Condução coercitiva do ex-presidente Lula para depoimento á Polícia Federal em Curitiba abala as estruturas do PT e do governo federal
Por Edson Rodrigues
Se o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, representou um marco na história política brasileira, a sexta-feira, quatro de março de 2016 entra para a história do País com o dia em que a Justiça brasileira mostrou que, assim como diz nossa Constituição, “todos são iguais perante a Lei”.
Antes endeusado e aparentemente blindado pela ladainha do “eu não sabia”, Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República por dois mandatos, foi conduzido à sede da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para responder às indagações dos investigadores da Justiça Federal sobre as suspeitas que pairam sobre sua atuação durante e depois de seus mandatos.
Condução coercitiva é uma situação em que a pessoa é “convidada” a comparecer perante autoridade judicial por sua própria vontade ou, em caso de negativa, será conduzido preso por via de intimação.
Lula escolheu a primeira opção, mas, mesmo assim, depois, esperneou e chamou de “espetáculo pirotécnico” o aparato montado pela PF para que sua condução ocorresse da maneira mais pacífica possível. Disse que se sentiu “prisioneiro” durante as três horas em que prestou depoimento e praticamente se colocou como candidato à presidência em 2018, afirmando que voltaria às ruas, pois “a jararaca ainda está viva”.
Do que Lula respondeu aos investigadores, pouco se falou. Afinal, as atenções se voltaram para o – enfim – enquadramento do “santo petista” em um caso de muitos envolvidos e poucos beneficiados. O principal deles, exatamente o ex-presidente.
O país parou para aplaudir a ação da Polícia Federal. Se Lula sentiu-se “prisioneiro” por três horas, por três horas o País sentiu-se aliviado pelo fim da impunidade.
Enquanto isso, grupos de simpatizantes, correligionários e beneficiados do PT partiram para a violência contra a imprensa e contra todos que não “vestiam vermelho” nas ruas, ante a aterradora e – até então – impensável visão de seu líder adentrando uma Sala de Justiça definitivamente tipificado como SUSPEITO.
A presidente da República, Dilma Rousseff e o presidente do PT, Ruy Falcão, correram aos microfones para alardear sua “indignação” com a condução coercitiva do seu líder maior.
A oposição saiu de forma oportunista da sua inércia para afirmar que o governo está sem rumo e sem “cérebro”, logo, sem condições de governar.
Líderes latino-americanos de esquerda, do patamar de Nícolas Maduro, o grande presidente da Venezuela, repudiaram o fato, enquanto líderes democráticos ressaltaram que, nas democracias, a Constituição deve ser cumprida.
No Brasil, para o povo brasileiro, em sua grande maioria, ficou a sensação de que impunidade tem fim e que a Justiça, enfim, retirou a venda de seus olhos para olhar na direção certa.
Falando em certo, a grande certeza que fica após tudo o que aconteceu neste dia quatro de março de 2015, é a de que o PT e seu governo nunca sangraram tanto e correram tanto risco de pulverização quanto agora.
A possibilidade delações premiadas de executivos da OAS e da Odebrecht e as possíveis revelações da Andrade Gutierrez, deixaram em alerta advogados ligados ao PT, que diagnosticam que o governo de Dilma corre agora, de fato, o risco de "cair" em poucos meses.
De acordo com informações da colunista Mônica Bergamo, do jornal'Folha de S. Paulo', para um dos profissionais familiarizados com as investigações, as revelações que ainda podem surgir, somadas à delação premiada de Delcídio do Amaral (PT-MS), podem tornar a situação insustentável para a presidente.
Por outro lado, a palavra de Delcídio poderia não afetar Dilma, pois a principal acusação feita a ela (a de que articulou a nomeação de magistrados que poderiam ajudar a barrar a Lava Jato em tribunais de Brasília) não teria como ser provada, revelou a publicação.
Já as empreiteiras podem indicar documentos que comprovem eventuais crimes.
DO QUÊ LULA É ACUSADO?
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi conduzido pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre suspeitas investigadas pela Operação Lava Jato de que ele tenha recebido vantagens indevidas do esquema de desvios da Petrobras. Segundo a Polícia Federal, há indícios de que empreiteiras beneficiaram o ex-presidente, o PT e seus parentes. Lula nega as suspeitas. Essa é a 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Aletheia, em referência à expressão grega busca da verdade.
Caminho do dinheiro, segundo o MPF
ORIGEM:
PETROBRAS
Empreiteiras investigadas teriam repassado R$ 30 milhões a empresas de Lula e pagado por despesas do ex-presidente e parentes
DESTINO:
1) INSTITUTO LULA E LILS PALESTRAS
Empresas de Lula teriam recebido dinheiro das empreiteiras por doações e palestras
Quando: 2011 a 2014
Valores:
- R$ 20.740.000 para o Instituto Lula vieram das empresas Camargo Correa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão
- R$ 9.920.898,56 para a LILS Palestras vieram da Camargo Correa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez
O montante seria repassado ao PT e parentes do ex-presidente. A PF investiga se as palestras e serviços foram prestados. Segundo o juiz Sergio Moro, os "valores vultosos" geram "dúvidas sobre a generosidade das aludidas empresas e autoriza pelo menos o aprofundamento das investigações".
Segundo o MPF, o "reduzido quadro de empregados" das empresas " indica a vinculação dos
recursos transferidos pelas empreiteiras com a pessoa que melhor personifica as entidades:
LULA".
2) REFORMA DO SÍTIO E APARTAMENTO NO GUARUJÁ
OAS e a Odebrecht são suspeitas de pagar pela reforma do triplex e do sítio, entrega de móveis de luxo nos imóveis e armazenagem de bens de Lula por transportadora
Triplex no Guarujá
Quando: 2014
Valores:
- pelo menos R$ 1 milhão sem aparente justificativa econômica lícita da OAS, por meio de reformas e móveis de luxo implantados no apartamento tipo triplex, número 164-A, do Condomínio Solaris, em Guarujá (R$ 777.189,13 em reformas e R$ 287 mil em móveis de luxo para a cozinha e dormitórios)
Segundo o MPF, "embora o ex-presidente tenha alegado que o apartamento não é seu, por estar em nome da empreiteira, várias provas dizem o contrário, como depoimentos de zelador, porteira, síndico, dois engenheiros da OAS, bem como dirigentes e empregado da empresa contratada para a reforma, os quais apontam o envolvimento de seu núcleo familiar em visitas e tratativas sobre a reforma do apartamento".
Sítio em Atibaia
Quando: 2010
Valores:
- Compra do sítio por terceiros, sendo as reformas pagas por Bumlai, OAS e Odebrecht no valor de R$ 747.378,13 e móveis em R$ 170 mil.
Segundo o MPF, os donos do sítio Jonas Suassuna e Fernando Bittar “são sócios de Fábio Luís Lula da Silva (filho de Lula) como foram representados na compra por Roberto Teixeira, notoriamente vinculado ao ex-presidente Lula e responsável por minutar as escrituras e recolher as assinaturas”.
3) MUDANÇA DE LULA
Segundo o MPF, a OAS bancou a mudança e armazenamento de bens de Lula e o o contrato foi dissimulado para esconder seu real objetivo e assinado pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto
Quando: 2011
Valores:
- R$ 1.292.210,40 arcados pela OAS para a armazenagem de itens retirados do Palácio do Planalto quando do fim do mandato, em contrato assinado pela empreiteira
4) FILHOS DE LULA
Segundo a decisão de Sergio Moro que autorizou a expedição dos mandados de condução coercitiva, há pagamentos do Instituto Lula e a LILS Palestras para empresas dos filhos de Lula.
Quando: 2011 a 2014
Valores:
- R$ 1.349.446,54 do instituto para a empresa G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda., cujo sócio administrador é Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente, e Fernando Bittar e Kalil Bittar.
- R$ 114.000 do instituto para a empresa Flexbr Tecnologia Ltda., com mesmo endereço da G4, mas por sócios outros filhos do ex-presidente, como Marcos Claudio Lula da Silva, Sandro Luis Lula da Silva e a nora Marlene Araújo Lula da Silva.
- R$ 72.621,20 da LILS à Flexbr
- R$ 227.138,85 da LILS ao filho de Lula Luis Claudio Lula da Silva