A Catedral de Nossa Senhora das Mercês e o complexo arquitetônico do Seminário São José vinham, ultimamente, apresentado goteiras e infiltrações que começavam a compreender a estrutura das edificações.
Qualquer intervenção reparadora nas construções antigas que compõem o centro histórico de Porto Nacional demanda por recursos financeiros e técnicos, muitas vezes acima do que dispõe seus proprietários ou administradores.
Entretanto, a Mitra Diocesana de Porto Nacional, preocupada com a preservação e manutenção dos edifícios sob sua responsabilidade, alocou os próprios recursos e buscou cutros através de convênios com o Governo do Estado do Tocantins para as urgentes intervenções.
Concluída a parte dos edifícios do Seminário, que incluem o que atualmente funciona a Cúria Diocesana, iniciou-se os reparos na Catedral que foram concentrados no teto e nas infiltrações, agravadas pela inadequada tinta acrílica que recentemente revestiam parte do interior.
Por orientação do IPHAN, a empresa “JF Construções” foi contratada por tratar-se da única empresa no Tocantins com habilitações para a execução de obras com tal complexidade tecnológica. Portanto, deveria ser executada uma prospecção pictórica com o objetivo de substituir o revestimento de tinta acrílica existente no interior do templo por outro com tinta à base-de-cal, como originalmente o templo foi pintado. Além disso, a execução dos necessários reparos no teto, forro, escada de acesso ao coro e retirada da vegetação (cactos) que brotaram na parte superior.
Durante a execução dos trabalhos, o IPHAN achou por bem interromper momentaneamente as obras da Catedral sob argumento de que foram detectadas a existência de outras camadas superpostas de pintura que deveriam ser minuciosamente analisadas pelos técnicos.
Feito isto, somente na última quarta-feira (15), após uma reunião entre os técnicos do IPHAN, da JF Construções e o Bispo Diocesano, as obras forma retomadas.
Neste meio tempo, vieram à tona alguns debates sobre os quais a sociedade de Porto Nacional esta preocupada em se posicionar:
A) Qual é a politica publica de preservação do patrimônio físico localizado no centro histórico da cidade?
B) Como os proprietários dos imóveis podem mantê-los diante da enormidade de exigências do IPHAN e dos altos custos inerentes a elas?
C) Para se fazer, mesmo que pequenos reparos, como cumprir o que exige um Órgão Federal localizado em Palmas, bem longe da realidade de nossos problemas?
D) Diante do alto custo de manutenção dos casarões, quais recursos o IPHAN dispõe para as obras de conservação do patrimônio, dito de interesse nacional?
E) Porque o IPHAN não esta presente em Porto Nacional para orientar o dia-a-dia das iniciativas que querem conservar o patrimônio?
F) Qual é realmente a ajuda material que o IPHAN nos oferece para manter o patrimônio?
G) Porque o IPHAN não tem um programa de educação e conscientização, acerca do patrimônio cultural, no ensino fundamental das escolas da cidade?
H) Porque o IPHAN não consegue estabelecer um diálogo mínimo com a sociedade e, simplesmente, impõe exigências ate agora incomparáveis?
A sociedade portuense espera um posicionamento do IPHAN que venha carregado de corresponsabilidade e não somente de imposições e restrições.
É bom que se diga que, não foi o IPHAN que preservou o patrimônio histórico de Porto Nacional durante os mais de duzentos e cinquenta anos de historia. Foram as próprias famílias portuenses e a Diocese com sua consciência histórica e seus limitados recursos. O que ainda existe aqui na cidade histórica esta preservada e conservado graças às famílias proprietárias dos casarões e da Diocese de Porto Nacional.
Não cabem, agora, as criticas e os empecilhos feitos pelo IPHAN à conservação e a manutenção que fizemos durante séculos em nossos casarões e prédios antigos, por mais simples e rudimentares que tenham sido feitas. Ate agora, tudo o que foi feito para manter do que ainda temos de patrimônio histórico foi feito por nossos próprios esforços e por conta de nossas próprias expensas.
Atribui-se, erroneamente, à sociedade portuense, incluindo aqui a Diocese, descaracterizações pontuais do patrimônio histórico sob sua guarda. Entretanto, o tempo é inexorável. O longo tempo de espera por uma ação concreta doIPHAN, que não faz e nem deixa fazer, é que esta causando a verdadeira descaracterização e destruição dos nossos casarões antigos. Muitos já caíram, outros estão em ruinas e outros ainda agonizam à espera de restauração.
Conversar, conscientizar e ponderar dará melhor resultado do que ditar regras fora do contexto local, exigir recursos financeiros e técnicos que não temos ou impor a vontade de uma só cabeça.
Queremos a presença do IPHAN conosco e não sobre nos.
Edson Rodrigues
Jornalista