercadorias já vinha caindo sobretudo em função da guerra comercial entre Estados Unidos e China. A queda foi de 0,1 % no ano passado.
O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, afirmou que o objetivo agora é controlar a pandemia e tentar mitigar o dano econômico causado às pessoas, empresas e países. Segundo ele, os formuladores de políticas públicas precisam começar a planejar o resultado das consequências desta pandemia.
“Esses números são feios – não há outra coisa a dizer. Mas uma retomada rápida e vigorosa no comércio é possível”, disse.
Comércio e recuperação da economia
O relatório da OMC destaca que o comércio será um ingrediente para a recuperação da economia global, juntamente com as políticas fiscal e monetária.
"Manter os mercados abertos e previsíveis, além de promover um ambiente geral de negócios mais favorável, será fundamental para estimular o investimento de que precisaremos”, afirma o documento, que reitera a necessidade do multilateralismo como resposta para a crise.
"Se os países trabalharem juntos, veremos uma recuperação muito mais rápida do que se cada país agir sozinho”, garante Azevêdo.
O relatório compara a atual crise econômica desencadeada pela pandemia de Covid-19 com a crise financeira global de 2008.
Embora os governos tenham voltado a intervir com políticas monetárias e fiscais para combater a desaceleração e oferecer apoio econômico temporário aos negócios e às famílias, desta vez existe um elemento de incertezas adicional: as restrições de locomoção e o distanciamento social.
O fechamento de setores inteiros das economias dificulta das projeções para o futuro. Daí a grande margem para os percentuais adotados nos cenários mais otimistas e os mais pessimistas.
"Nessas circunstâncias, projeções requerem grandes suposições sobre o progresso da doença e está mais dependente de estimativas do que de informações apuradas”, admite o texto.
A pior queda no comércio será provavelmente em setores com cadeias de valor mais complexas, em particular as de produtos eletrônicos e automotivos. O comércio de serviços poderá ser o mais afetado pelo COVID-19 devido às restrições de transporte e viagens.