QUANDO A HONESTIDADE MORA SOB O VIADUTO — E A CORRUPÇÃO VESTE PALETÓ

Posted On Domingo, 26 Outubro 2025 03:03
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EDITORIAL

 

Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues

 

 

Em meio à dureza das calçadas do Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo, um casal em situação de rua devolveu R$ 20 mil encontrados após um assalto. Rejaniel de Jesus e Sandra Regina tinham apenas R$ 1 no bolso, mas carregavam algo que muitos políticos jamais tiveram: caráter.

 

 

O gesto, simples e grandioso, não apenas devolveu o dinheiro ao dono — o empresário Miguel Kikuchi — como devolveu ao casal a chance de uma vida digna. Em troca da honestidade, vieram capacitação, emprego e a promessa de um lar. Rejaniel e Sandra recusaram dinheiro fácil e uma viagem para reencontrar suas famílias. Escolheram o caminho mais difícil: o da reconstrução. E com isso, reacenderam a esperança de que ainda há pessoas que não se vendem, mesmo quando tudo falta.

 

Enquanto isso, no Tocantins, o contraste é doloroso.

 

 

Ali, onde a política deveria ser instrumento de transformação, o que se vê é um histórico de escândalos que envergonham qualquer cidadão honesto. Quatro governadores afastados ou cassados, outros presos, obras superfaturadas, alimentação precária para presos, desvios de recursos públicos até mesmo durante a pandemia — quando mais de 4.200 tocantinenses perderam a vida para a Covid-19. Em vez de solidariedade, houve saque. Em vez de compaixão, oportunismo.

 

Cestas básicas compradas com dinheiro público viraram moeda de troca política. Mandatos se transformaram em empresas lucrativas. E o povo, que deveria ser servido, foi explorado.

 

 

Rejaniel e Sandra, invisíveis sob o viaduto, mostraram que a honestidade não depende de status, nem de salário. Já muitos políticos tocantinenses, com gabinete, carro oficial e verba pública, mostraram que a corrupção não depende de necessidade — mas de escolha.

 

Mas ainda nos resta uma esperança.

 

 

A esperança de que homens e mulheres de caráter, ao entrarem na cabine de votação, possam promover as mudanças que o Tocantins tanto precisa — no Legislativo e no Executivo, independentemente de cor partidária, gênero ou origem. Que todos nós, ao votar, sejamos um Rejaniel e uma Sandra: que presenteemos nosso estado com um ato de honestidade. Que votemos com a consciência voltada para um Tocantins melhor, com o nosso futuro e o das novas gerações em mente.

 

O Brasil e o Tocantins precisam, urgentemente, de mais Rejaniels e Sandras nos cargos de poder. Gente que, mesmo com fome, escolhe a ética. Gente que, mesmo sem teto, não se curva à tentação. Gente que entende que dignidade não se compra — se constrói.

 

Que o gesto desse casal inspire não apenas empresários generosos, mas também governantes que esqueceram o que significa servir. Porque, no fim, a verdadeira riqueza está em fazer o certo, mesmo quando ninguém está olhando. E isso, infelizmente, é o que falta em muitos palácios — mas sobra sob alguns viadutos.

 

 

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