SOBRE RATOS E MARIMBONDOS: DELAÇÃO DA ODEBRECHT E AFASTAMENTO DE CALHEIROS PODEM PARALISAR O PAÍS

Posted On Segunda, 05 Dezembro 2016 22:18
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Dizem que a corrupção no Brasil vem desde a época dos portugueses. Pois vem de Portugal, também o ditado que recomenda não “mexer e casa de marimbondo”.  Esse ditado refere-se à ferocidade com que os marimbondos reagem à qualquer ameaça ao seu ninho, onde estão seus filhotes em processo de metamorfose de larvas para inseto.

 

Por Luciano Moreira

 

Pois bem!  Os deputados federais e senadores brasileiros foram bulir na maior “casa de marimbondos” da nação, que é a Justiça, ao mutilar e virar do avesso o “pacote anticorrupção” tentando se proteger das delações que vêm pela frente e, ao mesmo tempo, algemando e diminuindo os poderes da Justiça e de seus órgãos investigativos, como o Ministério Público e a Polícia Federal, deixando os juízes passíveis de serem punidos por julgar ou dar determinada sentença.

Agindo como ratos, aproveitaram-se da comoção nacional com a tragédia do time da Chapecoense e, na madrugada do acidente, fora dos holofotes, legislaram em causa própria, indignando a nação, que foi às ruas protestar.

Se a delação da Odebrecht já era chamada de “a delação do fim do mundo”, com a cutucada que o Congresso deu na Justiça, as 77 assinaturas de colaboração feitas pelos executivos da empreiteira viraram nitroglicerina pura.

O primeiro a sentir os efeitos foi, agora há pouco, o presidente do Senado, Renan Calheiros, afastado do cargo pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF que seguiu a Constituição que proíbe que réus estejam na linha de sucessão do presidente da República.

A ministra Carmem Lucia, presidente do STF, deu entrevista onde afirmou que “agora é democracia ou guerra”.

Ou seja, as instituições brasileiras acabam de aliar à crise econômica a mais grave crise institucional da história do Brasil.

Se falamos sobre ratos e marimbondos, falamos sobre os membros do Congresso Nacional e sobre os membros da Justiça Brasileira, respectivamente.  Se já andavam sem credibilidade, os políticos, agora, estão mais que nunca na mira da Justiça, e não haverá exceções. Cometeu crime, será punido.

DELAÇÃO DA ODEBRECHT PODE “PASSAR A RÉGUA”

Já que estamos fazendo uso dos ditados populares, vamos nos valer de mais um para sair da adjetivação que já se tornou lugar comum para se referir à delação dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.  De “fim do mundo” ou “tsunami”, ela está mais para uma “chave de ouro”, um “passar a régua”, como os brasileiros costumam se referir ao término de um advento ou evento.

Se a classe política já estava desacreditada, o povo já estava nas ruas protestando contra a corrupção e apoiando a Operação Lava Jato e seu ícone mor, o juiz Sérgio Moro, os mais de 300 anexos de depoimentos coletados pelos procuradores que fazem as investigações na operação, servirão de pá de cal nas pretensões políticas da maioria dos ocupantes das cadeiras do Congresso Nacional.

Corre nos bastidores que acabou a fase fácil da crise política brasileira. A delação da Odebrecht vem aí e poderá comprometer mais de 200 políticos, agentes públicos, empresários e executivos.

O acordo de leniência permitirá dar andamento às delações dos 77 executivos e ex-executivos da construtora que já negociaram acordos individuais, dentre elas a mais temida de todas, a de Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente do grupo.

Em nota divulgada ontem e publicada nos jornais a Odebrecht pede desculpas ao país e admite ter cometido “práticas impróprias” em sua atividade empresarial. “Desculpe, a Odebrecht errou”, diz o título do comunicado público. “Foi um grande erro, uma violação dos nossos próprios princípios, uma agressão a valores consagrados de honestidade e ética”, diz o comunicado.

Entre os políticos mencionados nas conversas preliminares estão o presidente Michel Temer (PMDB), os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), o ministro das Relações Exteriores José Serra (PSDB), governadores, deputados e senadores. A expectativa é a de que mais de 200 nomes sejam citados formalmente por Marcelo Odebrecht, que é filho do fundador da construtora, Emilio Odebrecht, e por funcionários do alto escalão da empresa.

As investigações da Lava Jato apontaram que a distribuição de propina foi institucionalizada pelo grupo e envolvia desde diretores responsáveis pelas obras até seu presidente, Marcelo Odebrecht - afastado do cargo desde que foi preso preventivamente, em meados do ano passado.

A empresa e, principalmente, Marcelo Odebrecht, resistiram muito a colaborar com o Ministério Público Federal. A situação ficou insustentável depois da descoberta do Setor de Operações Estruturadas da empresa, conhecido como “departamento da propina”.

O INÍCIO DO FIM

Ao que parece, o potencial destrutivo das delações vindas das bandas da Odebrecht será capaz de dar início ao fim de muitas careiras políticas, mas, antes, precisa combinar com o povo.

É o povo quem mantém os Renans e os Cunhas no poder.  Mantém porque ao firmar acordos espúrios com as empreiteiras, políticos como Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Lula e muitos outros, criam uma bolha, um círculo vicioso, que mantém as empreiteiras em pleno funcionamento e contratando pessoas de baixa renda aos montes.  De ajudante de obras a apontadores, são milhões de pessoas que dependem de seus empregos para sustentar suas famílias e, de uma forma ou de outra, acabam sendo induzidos – e conduzidos – para esse voto podre, que mantém a engrenagem nefasta da corrupção em funcionamento.

Não que essas pessoas tenham consciência disso, mas acabam virando massa de manobra insuflados a permanecer na letargia do voto repetido e continuado naqueles que aparecem para eles apenas nas eleições, mas que não têm interesse nas reportagens da TV, muito menos têm acesso ás revistas semanais ou aos jornais ou sites da internet como este que você acessou agora.

Para o povo, o pão à mesa e a carteira assinada interessam mais – obviamente – que a macroeconomia ou as chicanas jurídicas que livram os corruptos das barras da Lei.

Como dissemos no início deste editorial, a corrupção chegou ao Brasil junto com as caravelas de Cabral.  Infelizmente, até hoje, os nativos continuam trocando suas riquezas – sua dignidade, sua inocência e sua força de trabalho – por um pedaço de espelho qualquer.

Tomara, mesmo, que as delações da Odebrecht e seu alcança representem o início do fim desse ciclo vicioso e que a Justiça continue livre para punir os gafanhotos que corroem o dinheiro que deveria estar nos hospitais, na segurança pública e, principalmente, nas escolas, para que as próximas gerações sejam menos ingênuas, mais atentas e, principalmente, mais interessadas em política, por meio da educação.

Que esse “fim do mundo” tão alardeado seja o fim, apenas, do mundo dos corruptos e não leve, de tabela, o último fio de esperança da vida dos brasileiros, que é a eficácia da Justiça.

Que os marimbondos espantem todos os ratos!