Depois de uma eleição em que partidos de centro foram vitoriosos e com escassas vitórias de candidatos para quem declarou apoio, o presidente Jair Bolsonaro vem intensificando conversas com líderes partidários a fim de encontrar uma legenda para se lançar à reeleição. Bolsonaro tem sido aconselhado a dialogar com partidos já estruturados e com recursos, inclusive do centrão, para escolher a nova casa. Porém, deputados da ala ideológica insistem para que ele volte ao PSL, de Luciano Bivar, e negociam com o partido uma reformulação para abrigar o presidente.
Por Naira Trindade, Natália Portinari, Guilherme Caetano e Bernardo Mello
A necessidade de reunir aliados em uma só legenda — a dispersão da eleição municipal mais recente foi vista como um fator responsável por derrotas — também apressou o passo das discussões. Aliados do governo listam como opções o PSL; o PSD, de Gilberto Kassab; o PP, do senador Ciro Nogueira; o PTB, de Roberto Jefferson; o Republicanos, presidido por Marcos Pereira; e o Patriota, de Adilson Barroso. A tendência, segundo auxiliares do governo, é que o chefe do Executivo evite se movimentar ou tenha agendas públicas com líderes partidários até passar a eleição das presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2021. Após a definição de forças nas duas casas, aí sim, ele faria sua escolha.
Nos últimos três meses, o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) tem negociado com a cúpula do PSL uma reformulação da legenda para transformá-la novamente na casa de Bolsonaro. Os deputados ideológicos preferem continuar na sigla pela qual foram eleitos, que detém o segundo maior fundo eleitoral — foram quase R$ 200 milhões neste ano — a terem de buscar abrigo em outra legenda sem recursos ou estrutura para se lançarem à reeleição em 2022.
A negociação envolveria escantear inimigos de Bolsonaro: os deputados federais Júnior Bozzella (SP), Joice Hasselmann (SP), Dayane Pimentel (BA) e Nereu Crispim (RS) e o senador Major Olimpio (SP).
Nas tratativas, alguns deputados pedem que Bivar entregue as chaves do partido a Bolsonaro, dando ao presidente controle sobre recursos e sobre quem ocupará diretórios estaduais. Nenhum dirigente, porém, do PSL ou de outras siglas grandes, se diz disposto a isso. As costuras passam por redistribuir comandos de diretórios estratégicos que recebem recursos para manter suas estruturas e impulsionar as candidaturas nos estados.
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Deputados bolsonaristas chegaram a pedir que a legenda mudasse de nome e passasse a se chamar Aliança, mas a ideia foi rejeitada.
A cúpula do PSL evita falar abertamente sobre as conversas com o governo antes das eleições da presidência da Câmara. A legenda, que se diz independente, trabalha para lançar Bivar como sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os deputados bolsonaristas, hoje suspensos do partido, perderam a esperança de criar o Aliança pelo Brasil no prazo estipulado por Bolsonaro, que vence em março, e buscam fazer as pazes com a cúpula do PSL.
Dirigentes da legenda, por outro lado, admitem que possa haver negociações no sentido de ajustar o partido para abrigar não só o presidente, mas também as alas ideológicas, conservadoras e também deputados da “velha política” que o partido quer filiar. A ideia é definir diretorias internas, com orçamentos definidos para cada grupo. Assim, o partido espera não reduzir de tamanho em 2022, já que o pleito municipal mostrou um enfraquecimento dos ideológicos nas urnas.
Caso opte por um partido alinhado ao Centrão, Bolsonaro terá ainda de afinar o discurso para tentar convencer a militância a aceitar o movimento de se associar à “velha política”, além de vencer a resistência de alguns líderes partidários.
A aliados, o deputado Marcos Pereira demonstrou resistência em abrigar no Republicanos os 20 deputados que acompanhariam Bolsonaro no ato da filiação, sob alegação de preferir ter o controle de uma bancada de 31 deputados do que perder o rumo com deputados insubordinados que não dialogariam com o restante da bancada.
Interlocutores do presidente no meio evangélico vêm aconselhando Bolsonaro a evitar o Republicanos pela ligação da legenda com Igreja Universal do Reino de Deus, o que poderia afastá-lo de outras denominações religiosas.
Já o presidente do PSD, Gilberto Kassab, negou a possibilidade de Bolsonaro se filiar à sigla, frisando, porém, ter pautas convergentes com o governo. A filiação é defendida por integrantes do do Planalto.
— Temos respeito pelo governo Bolsonaro, mas o PSD é um partido de centro. Não está no estatuto ou nos objetivos do partido ser um partido de direita. Esse é o motivo pelo qual Bolsonaro não vai se filiar ao PSD — disse Kassab.
Um aliado do presidente integrante da bancada evangélica na Câmara defende um retorno ao PP, partido do qual Bolsonaro se desfiliou em 2016 citando o envolvimento de lideranças em esquemas de corrupção. Um dos motivos é a aliança construída com o deputado Arthur Lira (PP-AL), tido como “fiador da governabilidade” no momento. A avaliação é que a legenda permitiria ao presidente garantir em 2022 apoios de outras siglas do centrão, como o PL.